No dia em que o Brasil ultrapassou a China em números oficiais de mortos por Covid-19 (5.017 e 4.637, respectivamente), o presidente Jair Bolsonaro falou o seguinte, ao ser questionado sobre os números:
E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.
Para ajudar o presidente, listamos o que ele poderia fazer para diminuir o número de mortes:
- Defender o isolamento social radical: é a recomendação da esmagadora maioria da comunidade científica e os países que o estão adotando vem tendo sucesso no enfrentamento da pandemia (vide Argentina).
- Garantir uma renda generosa para que as pessoas possam ficar sem trabalhar: requisito básico para que a quarentena seja possível.
- Direcionar recursos em peso para a compra e aplicação de testes em larga escala: medida que obteve sucesso no combate à pandemia (vide Coreia do Sul).
- Direcionar recursos em peso para a construção de hospitais de campanha por todo o país.
- Direcionar recursos em peso para a compra ou produção de respiradores.
- Direcionar recursos em peso para a aquisição ou produção de equipamentos adequados de proteção para os trabalhadores da área da saúde.
Não diga o presidente que não há dinheiro, pois: para os bancos foram repassados 1,2 trilhão (o equivalente a 16,7% do PIB) logo no início da crise; pode-se usar as reservas internacionais, das quais foram retirados 23,2 bilhões de dólares, desde que Bolsonaro assumiu até o dia 11/03/20, para jogar no mercado de câmbio e tentar (sem sucesso) conter a alta do dólar; em último caso, o governo deveria emitir moeda para financiar a quarentena da população. Eventual dívida se paga depois; vidas humanas perdidas não podem ser recuperadas.
São medidas razoáveis, que muitos governantes do mundo estão tomando. Ainda assim, talvez estejamos pedindo demais para um psicopata como Bolsonaro, que trata mortes humanas com uma naturalidade assombrosa. Sendo assim, listamos também algumas omissões e uma ação, estas mais mais ao alcance das capacidades do presidente, que, se as tivesse adotado, certamente minimizaria a tragédia:
- Não menosprezar a pandemia.
- Não incentivar e participar de aglomerações.
- Não fazer pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão incentivando as pessoas a irem às ruas e chamando a Covid-19 de ‘gripezinha’ ou ‘resfriadinho’.
- Não propagar o discurso de que as pessoas precisam trabalhar em meio a uma pandemia.
- Não esconder que é obrigação do governo garantir a sobrevivência de todos em uma situação como essa.
- Não transformar o combate à pandemia em uma briga política ao criticar constantemente governadores e prefeitos que adotaram medidas de isolamento social.
- Impedir que seu filho Eduardo e seus ministros das Relações Exteriores e da Educação provocassem uma crise diplomática com a China, o que provavelmente dificultou a compra de respiradores e outros equipamentos dos chineses.
Não precisamos de milagre da sua parte, presidente. Apenas bom senso e o mínimo de empatia salvariam milhares de vidas.
A postura de Bolsonaro é o fator que explica a queda no apoio ao isolamento social, como apontou pesquisa do Datafolha. Exatamente quando a curva de mortes começa a disparar os nossos governantes estão discutindo ou afrouxando as medidas de isolamento.
O responsável por esse desastre humanitário é o comandante do país, um genocida chamado Jair Bolsonaro.