Artigo assinado por três professores, dois da FGV e um da UNB, publicado hoje no Estadão, traz gráficos e uma tese muito interessantes: o instinto de sobrevivência está diluindo as diferenças entre os pólos políticos.
Esquerda e direita repudiam a postura do presidente Jair Bolsonaro diante da crise do coronavírus e se unem em defesa de ações de isolamento social.
Os gráficos, baseados em pesquisas recentes, mostram que eleitores de ambos os espectros ideológicos, estão se distanciando do presidente Bolsonaro quanto o tema é o coronavírus.
Como não existe vácuo de poder, está havendo um transferência de prestígio para governadores e prefeitos que adotam as recomendações das organizações médicas.
Abaixo, o trecho final do artigo, com a conclusão:
“(…) O erro de cálculo de Bolsonaro, portanto, pode ter sido não perceber que a sua estratégia de presidencialismo plebiscitário polarizado tem limites claros quando o que está em jogo é a vida das pessoas. As pessoas têm um medo intrínseco da morte. Ou seja, enquanto Bolsonaro “esticava a corda” da polarização política em assuntos relacionados, por exemplo, a meio ambiente, gênero, minorias, política externa, educação e cultura, os seus eleitores de centro-direita e direita estavam dispostos a continuar a apoiá-lo, ainda que por razões pragmáticas.
Entretanto, quando Bolsonaro foi para o extremo, se posicionando contra a política de isolamento social, com o objetivo de mitigar as suas consequências econômicas, os respondentes interpretaram que tal posicionamento oferecia riscos às suas próprias vidas e a de entes queridos.
Ainda é cedo para saber se essa quebra é temporária ou definitiva. Mas a lição que fica é que a vida é inegociável para a grande maioria das pessoas, incluindo uma parcela considerável dos próprios eleitores de Bolsonaro. A vida das pessoas não comporta polarização e quem brinca com a morte corre o risco de morrer politicamente sozinho.”
Os gráficos mostrados no artigo:
Os professores que assinam o artigo são:
- CARLOS PEREIRA, PROFESSOR TITULAR, FGV EBAPE, RIO DE JANEIRO;
- AMANDA MEDEIROS, PROFESSORA, FGV EBAPE, RIO DE JANEIRO;
- FREDERICO BERTHOLINI, PROFESSOR ASSISTENTE, DEP. CIÊNCIA POLÍTICA, UNB