No A Tarde
Declaração de Bolsonaro sobre fraudes em 2018 ameaça eleições futuras, critica Flávio Dino
Ter , 10/03/2020 às 09:49 | Atualizado em: 10/03/2020 às 10:25
(A entrevista com Dino pode ser ouvida a partir do minuto 1:19:00. O player abaixo já está no ponto).
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), rechaçou, nesta terça-feira, 10, a declaração do presidente Jair Bolsonaro, que disse ter provas de que foi eleito em primeiro turno, mas fraudes levaram o pleito ao segundo. Em entrevista ao programa Isso é Bahia, na Rádio A TARDE FM, Dino afirmou que a fala de Bolsonaro é perigosa, não só por colocar em xeque a lisura do processo eleitoral em 2018, mas também porque questiona a segurança do sistema de voto brasileiro para pleitos futuros.
“É um gravíssimo ataque. Na medida em que o chefe de Estado, visitando outro país, dirige essa crítica ao processo eleitoral e à Justiça Eleitoral, isso pode atingir o passado e o futuro. Isso é algo nunca visto, é inusitado. Ameaça a imagem brasileira na seara internacional, além de ter essa repercussão dramática sobre a essência do regime democrático, que é a certeza de que os votos são conferidos e apurados com legitimidade”, criticou Dino.
A declaração do presidente foi dada na noite desta segunda, 9, durante evento nos Estados Unidos. O presidente não apresentou ou citou qualquer indicativo oficial para justificar sua fala. “Pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu tinha sido, eu fui eleito no primeiro turno, mas no meu entender teve fraude”, disse.
O governador do Maranhão ainda pediu que a acusação feita por Bolsonaro seja investigada pela Polícia Federal. “É uma grave acusação, que deve vir seguida de provas e deve ser apurado pela Polícia Federal porque de duas uma: ou estamos diante de um fato gravíssimo, uma fraude eleitoral abrangendo a eleição presidencial, ou estamos diante de um outro fato gravíssimo, que é o presidente da República fazendo uma acusação falsa, destituída de elementos de prova”.
Candidatura em 2022
Constantemente apontado como possível candidato à Presidência da República, Dino, uma dos principais novos nomes da esquerda brasileira, confirmou que deve concorrer a algum cargo eletivo nas eleições de 2022, mas não disse qual. No segundo mandato, o comunista afirmou aos apresentadores Jefferson Beltrão e Fernando Duarte que pretende se desincompatibilizar do cargo em abril daquele ano para disputar o pleito. Além da Presidência, o governador pode, no plano federal, tentar o Senado e a Câmara dos Deputados – ou também a vice em alguma chapa presidencial.
“Eu saí do cargo de juiz federal por decisão própria, para ingressar na política. Por coerência, claro que devo disputar as eleições de 2022, mas é uma decisão em 2022. O foco principal, hoje, é o governo do meu estado. É tempo de garantir a democracia, reduzir o desemprego. [Candidatura em 2022] Não é algo que preside minha vida. Cada dia com sua agonia”, argumentou.
Alianças fora da esquerda
Criticado pela aproximação com figuras de fora da esquerda, como o apresentador Luciano Huck, Dino defendeu que, em momento de situação política “grave” como a provocada pela forma de governar de Bolsonaro, é necessário ampliar as lideranças para fora de seu espectro político. Na avaliação dele, se atuar sozinha, a esquerda não será capaz de ajudar na superação de problemas enfrentados pelo país.
“É uma prova de humildade nossa entender que outras lideranças têm um papel muito grande em relação à manutenção das regras do jogo democrático. Isso não é aliança eleitoral, eu nunca defendi aliança com Luciano Huck, mas prefiro dialogar com essas personalidades do que vê-las eventualmente se alinhando a um projeto antipopular e antinacionalista. O importante hoje é garantir que cheguemos a 2022, que haja processo eleitoral”, afirmou. “Temos que fazer política mais ampla. Por isso considero que, diante da dimensão do gigantesco desafio que temos pela frente, temos que dialogar com partidos de várias frentes. Em um momento que exige muita coragem e humildade, você não se isola”, reforçou.
Ele defendeu também que o PCdoB mude o nome para retirar o C da sigla, que significa Comunista, por causa do estigma que a palavra adquiriu. Na sua opinião, a discussão sobre isso deve ser finalizada, no entanto, apenas em 2021.
Protestos de domingo
Dino classificou como “imenso erro” a convocação, feita por Bolsonaro, para protestos a favor dele no próximo domingo, 15. As manifestações têm como pauta ataques a instituições democráticas, como o Congresso Nacional e o Judiciário. Para críticos da atitude do presidente, há inspiração “golpista” neste método.
“Temos a crise do dólar. Tivemos o pibinho, de 1,1%, descontrole cambial ameaçando finanças públicas e a inflação. Neste momento, é preciso de serenidade, diálogo, e não convocar uma manifestação pública antidemocrática para pressionar Congresso e o Supremo. As manifestações do dia 15 são uma forma de afastar controles previstos pela Constituição para alimentar seus intuitos inclusivistas, personalistas, de beneficiar familiares”, disse o governador, para quem há setores próximos a Bolsonaro querendo “uma ruptura, rasgar a Constituição”.