Para o deputado federal Mario Heringer (PDT-MG), o PDT não está fazendo jus às expectativas que se criaram em torno do partido após o seu desempenho na campanha eleitoral de 2018, quando ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais, com 13 milhões de votos.
“Nós precisamos melhorar muito, nos organizar muito”, admitiu o parlamentar, em entrevista exclusiva ao Cafezinho, concedida na última quinta-feira.
“Mas agora nós temos duas coisas fundamentais, que podem fazer isso funcionar. Uma é um pré-candidato à presidência da república, brigão, trabalhador, que dá a cara a tapa, que dá exemplo, o que é fundamental em política; e a outra, é a bandeira, um programa de desenvolvimento nacional. Nós temos o que mostrar: o que vamos fazer e quem vai fazer. O PDT não vai mais apresentar o passado, e sim o futuro! Nesse momento, o PDT tem condições de dar maior organicidade à sua base!”
Heringer é um dos maiores entusiastas, dentro do PDT, da candidatura de Ciro Gomes.
“Não fosse por Ciro, eu nem vinha candidato em 2018”, disse o deputado, que informou ter levado Ciro a Minas Gerais mais de dez vezes no ano passado.
As razões que o levaram a apostar em Ciro, segundo Heringer, foram sua crítica à dívida pública e ao processo de desindustrialização vivido pelo Brasil: “nós temos que partir para a engenharia reversa, fabricar os produtos que consumimos”.
Heringer contou histórias dos bastidores da campanha de 2018. Disse que estava com Rodrigo Maia no Chile, no dia em que os partidos de centro decidiram apoiar Geraldo Alckmin (PSDB), por pressão do DEM da Bahia, e de Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Segundo ele, o grupo de Maia estava inclinado a apoiar Ciro.
Outra história é sobre a intervenção do PSB no diretório estadual do partido, para anular a candidatura de Marcio Lacerda ao governo de Minas Gerais.
“Isso foi de uma má fé, de uma maldade. Levaram Marcio Lacerda até o último momento. Mas o objetivo era único: não dar estrutura para Ciro, que podia ter o PSB como partido parceiro, na eleição presidencial; e mais que isso, tirar um amigo dileto de Ciro, que era o Marcio Lacerda, de uma disputa onde Ciro teria o seu espaço na política estadual, aparecendo junto com o Márcio, que seria candidato ao governo. Foi uma pernada, no último dia. O PT estava tentando isolar o Ciro de uma maneira tão truculenta, em cima do PSB, a gente tem vários relatos de coisas que aconteceram, que o PSB teve que ceder. Foi de uma violência política que eu jamais vi. É por isso que não quero me aproximar do PT de maneira nenhuma. O PT vai ter que fazer sua autocrítica, rever sua história, como tratou seus parceiros…”
“Se em 2018, quase fizemos isso [quebrar a polarização], em 2022 a gente talvez consiga. Quem é o protagonista disso hoje chama-se Ciro Gomes. O próprio Luciano Huck tem muita deficiência a ser vencida. Ele diz que está se preparando… Desculpa, mas política não se prepara em banco de escola. Política se prepara com experiência, vivência, e quem tem mais vivência é Ciro Gomes”.
Sobre o processo no debate da Previdência, o deputado confessou que torce para que nenhum deputado seja expulso do partido. Ele mencionou especificamente o caso de Tábata Amaral: “não podemos perder o que temos de melhor”.
“Eu já fui dissidente”, lembrou, dizendo que votou pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, contra a orientação da legenda. Heringer voltaria a contrariar o partido em 2017, ao votar em favor do teto de gastos.
“Mas eu mudei para melhor, graças ao PDT”, justificou.
Para as eleições municipais deste ano, Heringer, que é presidente do PDT em Minas Gerais, disse que tem aumentado muito a procura pelo partido, o que é um sinal de que a legenda poderá crescer em 2020.
No campo governista, Heringer disse que tem observado um processo de distanciamento do eleitorado em relação ao radicalismo de Bolsonaro.
“Quem vai crescer é o meio, quem não está nessas duas pontas [Bolsonaro e PT]”.
Abaixo, a íntegra da entrevista: