Hoje a OCDE divulgou os resultados do PISA 2018, um dos mais importantes exames internacionais sobre a qualidade da educação na maioria dos países do mundo.
A China ficou em primeiro lugar. O Brasil, num dos últimos lugares. O desempenho dos estudantes brasileiros está estagnado, em leitura, matemática e ciências, desde 2009.
A nota do Brasil em leitura em 2009 foi de 412 pontos; em 2018, de 413 pontos (após cair para 407 pontos entre 2020 e 2015). A nota do Brasil em matemática em 2018 ficou em 384 pontos, abaixo dos resultados de 2009. Em ciências, a nota do Brasil em 2018 ficou em 404 pontos, contra 405 pontos em 2009.
O documento do PISA sobre o Brasil pode ser baixado aqui (em inglês).
A análise dos resultados, feita pela própria OCDE, pode ser baixada aqui.
Uma tabela com os resultados gerais mais importantes (editada para caber na tela) segue abaixo. Para visualizar a tabela completa, clique aqui.
Abaixo, links para documentos mais abrangentes:
Where all students can succeed
What school life means for students’ lives
Data
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Abaixo, matéria publicada pela Agência Brasil:
2% dos alunos brasileiros têm nota máxima em avaliação internacional
Pisa 2018 foi aplicado em 79 países a 600 mil estudantes de 15 anos
Publicado em 03/12/2019 – 06:00
Por Mariana Tokarnia – Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
Agência Brasil — O Brasil teve uma leve melhora nas pontuações de leitura, matemática e ciências no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), mas apenas dois a cada 100 estudantes atingiram os melhores desempenhos em pelo menos uma das disciplinas avaliadas. Os resultados da avaliação, que é referência mundial, foram divulgados hoje (3), pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O Pisa 2018 foi aplicado em 79 países e regiões a 600 mil estudantes de 15 anos. No Brasil, cerca de 10,7 mil estudantes de 638 escolas fizeram as provas. O país obteve, em média, 413 pontos em leitura, 384 pontos em matemática e 404 pontos em ciências. Na última avaliação, aplicada em 2015, o Brasil obteve, 407 em leitura, 377 em matemática e 401 em ciências.
As pontuações obtidas pelos estudantes colocam o Brasil no nível 2 em leitura, no nível 1 em matemática e também no nível 1 em ciências, em uma escala que vai até 6. Pelos critérios da OCDE, o nível 2 é considerado o mínimo adequado. Ao todo, quase metade, 43,2% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do nível 2 nas três disciplinas avaliadas. Na outra ponta, apenas 2,5% ficaram nos níveis 5 e 6 em pelo menos uma das disciplinas.
O Brasil ficou abaixo das médias dos países da OCDE. Em leitura, os 37 países membros do grupo, composto por exemplo, por Canadá, Finlândia, Japão e Chile, obtiveram 487 pontos em leitura, 489, em matemática e 489, em ciências. Como na avaliação 35 pontos equivalem a um ano de estudos, o Brasil está a pouco mais de dois anos atrás desses países. Na OCDE, 15,7% dos estudantes estão nos níveis 5 e 6 em pelo menos uma disciplina e 13,4% estão abaixo no nível 2.
O desempenho na avaliação posicionou o Brasil no 57ª lugar entre os 77 países e regiões com notas disponíveis em leitura, na 70ª posição em matemática e na 64º posição em ciências, junto com Peru e Argentina, em um ranking com 78 países. China e Singapura lideram os rankings das três disciplinas. O Brasil, nos três fica atrás de países latino americanos como Costa Rica, Chile e México. Supera, no entanto, Colômbia e Peru em leitura e a Argentina em leitura e matemática.
Apesar de participar do relatório, os resultados do Vietnã não são comparáveis, de acordo com a OCDE e, por isso não fazem parte do ranking, e a Espanha não teve os resultados de leitura divulgados.
Leitura
O Pisa é aplicado a cada três anos e, a cada edição, a ênfase é em uma das disciplinas. Nessa edição, o foco é em leitura. Em 2009, último ano, em que o foco foi em leitura, o Brasil obteve 412 pontos. De acordo com a OCDE, o Brasil não apresentou grandes saltos desde esse ano. “Depois de 2009, na matemática, assim como na leitura e na ciência, o desempenho médio pareceu flutuar em torno de uma tendência estável”, diz o relatório.
