General do Exército: a hora é de Keynes, não de Hayek

Roosevelt assinando o New Deal

O site Defesanet, que é uma espécie de porta-voz não oficial das opiniões políticas das Forças Armadas, publicou hoje um artigo muito emblemático do general Santa Rosa, onde ele afirma que:

“(…) a necessidade da hora faz o pensamento de John Maynard Keynes prevalecer sobre a doutrina de Friedrich von Hayek.

A política do New Deal, adotada corajosamente pelo governo Franklin D. Roosevelt, após a recessão de 1929, trouxe inovações interessantes para a matriz do capitalismo internacional, que merecem ser invocadas como fontes de inspiração”.

Alguém precisará lembrar às Forças Armadas, no entanto, que o New Deal foi marcado por uma reforma tributária radicalmente progressista, que incluía impostos pesadíssimos sobre a renda e o patrimônio.

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 Preparando o “day after”

Por Maynard Marques de Santa Rosa*

Defesanet — O efeito devastador da paralisação da economia, em consequência do coronavírus, terá um desfecho fatal inevitável. O componente social será o mais agudo, representado pela massa de milhões de trabalhadores desempregados, muitos famintos e todos insatisfeitos.

É hora de despertar para esta realidade os planejadores públicos de todos os níveis, com vistas a antecipar providências que possam atenuar a crise.

Em um cenário restrito, imposto pelas necessidades básicas de sobrevivência, não sobra espaço para divagações acadêmicas, nem para a aplicação de ideologias econômicas. Para maior probabilidade de acerto, deverá ser construída uma estratégia adequada ao enfrentamento do desafio, inspirada nas experiências bem-sucedidas do passado.

Embora o liberalismo se apresente como a melhor trajetória para a prosperidade das economias modernas, cabe ao Estado, nesta conjuntura de exceção, assumir o direcionamento dos esforços de recuperação da vitalidade econômica. Em outras palavras, a necessidade da hora faz o pensamento de John Maynard Keynes prevalecer sobre a doutrina de Friedrich von Hayek.

A política do New Deal, adotada corajosamente pelo governo Franklin D. Roosevelt, após a recessão de 1929, trouxe inovações interessantes para a matriz do capitalismo internacional, que merecem ser invocadas como fontes de inspiração.

Preciso é, no entanto, que o Poder Executivo recupere as suas legítimas atribuições, usurpadas pelas corporações após 1988, e passe a administrar o País de modo eficaz.

O Centro de Governo, testado pelos países mais desenvolvidos e proposto pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), precisa ser implantado antes mesmo de aprovada a proposta de adesão feita pelo Brasil. Nesse modelo, a Casa Civil da Presidência da República assume a gestão estratégica da agenda de governo, como núcleo central de coordenação e integração dos ministérios.

A autoridade suprema do Presidente da República fica preservada como última palavra das decisões governamentais, porém, livre das querelas administrativas, ganhando mais espaço para a dialética política.

A prioridade da agenda estratégica, nesta conjuntura, é a recuperação econômica, mas a sua implementação transcende as atribuições do ministério da Economia, pelas suas implicações sociais e de segurança.

Um enorme mutirão nacional precisa ser planejado para o “day after”, com uma agenda de grandes obras de infraestrutura capazes de absorver o máximo possível de mão-de-obra. Paralelamente, o país necessita realizar um mutirão legislativo, para recuperar o princípio da independência dos três poderes, a harmonia social e a segurança.

A crise, que não provocamos, mas não pudemos evitar e que dispersa as energias da nação, pode catalisar um benefício, se despertar uma aspiração essencial. A união de todos os brasileiros em favor do País, neste momento, é o nosso ideal e o bem mais importante.

* General-de-Exército (res.) e ex-ministro-chefe da secretaria
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE)
Publicado originalmente na Resenha Estratégica 08 Abril 2020

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