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Maringoni: Haddad rema em que direção?

Haddad rema em que direção? Por Gilberto Maringoni *, no Portal Disparada A coluna de Fernando Haddad, publicada na Folha de S. Paulo em 4 de janeiro, merece leitura atenta. Não há nenhuma ideia original expressa nela, muito ao contrário. Vale pela importância do autor num passado recente. Haddad se dispõe a discutir a possível […]

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Fernando Haddad fala na Vigília Lula Livre sobre sua visita a Lula na prisão nesta quarta-feira (25/7) em Curitiba. #LulaLivre. FOTOS: Ricardo Stuckert Curitiba (PR), 25/07/2018.

Haddad rema em que direção?

Por Gilberto Maringoni *, no Portal Disparada

A coluna de Fernando Haddad, publicada na Folha de S. Paulo em 4 de janeiro, merece leitura atenta. Não há nenhuma ideia original expressa nela, muito ao contrário. Vale pela importância do autor num passado recente.

Haddad se dispõe a discutir a possível existência de uma burguesia industrial brasileira e – em existindo – se ela teria algum projeto nacional.

O assunto empolga o debate político no país desde pelo menos o final dos anos 1920. É tema complexo, que Haddad trata com um amontoado de ideias desconexas, meias verdades e conceitos liberais mambembes.

Há algo que grita em seu texto. É a total ausência de um sujeito fundamental em qualquer análise desse tipo, o Estado. Embora existam embriões de uma burguesia industrial em nosso país desde as duas últimas décadas do século XIX – quando a oligarquia agrária do sudeste passou a investir parte de seu excedente em atividades fabris urbanas, impulsionada pelo advento do trabalho livre -, a constituição dessa classe se dá com a Revolução de 1930.

O primeiro governo Vargas, com claro projeto industrializante, cria, de cima para baixo e a partir do Estado, uma burguesia lastreada em fortes subsídios, protecionismo e crédito. Os sujeitos do projeto nacional-desenvolvimentista seriam o Estado, o capital externo e o capital nacional (como sócio menor, mas decisivo). O raciocínio, largamente conhecido, sequer é insinuado nas linhas do professor do Insper.

Para Haddad, a queda da participação da indústria de transformação no PIB não tem “nada a ver (…) com desindustrialização”. E vai além: “A participação da produção industrial mundial no PIB mundial vem perdendo importância, sobretudo em relação ao setor de serviços, que ganha terreno”.

A afirmação não é corroborada por dado algum. É pura opinião do articulista. Se ele se desse ao trabalho de checar informações do Banco Mundial, veria que, apesar do crescimento global da economia, a tendência consolidada entre 2010 e 2018 é de estabilidade na relação entre os três setores, agricultura, indústria e serviços (http://wdi.worldbank.org/table/4.2). Assim, o recuo relativo da indústria no Brasil é muito preocupante.

Pior: Haddad, de forma irresponsável, investe contra os trabalhadores que defendem o emprego industrial: “São alvos fáceis dos que pregam protecionismo e xenofobia”.

Não contente com isso, Haddad parte para a lacração, como se diz nas redes sociais: “O guru dos industriais à época [anos 1930] era um fascista romeno, Mihaïl Manoïlescu”.

Manoilescu (1891-1950) era de fato figura controversa. Foi ministro da Economia e das Relações Exteriores e personalidade proeminente nos debates econômicos da Romênia dos anos 1930, quando o país agrário se batia por uma diretriz de planejamento industrializante. No final dessa década, tornou-se próximo ao fascismo.

O historiador estadunidense Joseph L. Love lembra que “Devido a sua simpatia pelo Eixo, os trabalhos de Manoilescu foram banidos pelo regime do pós-Guerra, mas uma geração mais tarde, seus trabalhos econômicos, que anteciparam muitas das reivindicações, aspirações e libelos do Terceiro Mundo, foram mencionados em publicações oficiais como importantes contribuições romenas para a análise do subdesenvolvimento”. Seu livro “Teoria do protecionismo e da permuta internacional” foi publicado pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo em 1931, por iniciativa de Roberto Simonsen, o mais importante industrialista brasileiro da primeira metade do século XX.

Desqualificar o desenvolvimentismo industrialista como vertente de política econômica equivale a atacar a CLT por suas semelhanças com a legislação trabalhista da Itália de Mussolini. O liberalismo – à direita e à esquerda – fez isso à larga desde os anos 1980.

O industrialismo teve entre seus defensores Friedrich List, Henry Ford, J. M. Keynes, Franklin Roosevelt, Raul Prebisch, Celso Furtado, entre vários outros, que nem de longe podem ser acusados de simpáticos ao fascismo. O pior debatedor é aquele que torce informações a seu favor à falta de argumentos consistentes.

