O deputado federal Eduardo Bolsonaro (sem partido), filho do presidente da república, Jair Bolsonaro, e uma espécie de “chanceler informal” do país, produziu uma crise diplomática com a China, ao associar a crise do coronavírus ao Partido Comunista Chinês. O fundamento da crítica de Eduardo Bolsonaro? Em Chernobyl, uma série americana (muito boa, por sinal, mas que é apenas uma séria, uma ficção, embora inspirada na realidade).
As acusações de Bolsonaro foram reitaradas, em seguida, ao retuitar uma outra postagem que também atribui a disseminação do vírus ao regime comunista.
Críticas ao regime chinês não deveriam representar nenhum problema, se vindas da boca de um cidadão comum, mas é chocante constatar a falta de bom senso do deputado, que tentou ser embaixador brasileiro em Washignton, e tem procurado ser, como já dissemos acima, uma espécie de chanceler informal do país.
As mensagens de Eduardo Bolsonaro enfureceram a diplomacia chinesa, que reagiu imediatamente.
Abaixo, trecho de matéria no Conjur relatando as reações chinesas:
(…) Yan Wanming, embaixador da China no Brasil, respondeu ao tuíte de Eduardo rechaçando o raciocínio simplório. “A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e a @camaradeputados. @BolsonaroSP @ernestofaraujo @RodrigoMaia”, escreveu, marcando os perfis de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores.
“As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial”, completou.
A própria embaixada da China também respondeu ao tuíte infeliz do deputado, dizendo que ele contraiu “vírus mental” ao voltar de Miami. “As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”, publicou a embaixada.
“Lamentavelmente, você é uma pessoa sem visão internacional nem senso comum, sem conhecer a China nem o mundo. Aconselhamos que não corra para ser o porta-voz dos EUA no Brasil, sob a pena de tropeçar feio. @ernestofaraujo @camaradeputados @RodrigoMaia”.
Rodrigo Maia atuou para minimizar a crise. Ele escreveu: “Em nome da Câmara dos Deputados, peço desculpas à China e ao embaixador @WanmingYang pelas palavras irrefletidas do Deputado Eduardo Bolsonaro. A atitude não condiz com a importância da parceria estratégica Brasil-China e com os ritos da diplomacia. Em nome de meus colegas, reitero os laços de fraternidade entre nossos dois países. Torço para que, em breve, possamos sair da atual crise ainda mais fortes.”
Ernesto Araújo, que é responsável pelas relações diplomáticas do Brasil com outros países, não se manifestou.
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A China está, no momento, ajudando a Europa e os Estados Unidos, e detêm boa parte da produção de materiais necessários a prevenção do vírus, como máscaras cirúrgicas e remédios. Também está desenvolvendo uma vacina. Insultos levianos à China, nesse momento, é uma estupidez inacreditável, na medida em que precisamos e precisaremos tanto do país.
Além disso, a importância da China para a economia brasileira nunca foi tão grande.
Nos últimos 10 anos, nós já exportamos quase 450 bilhões de dólares para a China, o que corresponderia, em moeda nacional (usando um câmbio de R$ 5), a mais de 2,2 trilhões de reais.
Em 2019, as exportações brasileiras para a China corresponderam a quase um terço das exportações totais do Brasil e a 3,44% do PIB.
Para se ter uma ideia da magnitude desses valores, os gastos obrigatórios da União com as rubricas Saúde e Educação, somadas, corresponderam a 1,6% do PIB brasileiro em 2019.
Tem certeza, deputado, que é inteligente arrumar uma crise diplomática com a China, bem no momento em que uma terrível crise econômica se avizinha?
O governo Donald Trump tem arrumado “tretar” com a China, mas nem de longe os EUA tem a dependência que nós temos das importações chinesas de seus produtos, embora a economia americana também apresente uma relação de interdependência com China imensamente complexa.
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