Notas internacionais (por Ana Prestes) – 17/02/20
*foto: Embaixador Nestor Forster entrega Medalha do Rio Branco a Olavo de Carvalho
– O cerco ao olavismo no Palácio do Planalto chegou às relações internacionais. Está na imprensa que de acordo com o Diário Oficial de sexta-feira, um decreto esvazia por completo os poderes do assessor internacional Filipe Martins. Filipe, ex-aluno de Olavo de Carvalho, vinha tenho bastante influência na condução da política externa. Ele agora está subordinado ao almirante Flávio Augusto Viana Rocha, novo responsável pela Secretaria de Assuntos Estratégicos, pasta que agora abriga a secretaria de assuntos internacionais. Não deixa de chamar a atenção no exterior a crescente influência dos militares e forte presença de militares da ativa no governo Bolsonaro.
– Em breve o Brasil voltará a ter Embaixador em Washington. Após o fracasso da empresa bolsonarista em emplacar o deputado Eduardo Bolsonaro para o cargo, o diplomata Nestor Forster passou por sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado na semana passada, dia 13, e seu nome deve ser votado pelo plenário da casa esta semana. Forster, que já está em Washington atua como encarregado de negócios da embaixada brasileira. Muito próximo do clã Bolsonaro, ele teria sido a pessoa que apresentou Ernesto Araújo, ministro das relações exteriores, a Olavo de Carvalho. Forster assume no memento em que o Brasil vive uma onda de deportações e prisões sumárias de migrantes brasileiros que tentam chegar aos EUA, pressão para não abrir o mercado brasileiro da tecnologia 5G para a Huawei e a retirada do Brasil da lista de países que os EUA consideram “em desenvolvimento”, perdendo tratamento especial nas negociações.
– O primeiro encontro entre Bolsonaro e o novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, terá que ser adiado, uma vez que o presidente peronista não irá mais à posse do novo presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou. No mesmo momento da posse, Fernandez estará fazendo um discurso que marca a abertura das sessões legislativas do Congresso argentino. O encontro entre os presidentes brasileiro e argentino havia sido confirmado quando da visita do chanceler Felipe Solá a Brasília no último dia 13.
– Tudo indica que não será nada fácil o embate entre o novo governo da Argentina e o FMI na renegociação da dívida contraída por Macri. Apesar do plano de Fernandez ter sido amplamente aprovado pela Câmara e pelo Senado, de suas exitosas viagens de pedido de apoio aos europeus, Papa e até ao Brasil, onde esteve seu chanceler, o diálogo com os representantes do Fundo não tem sido amenas. Um exemplo foram as farpas trocadas entre a vice-presidente Cristina Kirchner e o porta-voz do FMI, Gerry Rice, quando a mandatária afirmou que os 57 bilhões de dólares repassados para Argentina “violaram os estatutos do organismo”, ao que o porta-voz respondeu não ter havido violação. Kirchner defende a devolução de 44 bilhões de dólares do acordo. O argumento de Cristina é o de que o dinheiro financiou uma fuga de capitais do país, algo proibido nos estatutos do Fundo. Para Rice, a única coisa que o banco proíbe no caso é justamente a devolução do crédito. Será uma longa negociação, enquanto as ruas começam a pedir auditoria e não pagamento da dívida.
– Passada uma semana de sua absolvição no processo de impeachment que o acusava de solicitar aos ucranianos uma investigação sobre as atividades dos Biden, pai e filho, no país em troca da liberação de repasses de empréstimos, Trump admitiu em entrevista ao podcast “Roadkill with Geraldo”, do jornalista Geraldo Rivera, ter enviado seu advogado pessoal Rudy Giuliani à Ucrânia com o objetivo de trazer informações que pudessem prejudicar seus adversários. Trump disse ainda não ter se arrependido da decisão “de forma alguma”. A revelação vem ao mesmo tempo em que os democratas dizem que seguem as investigações contra Trump, não só nesse caso, mas em outros como sobre as atividades da Trump Organization, com suspeita de lavagem de dinheiro, chantagens e subornos no mundo político. Pode vir aí um impeachment 2.0.
– Ainda sobre os EUA, o Senado do país aprovou na última quinta (13) uma resolução que impede o presidente Trump de realizar ações militares contra o Irã sem autorização prévia do Congresso. O texto também já foi aprovado na Câmara, mas o comentário geral é de que Trump vetará. Mesmo sendo maioria no Senado, os republicanos não conseguiram segurar a aprovação, pois 8 membros do partido do presidente votaram sem seguir a orientação dos líderes da agremiação trumpista.
– Sobre o Corona vírus, o final de semana foi de certo alívio com a estabilização do aumento do número de casos. No domingo o número de mortos chegou a 1770 e o total de infectados confirmados a 70.548. Seguem as medidas preventivas para a contenção da doença, entre elas cancelamento de eventos e qualquer situação com grandes aglomerações. No próximo dia 24, um comitê do Congresso Nacional do Povo decidirá se vai adiar o encontro anual do Parlamento marcado para março. Grandes, médias e pequenas empresas também estão inoperantes por conta da epidemia. Inclusive no Brasil, as fábricas da Samsung e Motorola estão com as produções paradas por falta de peças que chegam da China.
– Em El Salvador, o presidente Nayib Bukele continua em confrontação com a Assembleia Legislativa Nacional. Os dois maiores partidos, Arena e FMLN condenaram a maneira autoritária e militaresca com que o presidente tentou aprovar a realização de um empréstimo de 109 milhões de dólares para o financiamento da fase três do Plano Controle Territorial, que pretende combater grupos criminosos, conhecidos como “maras e pandillas” na América Central. Contrariado, ao enfrentar a resistência dos parlamentares, Bukele invocou o “direito à insurreição” estabelecido no artigo 87 da constituição salvadorenha, chamando a população a se voltar contra o parlamento. Por fim, a Corte Constitucional do país determinou que o presidente “se abstenha de usar as Forças Armadas em atividades contrárias aos fins constitucionais”. El Salvador terá eleições parlamentares daqui um ano, fevereiro de 2021, se Bukele dava como certa a formação de uma maioria, pode ter dado um tiro no próprio pé com seu autoritarismo.
– Na Venezuela, o final de semana foi de realização de exercícios militares com a denominação “Escudo Bolivariano 2020” e com a participação de 2.300.000 militares entre Exército, Guarda Nacional Bolivariana, Armada e Milícia Bolivariana. Enquanto isso, uma transformação ocorre na economia venezuelana, com uma clara dolarização.