No Brasil, metade dos estudantes obteve pelo menos o nível 2 em leitura. Isso significa que esses estudantes são capazes de identificar a ideia principal de um texto de tamanho moderado e que podem refletir sobre o objetivo e a forma dos textos quando recebem instruções explícitas. Entre os países da OCDE, em média, 77% dos estudantes obtiveram esse desempenho.
Já os estudantes que obtiveram as melhores notas em leitura, que no Brasil representam apenas 2%, são capazes de compreender textos longos, lidar com conceitos abstratos e estabelecer distinções entre fato e opinião, com base em pistas implícitas relativas ao conteúdo ou fonte das informações. Entre os países da OCDE, 9% dos estudantes estão nos melhores níveis.
Matemática e ciências
Após queda na última avaliação, em 2015, a nota dos estudantes brasileiros em matemática voltou a crescer, mas apenas um a cada três estudantes, 32%, teve o desempenho mínimo – nível 2 ou superior. Entre os países da OCDE, três a cada quatro estudantes, 76%, obtiveram esse resultado.
Apenas 1% dos brasileiros está no nível 5 ou 6 em matemática. A média da OCDE é 11%. Esses alunos podem resolver situações complexas matematicamente.
Em ciências 45% dos estudantes brasileiros estão pelo menos no nível 2 e 1% está entre os melhores. Entre os países da OCDE, essas porcentagens são respectivamente, 78% e 7%.
Desigualdade
De acordo com a OCDE, o nível socioeconômico dos estudantes teve impacto no desempenho nas provas. No Brasil, a diferença de desempenho entre aqueles com nível socioeconômico alto e aqueles com nível baixo, foi de 97 pontos em leitura, o que equivale a quase três anos de estudo. Essa diferença superou a média da OCDE, que é de 89 pontos.
Edição: Aline Leal
Rodrigo
08/03/2021 - 23h44
Por que os 3 gráficos no alto não trazem os números desde o ano 2000? (Se é que nossa participação começou nesse ano.) Parte significativa da melhora brasileira foi retirada dos gráficos!
Paulo
03/12/2019 - 16h57
O sistema de cotas pras universidades não estimula o esforço, e, muito menos, o premia…
Robert
04/12/2019 - 16h45
Como não estimula o esforço e não o premia? Então os negros brasileiros não se esforçaram durante trezentos anos de escravidão e não continuam se esforçando para sobreviver em nossa sociedade racista e genocida?
Paulo
04/12/2019 - 21h58
Robert, eu não nego o racismo, na sociedade brasileira. Mas não há ódio racial, como em outros países. O Brasil é uma sociedade sui-generis, que caminha desde sempre para a miscigenação. Esse é o nosso “destino manifesto”: a “Roma Tropical”, como dizia Darcy Ribeiro. Não vamos atropelar o processo em nome de urgências produzidas! É disso que falo, não sei se me entende…
Marcos Videira
03/12/2019 - 15h52
Estagnada e ABAIXO da MÉDIA.
Esta semana serão construídas narrativas pra relativizar o fato.
Mas o fato é que a Educação do Brasil está estagnada e abaixo da média.
Robert
04/12/2019 - 01h40
É contra o relativismo, a contextualização? Acha, por exemplo, que a questão da educação brasileira será resolvida quando todo o sistema que está aí for destruído? Quando tudo for vendido e as escolas passarem a ser chefiadas por milicos caducos? Ou, ao contrário, quando a criatividade mágica do Mangabeira Unger descer do Olimpo para fulminar a política brasileira no monte Sinai dos Planalto?
Paulo Cesar Cabelo
03/12/2019 - 13h42
Título sensacionalista , isso mede a capacidade dos alunos , ok , mas quantas universidades foram construídas e quantos pobres receberam bolsas do prouni entre 2009 e 2014?
Nem todo mundo tem bilionário pra financiar seus estudos como a Tábata.
Meu primo foi o primeiro da família a ter curso superior , graças ao FIES e entrou na faculdade em 2009.
Aliás o que a Tábata fez até agora pela educação?
Aprovou a reforma da previdência para matar os avós dos estudantes de fome?
Robert Roal
03/12/2019 - 09h57
Ops, muito estranha essa matéria!
