O caminho dos países nórdicos para o enriquecimento
24/01/2020
Por Paulo Gala
O desafio para o desenvolvimento econômico não está na produção de commodities per se, a questão chave é se o pais é capaz de caminhar downstream ou upstream na cadeia das commodities para aprender a fazer produtos mais sofisticados. O desenvolvimento econômico e nível de renda per capita dependem fortemente das capacidades produtivas locais e da habilidade de produzir bens complexos. Países que tiveram sucesso nessa tarefa: EUA, Noruega, Finlândia, Malásia, Tailândia e Canada. O caso da Noruega é ilustrativo. O país ocupa hoje a posição de grande exportador de petróleo no mercado mundial. Após a descoberta de reservas no mar do norte em 1969, havia grande possibilidade de contração da “Dutch Disease”.
Várias medidas foram tomadas com o intuito de evitar os potenciais problemas decorrentes da doença. Dentre estas, destaca-se a boa administração dos recursos provenientes das exportações. A criação de um fundo no exterior para utilização das divisas e o pagamento de dívida externa isolaram a economia norueguesa dos problemas decorrentes de apreciação cambial e perda de competitividade (o “Petroleum Fund ” tinha reservas equivalentes a 50% do PIB norueguês no início dos 2000). Em termos de mudanças estruturais na economia norueguesa, alguns autores identificam uma pequena retração do setor de comercializáveis manufatureiro após a descoberta das reservas. Outros trabalhos argumentam que essa mudança foi mínima e praticamente irrelevante. Larsen (2004, pg.12) mostra que a participação de receitas de petróleo no PIB se estabilizou rapidamente e a Noruega não transitou para um perfil de excessiva dependência em relação às rendas do petróleo. Nos 20 anos subseqüentes à descobertas do mar do norte, a Noruega apresentou maiores taxas de crescimento do que Dinamarca e Suécia, dois países que poderiam ser tomados como grupo de controle na comparação do desempenho norueguês (Larsen 2004, pg. 10).
O caminho seguido pelos países nórdicos representa uma opção interessante para o Brasil e países latino-americanos. Ao invés de simplesmente continuar extraindo recursos naturais, madeira, pesca e petróleo, os países nórdicos foram capazes de dar saltos no sentido de sofisticação produtiva relacionados a essas commodities. A indústria de caminhões da Suécia, a indústria moveleira também na Suécia e Finlândia, as plataformas de exploração de petróleo e navios produzidos na Noruega e Dinamarca. O maquinário ligado à produção de móveis, mecânica e engenharia de navios, prospecção e extração de petróleo e assim por diante. Os países nórdicos foram capazes de progredir no domínio tecnológico relacionado a commodities; primeiro no processamento das mesmas, em madeira com MDFs por exemplo, e depois sendo capazes inclusive de produzir o maquinário necessário para processar e extrair commodities. A Dinamarca, por exemplo, produz hoje os maiores navios do mundo. A Suécia está junto com Finlândia e Dinamarca sempre nas posições principais dos rankings de complexidade. Aqui aparece mais um segredo dos nórdicos, o domínio da complexidade econômica, mesmo em meio à abundância de recursos naturais. As pautas de exportação abaixo de Noruega, Finlândia e Dinamarca mostram essa interessante combinação entre recursos naturais brutos e bens complexos ligados à commodities.
A Dinamarca tem se destacado como um dos países mais inovadores do mundo, especialmente no que diz respeito a tecnologias de energia verde. Tendo desenvolvido novas técnicas em turbinas e geradores de energia a partir do vento, o país se destaca hoje como exportador de conhecimento nesses setores. O governo dinamarquês tem um papel de destaque aqui com fomento e estímulo de novas tecnologias nessas área e em outros como robótica e outros setores avançados. O fundo estatal de desenvolvimento de tecnologias do governo oferece apoio e funding a start ups consideradas promissoras, o que obviamente tem contribuído muito para a evolução da complexidade e sofisticação da economia dinamarquesa.