COVID-Index avalia as regiões do Brasil próximas de entrar em colapso
16 DE ABRIL DE 2020
* Escrito por Dr. Diogo Ferraz, doutor em Engenharia pela USP; Dr. Enzo Barberio Mariano, engenheiro e professor na Unesp; e Dr. Paulo Morceiro, doutor em Economia pela USP.
O COVID-Index “Índice de Utilização da Estrutura Hospitalar” aponta que 55 microrregiões têm capacidade de utilização elevada da estrutura hospitalar em relação ao número de óbitos por coronavírus no Brasil. Pesquisadores paulistas desenvolveram o COVID-Index para avaliar a utilização da estrutura física (respiradores e leitos clínicos) e capital humano (médicos e enfermeiros) pelo número de óbitos causados pelo novo coronavírus. É preciso compreender a real necessidade da estrutura do sistema de saúde para combater a pandemia. Por exemplo, de acordo com os dados do Ministério da Saúde (MS, 2020), 182 municípios brasileiros tinham pelo menos um caso de coronavírus até o dia 08 de abril de 2020, mas não possuíam respiradores para utilização.
A pandemia do coronavírus tem desafiado a alocação de recursos e políticas de saúde em todo o mundo. As autoridades públicas têm o desafio de destinar aparelhos respiradores, leitos e prover profissionais de saúde para as regiões com mais casos confirmados e pacientes mais graves que precisam de internação. Entretanto, a infraestrutura hospitalar (médicos e respiradores) pode não ser suficiente para atender a elevada demanda causada pela pandemia. Para avaliar quais regiões estão próximas do sistema de saúde entrar em colapso, nós criamos um indicador que aponte quando a estrutura hospitalar está próxima do limite. O COVID-Index combina aspectos sobre infraestrutura física (leitos hospitalares e equipamentos) e profissionais de saúde, o que facilita a interpretação e utilização pelos formuladores de políticas. A evolução temporal do índice permite que os recursos necessários para combater a pandemia sejam (re)alocados por regiões com maior celeridade. Dessa forma, o indicador pode subsidiar as autoridades brasileiras a tomar medidas emergenciais para evitar o colapso do sistema de saúde.
Mapa: COVID-Index por Unidades Federativas (0 = melhor situação; 1 = pior situação que indica próxima do colapso)
Os resultados demonstram que, em média, dentre as 27 unidades federativas do Brasil, os cinco estados com os piores indicadores estão na região Nordeste ou Norte (Paraíba, Piauí, Sergipe, Acre e Pernambuco). Além disso, embora os estados de São Paulo e Rio de Janeiro apresentem quantidade de respiradores superior à média brasileira, o COVID-Index aponta que estas regiões ocupam, respectivamente, a 10º e a 12º posições no ranking, o que pode ser explicado pela concentração do número de casos e pelo maior número de óbitos. A análise das 415 microrregiões mostra que Brasília, Campos dos Goytacazes, Belo Horizonte, Cuiabá e Caxias do Sul obtiveram os melhores indicadores. Por exemplo, a capital mato-grossense possui apenas 86 casos confirmados de coronavírus, 804 respiradores e nenhuma morte até o momento. Em seguida estão as microrregiões Curitiba (2º lugar) e Belo Horizonte (3º lugar). As microrregiões com os piores indicadores foram: Brejo Pernambucano, Chapada do Araripe, Serra de Santana, Caririaçu e Aripuanã. Por exemplo, embora a microrregião de Brejo Pernambucano tenha apresentado apenas um caso e um óbito, os dados do Datasus (2020) mostram que a infraestrutura hospitalar da região é precária. Por outro lado, a microrregião de São Paulo obteve a 138º posição, pois apresenta 8.456 casos e 586 mortes, mas conta com boa infraestrutura hospitalar em relação à quantidade de respiradores (8.504), leitos clínicos (32.986), médicos (9.803) e enfermeiros (23.757). O ranking completo pode ser encontrado neste link, assim como a metodologia do trabalho.
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