Rodrigo Maia critica “marcha da morte” para o STF: pressão contra isolamento social é ato ‘quase criminoso’

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Pressão contra isolamento social é ato ‘quase criminoso’, diz Rodrigo Maia

À GloboNews, presidente da Câmara disse que ‘salvar vidas vai estar sempre em primeiro lugar’. Nesta quinta, presidente Bolsonaro defendeu no STF retomada das atividades econômicas.

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Por Gustavo Garcia, G1 — Brasília

07/05/2020 22h30 Atualizado há uma hora

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta quinta-feira (7), em entrevista à GloboNews, que entende a preocupação com a retomada das atividades econômicas, mas que a pressão com esse objetivo neste momento é um ato “quase criminoso”.

Nesta quinta-feira (7), o Brasil ultrapassou a marca de 9 mil mortos em razão do coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde. No total, segundo os números oficiais, há 135.106 casos confirmados de covid-19, doença provocada pelo vírus. O isolamento social, ainda que à custa da atividade econômica, é a principal medida preconizada por especialistas e pela Organização Mundial de Saúde para conter o avanço da pandemia de coronavírus.

O presidente Jair Bolsonaro levou um grupo de empresários na manhã desta quinta ao Supremo Tribunal Federal (STF) para defender perante o ministro Dias Toffoli, presidente da Corte, a retomada da economia em razão do aumento do desemprego.

Para o presidente da Câmara, a flexibilização do isolamento social não deve ser adotada em razão do aumento do desemprego, mas baseada em decisão técnica. Ele afirmou que salvar vidas “vai estar sempre em primeiro lugar”.

“O que a gente não pode é o setor produtivo muitas vezes – claro, eu entendo a preocupação – acabar gerando uma pressão que vai gerar um aumento maior do número de mortes no Brasil. Isso não é correto, é quase criminoso”, declarou Rodrigo Maia.

Durante a entrevista, Maia foi questionado sobre que tipo de atitude espera de governantes em relação às medidas de isolamento social – se atitudes mais rigorosas ou flexibilização.

“Eu prefiro aquele [governante] que tome a decisão de forma racional e que não aceite pressões de nenhum setor. Então, uma decisão de flexibilização que não estiver relacionada à pressão de algum setor da economia, mas da decisão técnica-científica”, afirmou Rodrigo Maia.

Bolsonaro no STF

Rodrigo Maia foi questionado sobre o que achou da visita de última hora que Bolsonaro fez, acompanhado de empresários, ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.

Mais cedo, nesta quinta-feira, o presidente da República, Jair Bolsonaro, defendeu a retomada das atividades econômicas. Para ele, o comércio precisa ser reaberto e as pessoas devem voltar a trabalhar.

“Chega a um ponto em que você não recupera a economia. E sem economia a sua vida vai para o espaço”, disse Bolsonaro no final da tarde, ao retornar para a residência oficial do Palácio da Alvorada.

Para o deputado, a atitude foi uma “sinalização equivocada” à sociedade brasileira. O parlamentar acrescentou que – se Bolsonaro estivesse acompanhado do ministro da Saúde, Nelson Teich, em vez de ladeado por empresários – a visita passaria mais tranquilidade.

“O ministro já mostra a sua preocupação, porque é um quadro da área [da saúde], da necessidade de, em muitas áreas, a gente ter uma situação mais radical do isolamento”, afirmou.

Ele declarou que, se Bolsonaro quisesse visitá-lo na Câmara, seria recebido ou sozinho ou, no máximo, acompanhado de três ou quatro empresários, para evitar aglomeração.

O presidente da Câmara também disse entender que o Ministério da Saúde deve ter uma “responsabilidade de coordenação” do processo de enfrentamento ao novo coronavírus.

Maia afirmou que, caso tivesse testado positivo para Covid-19, divulgaria o resultado do exame. “Não teria problema em divulgar, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, divulgou na mesma hora”, disse.

Jair Bolsonaro tem se negado a publicizar o resultado do seu teste. Uma decisão judicial determina que a Advocacia-Geral da União divulgue os laudos do exame do presidente para o novo coronavírus.

Congelamento de salários

Nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que vetará trecho do projeto de ajuda aos estados que abre a possibilidade de reajustes salariais de servidores.

Questionado sobre o tema, Maia afirmou que, se Bolsonaro vetar o trecho, espera que o Congresso mantenha o veto. Para ele, vetar esse ponto gera uma sinalização à sociedade de que não haverá aumento de gastos, ainda que não produza muitos impactos na economia.

“É óbvio que é uma questão simbólica importante. Não é possível que a gente transferindo R$ 60 bilhões alguém ainda vai pensar, em algum município ou estado, em gerar algum tipo de aumento. Seria uma incoerência, uma irresponsabilidade. É mais uma questão pedagógica”, disse.

“Congelar salário e falar que está economizando, eu não vejo economia nisso. Eu vejo uma sinalização clara de um respeito mínimo, pelos estados e municípios, pelo respeito a não gerar nenhum tipo de despesa de pessoal em um momento em que precisam de recursos do governo federal […]. Eu espero que a gente consiga manter o veto, porque não é uma questão que vai gerar economia, mas vai gerar uma sinalização para a sociedade mínima de que não haverá nenhum tipo de irresponsabilidade”, completou Maia.

Ele também declarou que tem defendido, desde o início da pandemia, uma redução percentual dos salários mais altos do funcionalismo e que isso deverá ser discutido no pós-coronavírus.

Outros pontos

Em outros momentos da entrevista, Maia disse que os parlamentares sabem que, caso seja necessário, terão de ampliar o auxílio emergencial e as medidas de preservação de empregos que já foram adotadas.

O presidente da Câmara também negou que tenha conversado com ministros da ala militar sobre segurar pedido de impeachment. E acrescentou que um processo de afastamento “não é uma coisa simples”. Para ele um pedido de impedimento não deve estar na pauta nem agora nem nos próximos anos. “É melhor construir pontes”, disse.

Ele afirmou ainda que não deve ser comentarista dos conflitos do governo, ao ser indagado sobre a diminuição no tom das críticas a Jair Bolsonaro.

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