Marconi: Esse é um país que “vai pra frente”
Por Nelson Marconi
Quem é mais velho vai se lembrar desse jingle da época do regime militar, governo Figueiredo. Juca Chaves, um famoso comediante contestador do período, tocava essa musiquinha em seu show e soltava uma tartaruga no palco para mostrar de que forma íamos para frente. Essa cena tem quase 40 anos, mas nada poderia ser mais atual, ainda mais que o presidente resolveu fazer chacota hoje com o PIB.
Entra ano, sai ano, e o argumento é sempre mesmo: agora vai, as reformas vão consertar o país e vamos deixar as pessoas trabalharem. Mas é impressionante como desde 2017 a história se repete, os argumentos idem, e o crescimento acumulado da economia no ano gira em torno de 1%; em termos per capita, a média é igual 0,37% nestes três anos. É desprezível para o atraso que precisamos tirar. E muita gente ainda continua embarcando nesse discurso.
A própria nota do Ministério da Economia sobre o resultado do PIB, divulgada hoje, diz que estamos caminhando na direção correta ao reduzir o gasto público e abrir espaço para o aumento do privado, o que é repetido como um mantra. Supondo que isso fosse a salvação da lavoura, a participação do consumo privado e do público no PIB é praticamente constante desde 2017. Nem que eu quisesse seria possível argumentar a favor dessa possibilidade.
Vamos então aos dados que interessam: a variação trimestral do PIB, já há muito, não ultrapassa 0,5% (e a anual roda em torno de 1%); o investimento oscila bastante, não mostrando nenhuma tendência; os gastos em máquinas e equipamentos, que representam expansão da capacidade de produção instalada, cresceram apenas 0,9% em 2019 (descontada a inflação). As exportações, que seriam uma fonte importante de recuperação do ciclo econômico, caíram 2,5% no ano, por causa da Argentina e das barbeiragens na política comercial. O que salvou o comércio da tragédia, que teria um Natal histórico, mas “variou” 0% – isso mesmo – no quarto trimestre, foi uma medida típica de estímulo à demanda já utilizada no passado recente – os saques no FGTS.
Não haverá recuperação consistente no atual cenário sem uma estratégia de crescimento, sem recuperação da indústria e dos serviços que vêm junto com ela, sem a geração de melhores ocupações, sem a redução do endividamento e sem a recuperação do investimento público. A estratégia atual é a do desmonte. Nunca dará certo. Só pessoas desconectadas da realidade e afeitas a modelos ultrapassados acreditam nisso. O que o mundo discute hoje é a taxação de riquezas, políticas industriais sustentáveis e a geração de empregos de qualidade. Nada disso é possível sem a atuação conjunta do público e do privado.
Resta saber quanto tempo levará para a população que apoia a estratégia atual, que já é declinante, perceber que está sendo altamente prejudicada, e se em algum momento o presidente vai querer virar o jogo. Ele já emitiu os seus sinais, como eu disse há meses que em algum momento ele faria. Se não o fizer, continuaremos crescendo 1%, no ritmo do agora vai. Em cada momento haverá algum fator que ajudará um pouco, outros atrapalhando, e não sairemos desse desempenho medíocre. Como consequência, o que andará para frente e a largos passos não será o nível de atividade, mas a precarização do mercado de trabalho. Infelizmente.
Andressa
05/03/2020 - 20h39
No agronegocio onde os unicos parasitas sào os insetos e a unica ideologia é o trabalho foi para frente nos anos principalmente graças a tecnologia que permitiu aumentar a produçào.
Por contra a industria, infestada de sindicatos, causas trabalhistas, ideologias idiotas hostis aos empregadores, impostos de quarto mundo, morreu atolada num monte de fertilizante natural.
Matheus
06/03/2020 - 12h25
Como disse o Marconi, só gente desconectada da realidade e apegada a modelos ultrapassados pensa como você.
O agronegócio brasileiro é beneficiário de uma ampla rede de apoio estatal: EMBRAPA e universidades públicas gerando inovação e tecnologia e formando técnicos qualificados que são empregados pela agroindústria, crédito subsidiado por bancos públicos, incentivos fiscais para reduzir os custos, água abundante e baratinha fornecida por empresas estaduais e municipais de saneamento.
E os representantes do agrobaronato votando em TUDO que retira apoio social aos trabalhadores e aos pobres.
Mais um capítulo de:
LIBERALISMO É A MAIOR FARSA DO MUNDO E SÓ DEMENTES ACREDITAM NESSA PORCARIA
Tulipa
05/03/2020 - 20h23
A China é a fabrica do Mundo e fora os Estados Unidos e poucos outros ninguem produz mais nada mas compra pronto.
A industria jà era, é impossivél recuperar o atraso abissal acumulado no tempo (onde nem esgotos das casas tem), é uma perda do tempo inutil que beira o ridiculo. O presente é o dos serviços e da tecnologia onde hà milhoes de vagas mas ninguem para preencher o lugar de trabalho.
Paulo
05/03/2020 - 18h55
“Não haverá recuperação consistente no atual cenário sem uma estratégia de crescimento, sem recuperação da indústria e dos serviços que vêm junto com ela, sem a geração de melhores ocupações, sem a redução do endividamento e sem a recuperação do investimento público. A estratégia atual é a do desmonte. Nunca dará certo. Só pessoas desconectadas da realidade e afeitas a modelos ultrapassados acreditam nisso. O que o mundo discute hoje é a taxação de riquezas, políticas industriais sustentáveis e a geração de empregos de qualidade. Nada disso é possível sem a atuação conjunta do público e do privado”.
Nada será mudado se não mudarem o comando econômico…Porco Guedes esperou a vida inteira essa chance para provar que tinha razão, não vai dar a mão à palmatória agora e mudar de curso, jogando sua biografia (que já não é grande coisa) definitivamente no lixo. É um obstinado que acredita no que diz e faz. Talvez a obstinação seja sua única virtude, mas, no atual cenário, ela se tornou um defeito fatal…
Evandro Garcia
05/03/2020 - 16h45
Até os Presidentes da República enfiam as mãos no dinheiro dos outros e querem industrias…?