Por Jéssica Otoboni e Rudá Moreira, da CNN, em São Paulo e em Brasília
14 de Abril de 2020 às 11:21 | Atualizado 14 de Abril de 2020 às 12:03
CNN Brasil — O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), disse nesta terça-feira (14) que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), “cruzou a linha da bola” e “não precisava ter dito certas coisas” na entrevista que deu à TV Globo no domingo (12). Na ocasião, o ministro afirmou que a falta de um direcionamento comum entre ministério e governo sobre o combate à pandemia do novo coronavírus deixa o brasileiro confuso. “É uma falta grave”, ressaltou o vice.
“Temos que buscar dados concretos para transmitir à população a real situação a ser enfrentada”, disse Mourão em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo em webinar. “Julgo que nossa curva [de contágio do coronavírus] tem sido controlada, principalmente quando comparada com outros países do mundo.”
O vice defendeu o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e destacou a preocupação do mandatário com a população desassistida, que será a mais prejudicada pela pandemia, segundo Mourão.
Ainda com relação à crise política, o vice-presidente disse que o “vírus está sendo politizado” no Brasil e “até em outros países”. “Aqui, é fruto da polarização que existe desde a campanha eleitoral de 2018”, afirmou.
Mourão evitou comentar a relação conturbada entre o presidente e governadores sobre as medidas para conter a disseminação da COVID-19. O vice se limitou a dizer que não critica “governador A ou B”.
Questionado sobre o fato de Mandetta ter perdido o apoio da ala militar do governo, Mourão ressaltou que “o trabalho técnico realizado está sendo considerado muito bom”. “Eu sou extremamente crítico a essa figura da ala militar. Não vejo que essa ala militar exista. O que existe são ministros que são militares.”
Sobre a permanência de Mandetta no Ministério da Saúde, Mourão afirmou que há muita especulação sobre o assunto e isso é uma decisão pessoal do presidente. Contudo, destacou que ele “não deve trocar o ministro neste momento” pois não seria favorável, e disse que o melhor a fazer seria avaliar a situação, o trabalho de Mandetta e chamar para conversar, “discutir internamente e não pela imprensa”.
Mourão não admitiu que houve, de fato, uma conversa sobre a saída do ministro durante a reunião ministerial da semana passada. “O presidente abriu a reunião colocando as preocupações dele em todos os ministérios […]. Mandetta apresentou as ponderações dele, mas tudo dentro de um nível de serenidade e de lealdade”, explicou. “Não houve entrevero.”
Pandemia no Brasil
Sobre a forma com a qual o Brasil está enfrentando a pandemia, Mourão destacou a necessidade de buscar um equilíbrio e disse que, neste momento, há “três curvas perigosas”: da doença em si, do PIB (Produto Interno Bruto) e do emprego. “Hoje será apresentado o planejamento para retomar a atividade econômica mais forte assim que passarmos o pico da doença”, afirmou.
Já sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, Mourão lembrou que quando passou uma temporada em Angola, tomou doses diárias do medicamento por causa da malária. Para ele, se consegue salvar algumas vidas, “acha que vale” o uso da substância.
Ele também defendeu o que chama de “isolamento inteligente” e ressaltou a importância da capacidade de testagem de pacientes.
Com relação aos efeitos do surto da doença na economia e, principalmente, no pagamento de funcionários públicos, Mourão disse que a discussão para um congelamento de salários existe há algum tempo, mas a Câmara dos Deputados optou por não incluir a medida no Plano Mansueto. “Se não tiver dinheiro, como vai pagar os salários? Seria melhor ter um recuo agora para depois voltar à normalidade.”
Para Mourão, usar o fundo eleitoral e partidário resolve apenas parte da crise econômica. “Essa questão está politizada. Acredito que os fundos devem ser deixados lá quietos”, disse.