Os valores divulgados de 2003 até 2015 (*”Rankings comparison 2003 – 2015″) indicam que a posição relativa do Brasil aumentou ano a ano (2006, 2009 e 2012), até voltar a cair em 2015, véspera do golpe de estado que destituiu o governo petista e no qual, além das deseperadas medidas neoliberais levadas a cabo pelo acossado governo Dilma, também foi farto em pautas bomba criadas pelo congresso nacional para pavimentar dito golpe.
*(https://en.wikipedia.org/wiki/Programme_for_International_Student_Assessment#Rankings_comparison_2003_-_2015)
Redação
03/12/2019 - 10h06
Robert, nesse link que você postou há confirmação da matéria, que é inteiramente baseada nos dados da OCDE: Veja o score (pontuação) do Brasil em 2015:377; 2012: 89; 2009: 386. Ou seja, queda. Participação relativa é diferente de pontuação.
Robert Roal
03/12/2019 - 14h56
Sim, o Brasil caiu no ranking, mas aumentou sua pontuação, de 2003 até 2012.
Alan C
03/12/2019 - 09h02
Mas o Nassif acha que o Brasil só tem saída com Lula….
Robert Roal
03/12/2019 - 17h33
Nota Pisa 2018
Mais uma vez, ao invés de procurar fazer uma análise aprofundada e apresentar propostas concretas para a melhoria da qualidade da educação brasileira, o governo Bolsonaro prefere justificar a tragédia que está em curso na educação com respostas evasivas e uma guerra ideológica obscurantista. O atual ministro ataca o PT, que está há quase quatro anos fora do governo, de forma ainda mais descabida agride Paulo Freire e, mais uma vez, não propõe absolutamente nada para a melhoria da educação.
O atual governo precisa compreender que a educação exige gestão, uma equipe qualificada e que as ações do MEC devem ser concebidas como uma política de Estado, em que a estabilidade e a continuidade assegurem resultados.
Os governos do PT patrocinaram uma extraordinária inclusão educacional. Em 2002, 36,9% da população tinham concluído o ensino fundamental, em 2015, atingimos 54,45%, o que reforça que ainda temos um imenso desafio na inclusão escolar. Entre os 5% mais pobres, apenas 6,8% tinham o ensino fundamental, em 2015, eram 30,3%.
Entre os jovens de 6 a 14 anos, praticamente universalizamos o acesso, com 98,2% das crianças e jovens matriculados nas escolas. No ensino médio, tivemos um crescimento de 120% das matrículas, entre 1990 e 2014. Mas o desafio do acesso permanece. Tínhamos, em 2002, 42% dos jovens entre 15 e 17 anos matriculados nessa etapa. Em 2014, atingimos 61,02%, que estão na idade certa, nessa etapa escolar. Hoje, temos 8,1 milhões de estudantes matriculados, mas 1,6 milhões ainda estão fora da escola.
Quanto à qualidade, tínhamos, desde 1990, um indicador, que era o Saeb, uma avaliação amostral. Em 2007, foi implantado o Ideb, que avalia proficiência e fluxo escolar de forma censitária. O Ideb demonstra que os anos iniciais do ensino fundamental têm tido uma evolução acima da meta esperada, os anos finais um desempenho muito próximo e o ensino médio permanece com uma importante defasagem.
Desenvolvemos a Base Nacional Comum Curricular, com ampla consulta democrática, para dialogar com a diversidade de interesses dos estudantes, aprimorar a gestão pedagógica, a formação de professores e a produção de material didático no ensino médio. Esse processo foi interrompido depois do golpe que afastou a presidenta Dilma. Medidas autoritárias, como a MP que tentou acabar com as disciplinas de artes, esportes, filosofia e sociologia, sem nenhum diálogo, geraram uma forte reação e deflagraram um processo de conflitos e instabilidade.
Desde então, nada do que foi prometido foi implementado. O governo atual não tomou uma única providência para apoiar os governos estaduais e melhorar a qualidade do ensino médio. O atual governo reduziu ou paralisou programas de formação de professores e não apresentou uma única alternativa, neste que é o maior desafio da indução à qualidade.
As escolas cívico-militares, propostas pelo governo Bolsonaro, pretendem atingir apenas 0,15% da rede. A qualidade da educação não está na militarização, mas na valorização e formação dos professores, aprimoramento curricular e pedagógico, ações em que o atual governo continua sendo um completo fracasso.