Contudo, a cereja do bolo da coluna de Fernando Haddad está no seguinte trecho: “A maxidesvalorização cambial de 1999 deu, por uma década, novo alento à indústria, mas a crise internacional de 2008 e as crises domésticas, econômica e política (2015-16), empurraram-na ladeira abaixo”.

O ex-prefeito de São Paulo, com a sutileza de um paralelepípedo, desconsidera toda a política fiscal expansiva, o aumento do crédito e a política de conteúdo nacional do segundo governo Lula e debita o crescimento do período a um feito – involuntário – do governo FHC! Não é à toa que termina seu arrazoado com uma citação do ex-príncipe dos sociólogos para referendar suas palavras.

Muita gente aponta proximidades entre FH e FHC. Esta é a primeira vez que o ex-ministro da Educação, de moto próprio, demonstra não ser infundada tal percepção. Ambos diluem em seus escritos o que foi aqui mencionado no início, o papel do Estado no desenvolvimento. Não é lapso. É a base do pensamento neoliberal.

*

Gilberto Maringoni de Oliveira (São Paulo, 23 de agosto de 1958) é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo. Gilberto Maringoni foi candidato a governador do Estado de São Paulo nas eleições de 2014 pelo PSOL.

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Comentários

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Renato A. Danilo

08/01/2020 - 10h20

haddad e lulla são apenas algumas das encostos que atrasam a esquerda de sintonizar com a realidade. lulla corrupto até os ossos, haddad é isto: https://istoe.com.br/uma-extensa-ficha-corrida/

Jardel

07/01/2020 - 00h18

Haddad é o escolhido de Lula. Se Lula não puder concorrer, quem concorre é o Haddad.
Os dois são carne e unha. Se Haddad diz o que diz, podes crer que Lula e Haddad discutiram e decidiram tudo antecipadamente.
Lula sabe que ganha, mas não governa sem o Centro e sem a Centro Direita. Política é assim, infelizmente.

    Fábio

    08/01/2020 - 14h39

    Engano seu. Lula nunca tolerou Haddad. Foi obrigado, como está sendo mais que nunca, agora, a suportar sua presença colado a ele.
    Bastou que tentasse uma pegadinha, sugerindo que fosse candidato à prefeitura de São Paulo outra vez, para logo em seguida ameaçarem com a prisão de seu filho.
    Está solto, não está livre.

Wellington

06/01/2020 - 18h11

Grande Andrade….Kkkk

Alan C

06/01/2020 - 16h55

Esse poste do PT é um sujeito totalmente perdido, não é a toa que o o povo da sua cidade natal o preteriu em TODAS AS URNAS para a prefeitura de SP, perdendo inclusive pra brancos e nulos, e o que é pior, estando no cargo.

Na campanha de 2018 defendeu a autonomia do Banco Central, talvez a pior coisa que possa acontecer com a moribunda economia brasileira que teima em não crescer no circo da bozolândia.

Apesar de dar entrevistas dizendo o contrário, fez menção em nomear alguém do mercado financeiro para ministro da fazenda caso fosse eleito em 2018.

O PT tem uma ficha extensa contra o povo, foi contra a constituinte, foi contra o plano Real, foi contra o Tancredo Neves e a favor do Sarney, foi contra Ulisses Guimarães, tudo a mando do Lula.

É fácil dizer pra onde esse sujeito rema, na direção que Lula disser pra ele remar.

Do lulopetismo à bozolândia, tomara que sobre alguma pra 2022.

    cidadão

    07/01/2020 - 00h30

    Os eleitores do Ciro são muito críticos do Lula… Tudo bem, eu também tenho críticas ao PT e até ao Lula, mas não se esqueça que nas eleições de 2018, ao perder no primeiro turno, Ciro mostrou que não está nem aí para o Brasil e para o povo. Deixou o caos se instalar apenas para ter mais chances em 2022.
    Enquanto isso o desmonte dos direitos sociais avançam enquanto Ciro continua a tentar desconstruir o Lula e o PT.
    O que afinal ele está fazendo pelo País?

      Alan C

      07/01/2020 - 09h31

      Teu comentário caiu no lugar errado, eu falei de outro assunto.

Paulo

06/01/2020 - 11h49

Não gostaria de defender o Haddad, mas, ao menos por este excerto, eu o farei:

“Pior: Haddad, de forma irresponsável, investe contra os trabalhadores que defendem o emprego industrial: ‘São alvos fáceis dos que pregam protecionismo e xenofobia’.”

Tenho a impressão de que o ex-candidato à presidência da República apenas quis alertar, nessa passagem, para a utilização dos trabalhadores pelo patronato, defensor, em causa própria, do protecionismo, a pretexto de nacionalismo, possivelmente…

JULIANA CRISTINA KOERICH

06/01/2020 - 11h26

Favor corrigir os seguintes trechos: “fernando haddad rema em que direção fhc pt psdb petucanismo” e “…ex-ministro da Educação, de moto próprio, demonstra…”.


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