Por Fábio Salviano Lima Xavier (sociólogo) e Emerson Sousa (economista)
Conforme divulgado pelo Billionaries Report 2019, publicação do banco suíço UBS, as três maiores economias da América Latina – Brasil, México e Argentina – possuem 80 bilionários, ou seja, indivíduos com um patrimônio líquido superior a US$ 1 bilhão.
O Brasil é o solo natal de 58 dessas pessoas, o México possui 17 desses e a Argentina, outros cinco. Ao todo esses três países concentram 5/6 de todos os bilionários da América Latina e Caribe computados pela instituição financeira suíça.
O estoque patrimonial de todas essas personalidades está estimado em US$ 323.1 bilhões, sendo que US$ 179.7 bi é de origem brasileira, US$ 132.5 bi de mexicanos e US$ 10.9 bi de fonte argentina. Ressalte-se que os bilionários de todo o subcontinente acumulam uma fortuna de US$ 371.6 bilhões.
De acordo com os números publicados pelo UBS, da margem sul do Rio Grande até a Patagônia, os super ricos possuem um patrimônio líquido médio de US$ 3.8 bi. Na Argentina, esse valor é de US$ 2.2 bi; no Brasil, US$ 3.1 bi e, no México, US$ 7.8 bilhões. No conjunto desse trio de nações, a média é de US$ 4 bilhões.
Tais números tornam-se controversos quando se descobre que os produtos per capita dessa tríade não estão entre os maiores do planeta. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com valor médio por habitante de US$ 11.1 mil, Argentina, Brasil e México estão longe do mundo desenvolvido nesse quesito.
A situação fica mais dramática quando se vê que o “podium” do desenvolvimento humano global, formado por Noruega, Suíça e Austrália, cujo produto per capita orbita uma média de US$ 71 mil possui 84 bilionários que acumularam um patrimônio de US$ 157.5 bilhões, perfazendo uma fortuna média de US$ 1.87 bi.
Para agravar ainda mais esse mosaico, é preciso frisar que, entre 1986 e 2015, a produtividade média do trabalhador nesses três últimos países girou em torno de US$ 49.3 mil, ao passo em que no trio latino-americano ficou em aproximadamente US$ 13.7 mil, ou seja, um valor quase quatro vezes menor.
Então, não faz muito sentido que essas três economias possuam a mesma quantidade de bilionários que a existente naquelas outras três e que tais elementos sejam até duas vezes mais ricos do que naqueles países desenvolvidos.
Resgatando uma observação feita por Celso Furtado, em uma de suas últimas entrevistas, faz sentido perguntar como países de baixíssima produtividade conseguem gerar bilionários mais ricos do que nos países desenvolvidos. A resposta dada pelo economista paraibano é tão crua quanto lapidar: “… concentrando renda!”.
Essa é uma hipótese plausível e, em vindo a ser confirmada, vai requerer das sociedades dessas três nações latino-americanas que repensem seus respectivos modelos de desenvolvimento, uma vez que ele estaria calcado numa iníqua estrutura de repartição da riqueza socialmente produzida.
Ainda assim, isso talvez não fosse um grande problema se muito dessas fortunas não fosse calcado no rentismo, na especulação e na depreciação do valor do trabalho assalariado. Muito embora o senso comum acredite que essas fortunas são resultado de um cotidiano esforço laboral, em verdade, elas se dão por meio da criação de leis que arrocham salários, do afrouxamento da regulação estatal e das desonerações das grandes fortunas. Em suma, elas podem ser tudo, menos resultado do suor do próprio rosto!
Dessa forma, provavelmente, a presença de tantos bilionários nesses países latinos não seja sinal de pujança, mas, em verdade, de uma disfuncionalidade. A forma pela são geridas as relações sociais de produção estariam voltadas para a acumulação desses privilegiados e, não, para o bem-estar geral.
É bem possível que, para esses povos, o problema talvez esteja na forma pela qual seus ricos ficam bilionários!
Aldemárcia
03/01/2020 - 16h55
Parabéns pelo texto, Fábio Salviano e Emerson Sousa.
Nosso povo precisa se informar, acordar… Obrigada.
Alan C
03/01/2020 - 09h48
Curioso, nenhum bolsominion acéfalo comentou aqui….
Paulo
02/01/2020 - 17h33
Algo me diz que Porco Guedes chegará ao seu bilhão, depois do Governo…
Graça Ferreira
02/01/2020 - 17h13
Parabéns pelo excelente texto
chichano goncalvez
02/01/2020 - 14h37
A solução é simples, é o povo fazer a reforma agraria na marra e estatizar todas as empresas, e quem não se submeter existe a chamada forca, isso basta.Quando os operarios que controem as nações tiveram algum beneficio ? Quando houve derramento de sangre, a histoira nos mostra., quanto ao resto é tudo conversa fiada.