No Vox
(original em inglês; tradução: Miguel do Rosário)
As evidências da eficácia da hidroxicloroquina no tratamento do Covid-19 ainda são frágeis
Por que os especialistas dizem que precisamos de ensaios clínicos antes de usar o medicamento para tratar o coronavírus.
By Umair Irfan Apr 7, 2020
Na pressa de tratar as centenas de milhares de pessoas doentes com o coronavírus Covid-19, muitos – incluindo o presidente Trump – elogiaram a droga hidroxicloroquina anti-malária. Isso levou à escassez da droga em todo o país.
Mas os pesquisadores sabem pouco sobre sua eficácia contra a doença porque estudos científicos rigorosos ainda não foram realizados.
“Os dados são realmente apenas, na melhor das hipóteses, sugestivos”, disse Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, ao Face the Nation da CBS em 5 de abril. “Houve casos que mostram que pode haver um efeito, e há outros para mostrar que não há efeito. Então, acho que, em termos de ciência, não acho que poderíamos dizer definitivamente que funciona.”
No entanto, como o Covid-19 se espalha por todo o país, a necessidade de um tratamento eficaz está aumentando. E enquanto os hospitais lutam com a falta de equipamentos e pessoal, os profissionais de saúde estão ficando sem opções de como ajudar os infectados.
Isso está aumentando a pressão para implantar um medicamento como a hidroxicloroquina durante a pandemia. No entanto, sem ensaios clínicos robustos para verificar seu potencial, o tratamento poderia causar mais danos do que a própria doença.
Como podemos descobrir se a hidroxicloroquina é um bom tratamento para o Covid-19
Os ensaios clínicos são a principal maneira dos pesquisadores descobrirem se um medicamento funciona – e se o uso produz efeitos colaterais potencialmente prejudiciais. Em receitas individuais, os médicos podem redirecionar um medicamento como a hidroxicloroquina, liberada para tratar outras doenças, prescrevendo-o para uso “off label” (ou seja, uso do medicamento para fins diferentes daqueles para os quais ele foi aprovado).
Mas mesmo os medicamentos previamente aprovados para tratar uma doença precisam de ensaios clínicos antes de poderem ser usados como um tratamento padrão generalizado para outra condição. O reaproveitamento de medicamentos, liberados para um objetivo, para um outro diferente, também tem uma história trágica de danos graves aos pacientes.
Os pesquisadores também não sabem se a hidroxicloroquina é realmente boa na luta contra o Covid-19. A maioria dos pacientes infectados com a doença se recupera sem tratamento. Portanto, os cientistas precisam distinguir se a droga está realmente ajudando os pacientes a se recuperarem mais rapidamente ou se estão melhorando por conta própria, certificando-se de que o que estão vendo não seja por acaso.
As pequenas amostras de estudos e anedotas sobre a hidroxicloroquina que surgiram até agora não eliminam essa hipótese.
O padrão-ouro para descobrir causa e efeito é um estudo controlado randomizado, duplo-cego. Aqui, os pacientes são classificados aleatoriamente entre: 1) aqueles que recebem o tratamento, 2) aqueles no grupo controle (ou seja, não recebem o tratamento), e/ou 3) aqueles que recebem um placebo. Para fazer um estudo “duplo-cego”, não apenas os pacientes não sabem se estão recebendo o tratamento ativo, como também as pessoas que o administram (para evitar um viés não intencional). Esses ensaios, quando grandes o suficiente, podem produzir resultados robustos e superar vieses que surgem em amostras menores, como uma certa demografia etária sobre-representada no grupo de estudo.
Atualmente, existem estudos maiores em andamento para resolver questões sobre a eficácia da hidroxicloroquina, alguns recrutando milhares de pacientes.
Tais ensaios são especialmente importantes devido à escala da pandemia de Covid-19. É provável que milhões de pessoas contraiam o vírus e, sem tratamento generalizado, muitos deles sofrerão e morrerão. Por outro lado, um tratamento como a hidroxicloroquina pode causar mais danos do que benefícios se prescrito a pacientes sem testes adequados para ver quais circunstâncias fazem mais sentido para usar o medicamento.
Porém, ensaios clínicos randomizados são caros e consomem muito tempo no contexto de uma pandemia crescente. Não é de surpreender que as pessoas procurem qualquer informação que já esteja disponível.
O que sabemos atualmente sobre o uso da hidroxicloroquina no Covid-19
O medicamento anti-malária hidroxicloroquina, vendido sob a marca Plaquenil, também é prescrito como um medicamento anti-inflamatório para condições como artrite e lúpus. É um derivado de outro medicamento anti-malária, a cloroquina.
