No blog Valor Adicionado
28 DE ABRIL DE 2020
Por Dr. Diogo Ferraz
Capital paulista é a única do Sudeste além de capitais do Norte e Nordeste que já atingiram índice igual a 1
O COVID-Index mensura a utilização da estrutura hospitalar das regiões brasileiras – capitais, estados e microrregiões. Quanto mais perto de 1, ele mostra que a estrutura hospitalar de uma região está próxima do seu limite ou do colapso. Neste momento o Brasil tem 5 capitais próximas do sistema de saúde entrar em colapso ou já estão colapsadas: Manaus, Fortaleza, São Paulo, Macapá e São Luís (luz vermelha). O gráfico exibe que Rio de Janeiro, Recife e Belém estão perto de uma saturação do sistema (luz amarela). O ranking completo pode ser encontrado neste link, assim como a metodologia do trabalho.
Interpretação: O COVID-Index varia entre 0 e 1. Quando mais próximo de 1, pior é o desempenho, indicando que a região está próxima de entrar ou já está em colapso. E quanto mais próximo de 0, indica que a região está numa posição relativamente melhor, embora possa já ter casos confirmados e óbitos.
O índice foi construído a partir de um modelo matemático não-paramétrico alimentado por vários indicadores, como:
- Quantidade de leitos clínicos
- Quantidade de respiradores
- Quantidade de médicos (clínicos, infectologistas e pneumologistas)
- Número de casos confirmados de coronavirus
- Número de óbitos por coronavirus
- Variáveis do modelo
O COVID-Index é construído por meio de dados oficiais do DATASUS do Ministério da Saúde. Os casos confirmados e o número de mortes pelo novo coronavírus dos municípios são extraídos da base de dados Brasil.io, que coleta informações das Secretarias Estaduais de Saúde. Os dados das capitais, que alimentam o nosso modelo, estão abertos abaixo para consulta pública:
A tabela a seguir faz uma análise de sensibilidade com as informações que alimentam o nosso modelo matemático. Nós dividimos o número de casos de Covid-19 confirmados pelo número de respiradores e também pelo número de médicos (clínicos, infectologistas e pneumologistas) e pelo total de leitos clínicos das capitais. A tabela abaixo mostra que o ranking do Covid-Index está aderente com cada uma das variáveis-insumo que alimentam o modelo.
Subnotificação atrapalha
Ao detalhar os dados é possível observar as fragilidades ou não das capitais brasileiras quanto ao número de respiradores, médicos e leitos em relação ao número de pessoas contaminadas. O leitor atento poderá notar alguma discrepância entre as capitais com maior (ou menor) nota no Covid-Index e a situação retratada diariamente na grande mídia. Isso ocorre principalmente devido à subnotificação, que deve ser elevada em algumas capitais como Belém. O número de contaminados oficialmente confirmados por leito clínico em Belém ainda é relativamente baixo (vide tabela acima), por isso, nosso indicador indica Belém na oitava posição enquanto a realidade nesta capital parece ser pior.
Isso deixa claro que o Governo precisa aumentar o número de testes e divulgar as informações mais rapidamente para que os cientistas possam realizar estudos e propor medidas que minimizem os impactos do novo coronavírus.
A seguir, o COVID-Index também foi calculado para os Estados do Brasil. Por Unidades da Federação, a estrutura hospitalar de Amazonas, Ceará, Amapá, São Paulo, Pernambuco e Rio de Janeiro estão próximas de entrar em colapso ou já estão colapsadas (cores vermelhas do Mapa). Esses são os estados que requerem altíssima atenção, pois os pacientes mais graves podem não encontrar leitos e tratamento adequados disponíveis.
A pandemia do coronavírus tem desafiado a alocação de recursos e políticas de saúde em todo o mundo. As autoridades públicas têm o desafio de destinar aparelhos respiradores, leitos e prover profissionais de saúde para as regiões com mais casos confirmados e pacientes mais graves que precisam de internação. Entretanto, a infraestrutura hospitalar (médicos, leitos e respiradores) pode não ser suficiente para atender a elevada demanda causada pela pandemia. O ranking do Covid-Index é uma ferramenta que subsidia o Governo na (re)alocação dos recursos necessários para combater a pandemia com maior celeridade. Dessa forma, o indicador pode subsidiar as autoridades brasileiras a tomar medidas emergenciais para evitar ou atenuar o colapso do sistema de saúde.
Este indicador será atualizado regularmente e os resultados publicados neste blog, na página do facebook e no twitter do prof. Diogo Ferraz (@ProfDFerraz). Ver aqui o ranking completo das microrregiões e demais recortes regionais, assim como a metodologia do trabalho à medida que os dados forem sendo atualizados.
* doutor em Engenharia pela USP; Dr. Enzo Barberio Mariano, engenheiro e professor na Unesp; e Dr. Paulo Morceiro, doutor em Economia pela USP.