POR QUE PIOROU O RESULTADO DE NOSSAS CONTAS EXTERNAS?
Por Nelson Marconi, em seu Facebook
Nas últimas semanas, a discussão sobre a queda do nosso saldo em transações correntes (que reflete basicamente as operações de compras e vendas de bens e serviços com o exterior, mais o pagamento de juros e lucros, em termos líquidos, a outros países), tem ganho espaço no debate, juntamente com a alta do dólar.
Nessa nota, vou mostrar porque piorou o saldo em transações correntes por meio dos resultados de um estudo elaborado em conjunto com Rafael Leão e João Guilherme Machado. Vocês vão ver que a motivação é bem específica e, certamente, ligada aos erros de política comercial de nosso governo e à queda do crescimento na Argentina.
Quando comparamos os resultados do período janeiro-outubro de 2019 com semelhante período de 2018, observamos uma piora de US$ 13,3 bilhões no saldo em transações correntes.
Houve uma queda no pagamento de juros compensada por uma alta na remessa de lucros, mas o fator mais importante para explicar esse comportamento é a redução observada nas exportações – exatos US$ 13,3 bilhões (as importações cresceram apenas US$ 1 bi). Portanto, fica claro que a piora do saldo em transações correntes está intimamente associada à diminuição das exportações, praticamente na mesma medida.
Desagregamos o resultado das exportações e identificamos o cruzamento entre produtos e mercados que registraram as maiores quedas. As exportações de soja para a China caíram US$ 6,3 bi no mesmo período de comparação; a de automóveis para a Argentina, US$ 3,3 bi; e a de aeronaves, turbinas, turbinas, motores e outros componentes e peças para aeronaves caiu US$ 1 bi para os EUA e Holanda.
O conjunto dessas reduções atinge US$ 10,6 bilhões. Lógico que foram registradas outras quedas, bem como outras elevações de exportações, mas as que estou citando estão dentre as maiores.
No caso dos automóveis, a redução se deve ao desaquecimento da economia argentina; mas, em relação à soja, parte da queda é explicada por erros de nossa diplomacia e sua política de alinhamento unilateral aos EUA e, no caso das aeronaves, certamente devido à venda da Embraer.
Em resumo: a busca desse alinhamento quase que ingênuo à política comercial americana, seja através da busca de acordos ou da venda de nossas empresas, está prejudicando nossas exportações e nossa economia. E possivelmente esse quadro se agravará, dado o anúncio de tarifas que serão impostas pelos americanos em relação ao nosso aço. Essa política de abertura unilateral, sem contrapartida, não melhorará, pelo contrário, piorará nossas contas externas, como já prevíamos anteriormente.
Esse governo está sendo bem eficiente em dar cabo final à nossa estrutura produtiva e agora, está caminhando na mesma direção em relação às nossas contas externas.
É bom também lembrar que muita gente anda questionando o efeito nulo do atual nível da taxa de câmbio sobre o resultado das contas externas. Parcela da resposta se encontra na discussão acima; não há câmbio que compense tais barbeiragens. Quanto ao outro ingrediente da resposta, eu diria que após dez anos de apreciação, não será no curto prazo que a situação se reverterá. Muitos empresários já se transformaram em importadores, de insumos ou bens finais, infelizmente. Uma tragédia.
Para o câmbio impactar as vendas externas, é necessário que o nível atual (ou até um patamar um pouco mais baixo) se sustente, com relativa estabilidade, por um bom tempo. Não se cura um alcoólatra com uma semana de tratamento clínico.