Segundo o BC, US$ 40 bilhões saíram do país em Jan/Set 2019

O dado que mais chama atenção é o aumento acelerado do déficit das transações correntes [que é o mesmo que conta corrente], o que reflete um movimento de fuga de dólares do país, seja na forma de transferência de lucros para o exterior, seja na forma da deterioração da nossa balança comercial.

Em outubro de 2019, o déficit em transações correntes totalizou US$7,9 bilhões, ante déficit de US$2,0 bilhões em outubro de 2018, um aumento de 295%. O valor chegou a 3,0% do PIB, o maior desde 2015.

No acumulado de 12 meses até outubro, o déficit de transações correntes totalizou US$ 54,8 bilhões, alta de 12% em relação ao período anterior.

O BC revisou inúmeros números do setor externo brasileiro, conforme se pode verificar na tabela ao final do post.

A revisão revela que a conta financeira do Brasil (que considera também o capital especulativo em bolsas) em 2018 ficou negativa em US$ 42,4 bilhões (e não em US$ 25,7 bilhões, como se estimava antes).

Em Jan/Set 2019 a conta financeira já está negativa em US$ 40,5 bilhões.

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No BC

Estatísticas do setor externo
1. Balanço de pagamentos

Em outubro de 2019, o déficit em transações correntes totalizou US$7,9 bilhões, ante déficit de US$2,0 bilhões em outubro de 2018 (valor revisado). O incremento no déficit decorreu, fundamentalmente, da redução no saldo positivo da balança comercial de bens, de US$5,3 bilhões para US$490 milhões.

O déficit em transações correntes somou US$54,8 bilhões (3,00% do PIB) nos 12 meses encerrados em outubro, ante déficit de US$48,9 bilhões (2,67% do PIB) no período equivalente, até setembro (valor revisado). A seção 3 apresenta os detalhes da revisão de lucros de investimento direto.

As exportações de bens totalizaram US$18,3 bilhões em outubro de 2019, recuo de 16,5% ante o mês correspondente de 2018. Na mesma base de comparação, as importações de bens aumentaram 7,5%, para US$17,8 bilhões. Não houve registro de operações relativas ao Repetro nem em outubro de 2018, nem em outubro de 2019. No acumulado do ano, as exportações reduziram 6,7%, enquanto as importações aumentaram 0,7%, resultando em superávit comercial de US$29,1 bilhões, abaixo dos US$43,5 bilhões observados em período correspondente de 2018.

O déficit na conta de serviços atingiu US$3,6 bilhões no mês, 7,8% superior ao resultado de outubro de 2018, déficit de US$3,3 bilhões. Destaquem-se os aumentos nas despesas líquidas de transportes, de US$500 milhões para US$618 milhões, e de telecomunicação, computação e informações, de US$191 milhões para US$288 milhões. Apesar do aumento do déficit em serviços no mês, o acumulado em 2019, até outubro, situou-se em patamar semelhante ao observado em período equivalente do ano anterior.

No mês de outubro, o déficit em renda primária atingiu US$4,9 bilhões, comparativamente a déficit de US$4,1 bilhões no mesmo mês do ano anterior (valor revisado). A elevação decorreu, principalmente, do aumento das despesas líquidas de juros, de US$1,6 bilhão para US$2,2 bilhões, na mesma base de comparação. No acumulado do ano, o déficit em renda primária totalizou US$46,4 bilhões, equivalente aos US$46,2 bilhões registrados em período correspondente de 2018 (valor revisado).

Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) somaram US$6,8 bilhões no mês, resultado de ingressos líquidos de US$5,3 bilhões em participação no capital e ingressos líquidos de US$1,5 bilhão em operações intercompanhia. No acumulado do ano, os ingressos líquidos de IDP somaram US$62,1 bilhões, superiores aos US$60,8 bilhões observados no mesmo período de 2018 (valor revisado). No acumulado em 12 meses até outubro, os ingressos líquidos de IDP totalizaram US$79,5 bilhões, equivalentes a 4,35% do PIB (US$81,1 bilhão e 4,43% do PIB no acumulado em 12 meses até setembro).

Em outubro, houve saídas líquidas de US$4,0 bilhões em instrumentos de portfólio negociados no mercado doméstico, dos quais US$1,2 bilhão em ações e fundos de investimento e US$2,8 bilhões em títulos de dívida. No ano, até outubro, as saídas líquidas de US$1,4 bilhão em instrumentos negociados no mercado doméstico, compostas por saídas líquidas de US$3,3 bilhões em ações e fundos de investimento, e entradas líquidas de US$1,8 bilhão em títulos de dívida.

2. Reservas internacionais

O estoque de reservas internacionais atingiu US$369,8 bilhões em outubro de 2019. A redução de US$6,6 bilhões nesse estoque, relativamente à posição de setembro, decorreu principalmente da liquidação de US$8,7 bilhões de vendas no mercado à vista. A variação por paridades contribuiu para ampliar o estoque de reservas em US$1,2 bilhão, enquanto a receita de juros adicionou US$617 milhões.

3. Revisões
3.1 Lucros de investimento direto

Em novembro de 2018, a metodologia de compilação da estatística de lucros de investimento direto do balanço de pagamentos foi alterada, conforme item 3.2 do texto da Nota para a Imprensa – Estatísticas do Setor Externo divulgado naquele mês. A metodologia adotada desde então utiliza como fonte de dados as pesquisas Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) e Censo de Capitais Estrangeiros no País (Censo). Os resultados do CBE e do Censo para, respectivamente, os créditos (receitas) e débitos (despesas) de lucros são, em termos estatísticos, qualitativamente superiores aos dos contratos de câmbio (fonte de dados anterior) pois permitem apurar essa estatística pelo critério de competência, possibilitam melhor classificação da categoria funcional da empresa receptora/remetente e incluem os lucros reinvestidos.