O Pisa não é o Enem. É um exame realizado em uma pequena amostra, sem nenhuma devolutiva para os estudantes participantes, seus professores ou suas escolas. Diferente de um exame como o Enem, que é um caminho de oportunidades para os estudantes chegarem ao ensino superior. Mas, é um indicador que deve ser considerado, dentro dessas limitações.
No Pisa 2015, último realizado nos governos do PT, a fotografia era ruim, mas o filme era promissor. Fomos o país que mais evoluiu em matemática, entre todos os participantes. Ainda no Pisa de 2015, os Institutos da Rede Federal tiveram um extraordinário desempenho. Ficaram em 2º lugar em leitura, 11º em ciências e 30º em matemática, entre os 70 países mais ricos do planeta. Ficaram na elite da educação mundial e se fossem um país estariam em primeiro lugar na América Latina.
O desafio da qualidade permanecia, em uma rede que 84% é responsabilidade dos governos estaduais, com resultados muito diferenciados, tanto no Pisa quanto no Ideb. Mas, de uma forma geral, o país investe cerca de 1/3 no ensino básico, quando comparado à média dos países membros da OCDE. É evidente, que a rede de ensino médio dos estados precisa de mais recursos orçamentários no Fundeb e políticas públicas indutoras, especialmente a valorização e formação dos professores. Aliás, sobre o Fundeb, é desastrosa a completa omissão do MEC na renovação do fundo. Sem o Fundeb, cerca de 3 mil municípios perderiam a capacidade de pagamento dos salários de seus professores. O MEC, depois de mais de um ano de discussões, não apresentou uma proposta sequer e o governo segue obstruindo a votação do Fundeb.
Precisamos lembrar o atual ministro que, nos governos do PT, aumentamos a jornada escolar obrigatória que era dos 6 aos 14 anos, para dos 4 aos 17 anos. Aumentamos as matrículas na faixa etária de 0 a 3 anos de 19,2%, em 2004, para 31,9%, em 2016. Implantamos a Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA), em 2012, que era censitária para permitir o acompanhamento de cada criança, que o atual governo transformou em amostral.
A atual gestão desarticulou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, focado na formação complementar dos cerca de 300 mil alfabetizadoras e alfabetizadores, pelo chamado “Plano Nacional de Alfabetização”, que não tem ações concretas. Esse “Plano” agride a pluralidade pedagógica, apenas tenta impor o método fonético de alfabetização e culminou na demissão da equipe responsável pela total inoperância. Querem agora implantar o voucher e abrir o caminho para setores empresariais, que estão ávidos pela privatização dos recursos destinados à educação pública.
No ensino superior, com a ampliação da rede de Universidades e Institutos Federais, com o Enem, o Prouni e a Lei de Cotas, promovemos um imenso estímulo aos estudantes das escolas públicas, negros e negras, que já respondem por mais da metade das vagas nas universidades públicas.
Por fim, são inaceitáveis os ataques obscurantistas e descabidos do atual ministro ao patrono da educação brasileira, Paulo Freire. Conheci Paulo Freire quando ele voltou do exílio, no final dos anos 70, e dávamos aula na PUC/SP. Um intelectual brilhante, denso, criativo, inovador e uma pessoa delicada, respeitosa, que sempre tinha algo a ensinar, em cada frase, em todos os gestos.
Além de ser o segundo brasileiro com maior número de títulos de doutor honoris causa em todo mundo, Paulo Freire é um homem que dedicou sua vida à educação e deu uma contribuição inestimável para o país, a partir da construção de uma pedagogia libertadora, especialmente para alfabetização de adultos. Ele passou parte importante de sua vida dedicado a superar a perversa herança histórica do analfabetismo adulto. É só lembrar que em 1920, 75% da população brasileira era analfabeta.
Em vida, Paulo Freire foi perseguido pela ditadura militar, que o exilou e o perseguiu. Agora, já morto, tem sua memória e obra afrontadas por um governo, que agride recorrentemente o Estado democrático de direito e que flerta cotidianamente com a ditadura e com o AI-5, envergonhando o Brasil em todo mundo com sua visão obscurantista e autoritária. O Brasil tem ainda um imenso desafio na melhoria da qualidade da educação, mas o comportamento do atual governo em nada está contribuindo para essa imensa e inadiável tarefa.
Aloizio Mercadante, ex-ministro da Educação.