A nota da Embaixada critica também a intervenção do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo: “A parte chinesa não aceitou a gestão feita pelo chanceler Ernesto Araújo à noite do dia 18.”
A incompetência do governo Bolsonaro, em especial do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, que preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, e do chanceler Ernesto Araújo, estão colocando em risco grandes interesses nacionais.
A nota da Embaixada chinesa mostra um país profundamente irritado com as denúncias feitas por Eduardo Bolsonaro.
Alguns trechos trazem inclusive ameaças veladas ao Brasil: “Esperamos que alguns indivíduos do lado brasileiro, na sua minoria, abandonem as suas ilusões e muito menos subestimem a nossa resolução e capacidade de salvaguardar os nossos próprios interesses”.
Parabéns, presidente Bolsonaro, o seu filho e o seu chanceler colocaram o Brasil em pé de guerra com a China num excelente momento!
Outros trechos deixam bem claro a revolta da diplomacia chinesa com o país.
O fato é que o coronavírus trouxe enorme perplexidade ao povo e ao governo chinês. São 1,4 bilhão de pessoas, muitas vivendo aglomeradas em grandes cidades, e, portanto, os riscos corridos pelo país foram proporcionais à magnitude do país.
No texto, a embaixada alerta ainda que as ofensas do filho do presidente “geram também interferências desnecessárias na nossa cooperação substancial”.
Entretanto, ao fim do texto, a própria embaixada sinaliza pelo entendimento e pela cooperação.
Espera-se que o nosso chanceler, ao invés de jogar mais lenha na fogueira, pedindo “retratação”, em nome dos grandes interesses patrióticos, trabalhe pela paz. Não nos interessa, neste momento, ter qualquer ruído na relação com a China.
O estrago, de qualquer forma, já está feito. Será difícil dimensionar, em bilhões de dólares, quanto o Brasil perde com a grosseria de Eduardo Bolsonaro e a incompetência de Ernesto Araújo.
Estima-se que o setor de serviços deve demitir mais de 5 milhões de pessoas, em função da crise do coronavírus.
Hoje sabemos que o governo Bolsonaro cortou 125 mil pessoas do Bolsa Família, a maior parte do nordeste.
Prezados presidente Jair Bolsoaro, deputado Eduardo Bolsonaro e ministro Ernesto Araújo, os que vão morrer te saúdam!
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Nota da Embaixada da China no Brasil
2020/03/20
Em 18 de março, o deputado federal Eduardo Bolsonaro fez acusações desfundamentadas anti-China no seu Twitter, atacando as medidas tomadas pelo governo chinês no combate ao COVID-19 e difamando o nosso sistema político. Estamos extremamente chocados por tal provocação flagrante contra o governo e povo chinês. Manifestamos nossa profunda indignação e forte protesto pela atitude irresponsável do deputado Eduardo Bolsonaro.
Como deputado federal e figura pública especial, as palavras do Eduardo Bolsonaro causaram influências nocivas, vistas como um insulto grave à dignidade nacional chinesa, e ferem não só o sentimento de 1.4 bilhão de chineses, como prejudicam a boa imagem do Brasil no coração do povo chinês. Geram também interferências desnecessárias na nossa cooperação substancial. Tal comportamento é totalmente errôneo e inaceitável, veementemente repudiado pelo lado chinês. O Embaixador Yang Wanming já comunicou ao chanceler Ernesto Araújo a nossa posição solene. Temos pleno conhecimento da política externa brasileira com a China e acreditamos que nas suas linhas não houve qualquer mudança.
Ao mesmo tempo, opomo-nos às difamações e insultos contra a China impostos por qualquer um e sob qualquer forma. A parte chinesa não aceitou a gestão feita pelo chanceler Ernesto Araújo à noite do dia 18. O deputado Eduardo Bolsonaro tem que pedir desculpa ao povo chinês pela sua provocação flagrante. O lado chinês defende sempre e de forma resoluta os seus princípios e jamais será ambíguo e tolerante com qualquer prática que afronte os seus interesses fundamentais. Esperamos que alguns indivíduos do lado brasileiro, na sua minoria, abandonem as suas ilusões e muito menos subestimem a nossa resolução e capacidade de salvaguardar os nossos próprios interesses.
Ao longo do ano passado, com o esforço conjunto dos dois países, o relacionamento sino-brasileiro tem se desenvolvido de forma saudável e estável. O Presidente Xi Jinping e o Presidente Jair Bolsonaro efetuaram uma troca de visitas, conseguindo alcançar novos consensos sobre as relações bilaterais. O Diálogo Estratégico Global China-Brasil foi realizado com pleno sucesso, fazendo com que a nossa confiança política mútua fosse consolidada.
Desde o surto do COVID-19, os nossos dois países têm mantido contatos estreitos e amistosos. O Presidente Bolsonaro manifestou a solidariedade para com o governo e povo chinês, razão pela qual o lado chinês agradece muito. Atualmente, de acordo com o pedido do Ministério de Saúde do Brasil, estamos ajudando o país a adquirir os materiais médicos mais urgentes da China.
Ao longo do último dia, temos recebido apoio e solidariedade de todos os setores da sociedade brasileira. Ao manifestarmos a nossa gratidão, percebemos que os que atrapalham o desenvolvimento das relações bilaterais se limitam a uma minoria na população brasileira, enquanto a maioria esmagadora está em defesa da nossa fraternidade. Esperamos que o Itamaraty possa tomar ciência do grau de gravidade desse episódio e alertar o deputado Eduardo Bolsonaro a tomar mais cautela nos seus comportamentos e palavras, não fazer coisas que não condizem com o seu estatuto, não falar coisas que prejudiquem o relacionamento bilateral e não praticar atividades que danifiquem a nossa cooperação. Temos a certeza de que o Itamaraty certamente vai levar em consideração o quadro geral das relações sino-brasileiras e envidar esforço junto conosco para salvaguardar o ambiente favorável do nosso relacionamento.