Crise diplomática se aprofunda: Ernesto Araújo agora cobra “retratação” da embaixada chinesa

A crise diplomática provocada por mensagens do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da república e “chanceler informal” do governo (visto que participa de reuniões com presidentes de outros países, às vezes até sem a presença do ministro de relações exteriores) ganhou um novo ingrediente, com a entrada em cena do chanceler oficial, Ernesto Araújo.

Araújo postou no twitter, há pouco, uma mensagem agressiva, exigindo “retratação” da embaixada da China, por ter retuitado mensagens negativos sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro.

É um macaco ensandecido numa loja de cristais.

Pode-se até criticar o responsável pelo twitter da embaixada da China, mas não se pode esquecer que se tratou de uma resposta.

Eduardo Bolsonaro não tem cargo no governo, mas carrega o sobrenome do pai, dirige a Comissão de Assuntos Estrangeiros da Câmara dos Deputados, participa, com o presidente da república, de reuniões com o presidente Donald Trump. Houve ocasião inclusive em que Eduardo participou de reunião com Trump, e Araújo ficou de fora.

Durante a primeira metade de 2019, o presidente Jair Bolsonaro investiu grande energia para convencer o congresso e a opinião pública de que seu filho deveria ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

A reação de Araújo, cobrando “retratação” da embaixada chinesa, é incrivelmente estúpida, porque cria um enorme constrangimento. Se a embaixada não se retratar, o que acontecerá? O Brasil vai “retaliar”, ou seja, vai pedir “sanções” contra China?

Os tweets de Eduardo Bolsonaro já mobilizaram a milícia virtual bolsonarista, que começou a lançar ofensas em massa contra o governo chinês e suas representações diplomáticas no país. A embaixada chinesa começa a relatar o recebimento de ameaças em seus telefones.

Se a embaixada chinesa se “retratar”, isso poderá irritar ainda mais os chineses que se sentirem humilhados, e a resposta poderá ser comercial, para grande prejuízo do país, exatamente no momento mais delicado da economia mundial nas últimas décadas.

A sorte do Brasil é que a China costuma ser um país com muito bom senso e bem informado, e pensa em longo prazo, e já deve ter entendido que a atual administração, hoje tomada por sociopatas e incompetentes, não deve durar muito.

No entanto, o prejuízo já está feito. Investimentos chineses, ou qualquer tipo de ajuda que poderia vir ao Brasil nos próximos meses, inclusive remessas de vacina contra o Covid-19, a baixo custo, talvez não venham mais.

O que é chocante é ver o “timing” dessa crise. O governo e seus aliados deveriam estar inteiramente focados em combater os efeitos econômicos da crise, além das medidas profiláticas e sanitárias necessárias. A relação com outros países deveria, hoje, também estar focada no fortalecimento de alianças e ações com vistas a combater o vírus, que é uma pandemia e um problema global. Produzir crises diplomáticas neste momento, e ainda mais com nosso principal parceiro comercial, além de ser o país que detêm a maior produção global de máscaras cirúrgicas, remédios e outros produtos importantes para combater o vírus, é tão irresponsável que valeria a pena abrir um processo de cassação desse idiota.

Quanto a Ernesto Araújo, está claro que não tem condição nenhuma de ser ministro. O Brasil precisa de um chanceler à altura das responsabilidades do momento.

Redação:
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