“Democracia em vertigem”
Por Luiz Moreira
Claro que se trata de sucesso da indústria cinematográfica, coroado com a indicação ao Oscar. A discussão sobre se o filme é ou não peça do sistema deveria se encerrar com essa indicação: é do sistema.
Vi o filme e tenho muitas reservas à sua narrativa, como as diversas cenas em que os protagonistas se deixavam filmar, especialmente em três ocasiões: (1) as que ocorreram em veículos oficiais; (2) as que transcorreram, no que parece ser um hotel, após o resultado da votação na Câmara dos Deputados; e (3) as que sugerem que as obras de restauração no Palácio do Alvorada decorreram, em Collor e em Lula, de esquema de corrupção.
Explico.
Não julgo apropriado que autoridades da República posem para a indústria cultural, como se se tratasse de depoimento ou de documento oficial. Fosse isso haveria dever/obrigação dessas autoridades de revelar, após as cenas de recebimento do processo de impeachment, quem os teria traído e o porquê. Trata-se de ficção ou de documentário?
Não me agrada que a indústria cultural de Hollywood seja tratada como porta-voz da política progressista na América Latina, como se atores e diretores fossem meros expectadores neutros do que ocorre nas chamadas “repúblicas de bananas”.
A propósito: também não me agrada que o líder da igreja católica seja tratado como alguém de vanguarda, elevado, pelas hostes progressistas, à condição de mediador dos conflitos mundanos. Fosse isso aceitável, a condição de líder religioso deveria ser compartilhada com líderes de outras religiões, inclusive às de matriz nacional, como os evangélicos e os umbandistas.
Voltando à “vertigem”: não discuto as qualidades inerentes à sua produção, mas a forma ingênua que intelectuais de esquerda recepcionaram o filme. Ante essa adesão acrítica recordo postura oposta de Jean-Paul Sartre, que, em 1964, recusou o Nobel de literatura e seu estratosférico prêmio em dólares.
Os progressistas não aprendemos nem com Sartre?