Por Thiago Risso
O sol da manhã do dia 1º de abril de 1964 demorou 21 anos para se pôr. O cair da noite, referendado por uma lei antipatriótica, tentou apagar milhares de censuras, perseguições, torturas e assassinatos.
Quando chegou o momento, o nosso sofrimento não foi cobrado com juros. Já sabíamos que esperar não era saber, mas como não enfrentamos os fantasmas, eles viveram anos à espreita. Hoje, mais fortes, tentam nos impor, novamente, o Cale-se.
O grito reprimido jamais ecoou pujante para comemorar, de fato, a superação dos anos de chumbo, do silêncio que atordoava e do pesadelo que parecia interminável. Voltar às escolas, às faculdades, ao cotidiano e a usar documento eram importantes. Mas não revisitar o passado e punir os torturadores e os assassinos pelos seus crimes, colocou a nação em uma eterna censura.
Nossa democracia não nasceu de uma derrota dos canalhas. A dita abertura lenta, gradual e “segura”, garantiu segurança apenas para os que possuíam coturnos e diversos crimes em suas fichas. Hoje pagamos o preço: toda manhã pode ser uma manhã de 1º de abril de 1964.
Um capitão do exército expulso da corporação, um filósofo sem formação e um general discípulo de Sylvio Frota lideram essa nova escalada autoritária. Talvez para dar prosseguimento ao mal sucedido golpe dentro do golpe de 1977. A falsa revolução deixou como legado a violência policial, a impunidade, a seletividade judicial e a corrupção. Alguma semelhança com os dias atuais?
A nefasta data não pode ser esquecida. Nunca! Ela serve de exemplo para o Brasil nao cometer os mesmos erros do passado. Não queremos que o dia dure 21 anos ou que ele não termine. Nunca mais!
O entendimento do que foi o golpe nos ajuda na análise dos dias atuais. Sem revisionismo ou falsas memórias.
Thiago Risso é mestrando em Política Social na Universidade Federal Fluminense (UFF).