Demorei um pouco para fazer esta análise porque o Datafolha só publicou hoje os dados estratificados por renda e escolaridade, que são os meus preferidos.
Então vamos lá. Ao fim do post, deixo o link para as fontes usadas.
A aprovação geral de Bolsonaro se mantém estável desde abril do ano passado, com 33% de ótimo e bom e 38% de ruim e péssimo.
Mas houve mudanças expressivas na estrutura do eleitorado do presidente. Ele ganhou apoio nas classes de menor renda (menos de 2 salários por família, e de 2 a 5 salários), e menos instruídas (até ensino fundamental), e perdeu apoio nas faixas de renda média e mais instruídas.
É importante ficar atento para três fatores:
- Nas classes de renda abaixo de 2 salários, Bolsonaro tem 30% de bom e ótimo, porém quase 40% de ruim e péssimo.
- Entre famílias com renda de 2 a 5 salários, embora tenha havido uma leve melhora da aprovação, o crescimento da rejeição foi maior: em abril de 2019, essa era a faixa que menos tinha rejeição a Bolsonaro, apenas 27%; hoje Bolsonaro tem 37% de rejeição nesse segmento.
- Houve forte crescimento da aprovação de Bolsonaro entre as pessoas menos instruídas, com escolaridade até o ensino fundamental; entre estes, o índice de ótimo/bom de Bolsonaro atingiu 37%, contra 29% desde abril de 2019; e a rejeição caiu de 39% em dezembro para 35% em abril.
Essas foram as boas notícias para Bolsonaro. Agora vamos às más (e boas para a oposição).
A aprovação de Bolsonaro junto às classes mais instruídas e de renda média continua a se deteriorar.
A pesquisa mostra que a rejeição de Bolsonaro junto às pessoas com ensino médio subiu para 36%. Essa era a faixa de escolaridade que menos rejeitava o presidente nos primeiros meses de governo. A aprovação positiva, por sua vez, está em 31%.
Entre eleitores com ensino superior, a rejeição a Bolsonaro explodiu para 47%, ao passo que sua aprovação caiu para o menor nível desde o início do governo, 31%.
A rejeição a Bolsonaro entre famílias de renda média, entre 5 e 10 salários, subiu para 40%. Este era o setor social que mais apoiava Bolsonaro no início de seu governo, e formava o núcleo duro de sua campanha eleitoral. Ele ainda tem o apoio de 33% desse eleitorado, contra 44% em dezembro do ano passado.
Entre famílias de renda acima de 10 salários, Bolsonaro também já teve um desempenho melhor. Em julho de 2019, por exemplo, chegou a ter 52% de aprovação positiva nessa faixa. Hoje tem 40%, menor índice desde o início do governo, e 42% de negativo.
Conclusão: Bolsonaro ainda desfruta da força inercial que o levou à vitória eleitoral. Entretanto, a deterioração entre os eleitores mais instruídos é um sinal de que a “gravidade” já começa a fazer efeito sobre o presidente: a classe média é sempre um termômetro importante para saber para onde sopram os ventos, porque ela consome antes as informações que, mais tarde, chegam à população mais pobre. Aparentemente, Bolsonaro é beneficiado também por um fenômeno comum em momentos de guerra. O aumento da insegurança da população a leva a confiar mais no presidente, com esperança de receber auxílios. O pobre e o brasileiro pouco instruído ficam inseguros de responder à pesquisa que acham o governo ruim ou péssimo se contam, desesperadamente, com ajuda do governo para sobreviver nos próximos meses.
Além disso, é provável que a ajuda de até R$ 1.200 por família (incluindo mãe solteira) já comece a fazer efeito sobre a aprovação do presidente junto aos mais pobres.
O Bolsa Família jamais teve esse tamanho, de maneira que para as famílias mais pobres a crise do coronavírus, ironicamente, irá promover um forte salto de renda ao longo dos próximos meses.
Mas tudo isso é provisório, a menos que Bolsonaro, até para preservar esse apoio popular, convença Paulo Guedes a manter a ajuda emergencial por tempo indeterminado.
Os desdobramentos do Covid-19, que ainda estão em fase inicial nas periferias do Brasil, também devem trazer alguma dificuldade para Bolsonaro, em função de suas declarações sempre muito desastradas sobre o tema.
Relatórios da Datafolha usados:
Abr/19
Jul/19
Dez/19
Abr/20