O Brasil exportou à China, nos últimos 24 anos, perto de R$ 680 bilhões. Para efeito de comparação, esse valor corresponderia a mais de 20 anos de Bolsa Família. A China também é o único fornecedor de insumos essenciais para o combate à Covid-19
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não poderá se esquivar da questão dizendo que a pessoa envolvida não trabalha no governo, como fez há algumas semanas, quando o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, publicou manifestações racistas e ofensivas contra a China.
Aliás, o mesmo Eduardo Bolsonaro voltou a atacar a China há alguns dias, provocando forte reação do Cônsul-Geral da China no Rio de Janeiro.
Agora foi Abraham Weitraub, um dos principais ministros do governo Bolsonaro, o da Educação, que veio às redes sociais fazer um ataques completamente gratuito à China.
A postagem de Weintraub ocorreu neste domingo, 5 de abril, e levou o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, a se manifestar com dura indignação.
Primeiro, vejamos o twitter do ministro da Educação (que ele já apagou, depois de provocado o estrago):
Apesar da linguagem, conteúdo e tom típicos de um doente mental, é um tweet profundamente racista, conspiratório e ofensivo, bem em linha com o esgoto da direita mais fanática dos Estados Unidos.
Entretanto, há uma diferença importante entre os fanáticos de lá e os daqui. Os EUA realmente competem com a China no plano geopolítico.
O Brasil, não.
O Brasil desenvolveu, ao longo das últimas décadas, uma relação profundamente amistosa com a China, e a economia brasileira se tornou, mais e mais, ligada ao gigante asiático (ver gráficos ao final do post).
A resposta do embaixador chinês no Brasil também veio pelo twitter. Wanming diz que o “lado chinês” aguarda uma declaração oficial do lado brasileiro”.
Seja qual for a resposta, será humilhante para o governo Bolsonaro. Se o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pedir desculpas, que é o que, urgentemente, deveria fazer, estará provado, mais uma vez, que o governo Bolsonaro não tem nenhum tipo de coesão ou disciplina internas. Seus ministros mais importantes são um bando de malucos e imbecis irresponsáveis, sem nenhum tipo de reflexão sobre as consequências trágicas – em especial neste momento – que uma crise diplomática com a China pode trazer ao Brasil. Ou antes, já está trazendo.
Temos notícias de que empresas chinesas estão rompendo contratos de entrega de suprimentos médicos essenciais ao combate ao Covid-19, e desviando esses produtos para os Estados Unidos. A informação vem do próprio ministro da Saúde, Luiz Mandetta:
Com a epidemia se alastrando rapidamente no Brasil, e previsões oficiais de que esteja já fora do controle em capitais como São Paulo, Rio e Fortaleza, os prognósticos para as próximas duas ou três semanas são muito sombrios. O próprio Ministério da Saúde alerta para a falta de equipamentos de proteção, o que dificultará o trabalho de médicos e enfermeiros, além de expô-los a risco de contrair a doença. A China hoje é o único país capaz de suprir essa demanda.
É realmente incrível, que num momento como essa, o ministro da Educação, crie mais dificuldades, sem refletir o custo, em vidas humanas, que esse tipo de coisa pode trazer ao país.
Hoje também temos a notícia de que a China poderá elevar suas compras de soja dos Estados Unidos, em detrimento do Brasil. A notícia me parece um pouco sensacionalista e provocativa. A fonte original apresentada é o site Xinhua, mas na sua versão em chinês, então não deu para conferir.
De qualquer forma, é um fato que Brasil e EUA disputam o mercado chinês nos setores de soja, carnes, milho, petróleo, entre outros.
Se for de interesse político da China substituir a soja e a carne do Brasil pela soja e pela carne americanas, ela o fará.
A importância da China para a balança comercial brasileira não pode ser subestimada.
Nos últimos 12 meses, o Brasil exportou US$ 64 bilhões para a China.
Somando os últimos 24 meses, o Brasil exportou US$ 130 bilhões ao gigante asiático.
No câmbio de hoje, isso significaria R$ 679 bilhões.
A participação chinesa nas exportações brasileiras nunca foi tão alta. Nos últimos 12 meses até março, segundo o sistema Comexstat, banco de dados online do governo brasileiro, a participação da China ficou em 28,7%, recorde histórico.
Arrumar “treta” com a China neste momento deveria ser – mais um – motivo de impeachment do presidente Bolsonaro, visto que as autoridades brasileiras que estão comprando essa briga com o gigante asiático são justamente aquelas pertencentes ao “núcleo ideológico” do governo: Weintraub, Ernesto Araújo e Eduardo Bolsonaro.
Importante observar ainda que manifestações como a do ministro da Educação, mesmo que apagadas em seguida, ativas as redes sociais bolsonaristas, que ampliam seus ataques à China. E não apenas nas redes sociais. Logo após os primeiros ataques de Eduardo Bolsonaro à China, a embaixada do país no Brasil comunicou as autoridades que estava recebendo ameaças por telefone. E grupos bolsonaristas pagaram a instalação de cartazes ofensivos e racistas em Brasília, no caminho da embaixada da China.