A hidroxicloroquina oferece perspectivas atraentes, porque já foi testada em seres humanos e está disponível em uma forma genérica de baixo custo. Médicos em vários países, incluindo Estados Unidos, França, China e Coréia do Sul, relataram sucesso no tratamento de pacientes Covid-19 com hidroxicloroquina, às vezes associados com o antibiótico azitromicina.
Mas essas são histórias que não oferecem muitas informações sobre a eficácia do medicamento em uma população mais ampla.
Um estudo em laboratório da hidroxicloroquina mostrou que poderia impedir que o SARS-CoV-2, o vírus por trás do Covid-19, entrasse nas células de uma “placa de Petri” (um frasco em forma de prato usado para se cultivar células). Embora ele mostre um mecanismo plausível para a droga, os efeitos nas células num frasco podem ser diferentes dos efeitos em células de pessoas vivas.
Testes em humanos com hidroxicloroquina, por outro lado, até agora produziram resultados mistos. Um pequeno estudo realizado por pesquisadores na França descobriu que o medicamento poderia eliminar a infecção em alguns dias. Mas a amostra do estudo incluiu apenas 36 pacientes e o estudo não foi randomizado, o que significa que os administradores estavam escolhendo deliberadamente quais pacientes receberam o tratamento, potencialmente distorcendo os resultados.
Outros estudos têm sido ainda menos promissores. Um estudo na China descobriu que a hidroxicloroquina não era melhor do que os tratamentos médicos padrão sem a droga. Este estudo também foi pequeno, 30 pacientes, mas o tratamento foi randomizado. Outro estudo na França, entre 11 pacientes, descobriu que a hidroxicloroquina era, na melhor das hipóteses, ineficaz, com um paciente morrendo, dois transferidos para uma unidade de terapia intensiva e um paciente que experimentou um problema cardíaco perigoso e teve o tratamento com hidroxicloroquina interrompido precocemente.
Na Suécia, alguns hospitais deixaram de oferecer o medicamento depois que alguns pacientes relataram convulsões e visão embaçada.
Os efeitos colaterais listados da hidroxicloroquina são muitos e bem conhecidos. A Food and Drug Administration (FDA) relatou problemas como danos irreversíveis da retina, arritmias cardíacas, fraqueza muscular e uma queda acentuada no açúcar no sangue. Também existem efeitos psiquiátricos, incluindo insônia, pesadelos, alucinações e desejos suicidas. O medicamento também pode ter interações prejudiciais com medicamentos usados para tratar diabetes, epilepsia e problemas cardíacos.
Esses efeitos colaterais são um grande motivo pelo qual a Organização Mundial da Saúde não recomenda mais a hidroxicloroquina como tratamento de rotina para a malária.
Alguns profissionais de saúde têm acumulado hidroxicloroquina como um meio de prevenir a doença. Vários pacientes que precisam do medicamento para usos aprovados relataram problemas para obtê-lo. Mas não há evidências de que o medicamento funcione como profilático para o Covid-19.
Algumas das regras para medicamentos como a hidroxicloroquina foram agora relaxadas para permitir que os médicos experimentem tratamentos para pacientes em extrema necessidade durante a pandemia.
O FDA concedeu autorização de uso emergencial de hidroxicloroquina e cloroquina para combater o Covid-19. Porém, a expansão do uso desses medicamentos para pacientes doentes, mas não críticos, ainda merece testes adicionais devido aos possíveis efeitos colaterais.
Pressão alta e diabetes, por exemplo, já aumentam a probabilidade de os infectados sofrerem severamente com o Covid-19. Portanto, um tratamento como a hidroxicloroquina pode piorar essas condições subjacentes ou resultar em uma interação perigosa com os medicamentos usados para tratar essas condições.
Mais de 50 ensaios clínicos para o medicamento estão agora em andamento em todo o mundo. Mas, embora os ensaios clínicos randomizados ajudem os profissionais de saúde a descobrir como implantar medicamentos com segurança, eles não garantem que o medicamento funcione para todos, nem eliminam completamente os riscos.
chichano goncalvez
10/04/2020 - 13h01
Esses presidentes irresponsaveis, analfabetos politicos, que nem o Trampozo e o Psicopata Brasileiro, falam um monte de bobagens ,e o que é pior muita gente vai atras e as consequencias,, todo mundo já sabe.
Hudson
10/04/2020 - 12h44
Não serve nem pra malária!!!
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Esses efeitos colaterais são um grande motivo pelo qual a Organização Mundial da Saúde não recomenda mais a hidroxicloroquina como tratamento de rotina para a malária.
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