Para o período em que os resultados dessas pesquisas ainda não estão disponíveis são realizadas estimativas baseadas nos contratos de câmbio e outras fontes complementares. As substituições dessas estimativas pelos resultados do CBE e do Censo originam revisões nas estatísticas de lucros. Conforme a Política de Revisão de Estatísticas, essas revisões são ordinárias, tendo frequência anual. Nos meses de julho (novembro), as estimativas de receitas (despesas) de lucros para o ano anterior são revisadas pelas estatísticas apuradas a partir do CBE (Censo). Nessas mesmas duas datas, as estimativas preliminares para os lucros do ano corrente também são revisadas.

Os lucros de investimento direto são compostos por dividendos distribuídos e lucros reinvestidos. Os dividendos distribuídos refletem a decisão das empresas de destinar parcela do lucro total, auferido em período corrente ou anteriores, aos seus investidores diretos. Os lucros reinvestidos representam a parcela dos lucros retidos (e, portanto, não distribuídos), atribuída aos investimentos diretos. Lucros reinvestidos figuram simultaneamente na renda primária das transações correntes e no investimento direto, como aumento em participação no capital, da conta financeira. Dessa forma, a revisão da estatística de lucros impacta os fluxos de transações correntes e de investimentos diretos.

Para o ano de 2018, as despesas líquidas de lucros de investimento direto foram revisadas de US$12,1 bilhões (valor estimado) para US$31,5 bilhões (valor revisado), elevação de US$19,4 bilhões. Essa revisão pode ser decomposta nos seguintes elementos.

As despesas líquidas de dividendos distribuídos, cujas estatísticas definitivas têm como fonte pergunta específica nas pesquisas CBE e Censo, foram revisadas de US$12,6 bilhões (valor estimado) para US$17,9 bilhões (valor revisado), elevação de US$5,3 bilhões. Desse montante, US$2,6 bilhões foram revisados a partir de contratos de câmbio de remessa de investimentos em portfólio – passivos relacionados a fundos de investimento, após identificação de que esses fundos constituíam empresas de investimento direto, por terem mais de 10% de seu capital detido por investidor não residente. Os resultados do Censo permitiram, portanto, reclassificação da categoria funcional da transação em relação àquela inicialmente classificada no contrato de câmbio. O restante do valor revisado decorre da utilização das pesquisas como fonte de informações para os dividendos distribuídos, substituindo os contratos de câmbio para essa conta.

Os lucros reinvestidos líquidos, cuja estatística definitiva tem como fonte a diferença entre as perguntas sobre lucros totais e dividendos distribuídos nas pesquisas CBE e Censo, foram revisados de receitas líquidas de US$409 milhões (valor estimado) para despesas líquidas de US$13,6 bilhões (valor revisado), diferença de US$14,0 bilhões. Desse montante, a diferença entre as receitas de lucros reinvestidos estimadas e definitivas representou US$12,7 bilhões, decorrente do erro de estimativa em função da significativa redução das receitas de lucros de investimento direto apuradas no CBE para os anos de 2017 (US$17,3 bilhões) e 2018 (US$4,8 bilhões). A revisão das despesas de lucros reinvestidos atingiu US$1,3 bilhão, em função da diferença entre a estimativa (US$15,0 bilhões) e o resultado definitivo (US$16,3 bilhões) do Censo.

A revisão dos lucros líquidos totais para o ano de 2018 impacta as transações correntes, os investimentos diretos no exterior (IDE) e os investimentos diretos no país (IDP).

O déficit em transações correntes do ano passado foi revisado de US$21,9 bilhões (1,2% do PIB) para US$41,5 bilhões (2,2% do PIB), elevação de US$19,6 bilhões, como consequência do aumento das despesas líquidas na conta de lucros de investimento direto. Os fluxos de IDP foram ligeiramente elevados, em função da revisão das despesas de lucros reinvestidos, passando de US$76,8 bilhões (valor estimado) para US$78,2 bilhões (valor revisado).

Os fluxos de IDE tiveram revisão mais significativa, em função da magnitude da revisão das receitas de lucros reinvestidos. Dessa forma, o IDE em 2018 passou de US$14,7 bilhões (valor estimado) para US$2,0 bilhões (valor revisado).

Para o período de janeiro a setembro de 2019, as estimativas preliminares de lucros de investimento direto também foram revisadas. As receitas de lucros foram revisadas a partir das informações para o primeiro semestre de 2019 constantes dos CBE trimestrais para o primeiro e segundo trimestres do ano (extrapolados). As despesas de lucros, igualmente, foram revisadas a partir das informações para o primeiro semestre de 2019 constantes dos balanços contábeis das empresas abertas (aproximadamente 30% do estoque dos passivos de investimentos diretos) e da Declaração Econômico-Financeira trimestral, integrante do Registro Declaratório Eletrônico de Investimentos Estrangeiros Diretos (RDE-IED). Também foram utilizadas informações dos contratos de câmbio, tanto para receitas quanto para despesas.

No acumulado de janeiro a setembro deste ano, as despesas líquidas de lucros de investimento direto foram revisadas de US$16,2 bilhões (valor estimado) para US$20,0 bilhões (nova estimativa), elevação de US$3,8 bilhões. No período, não houve revisão para os dividendos distribuídos.

As receitas de lucros reinvestidos foram revisadas de US$7,9 bilhões (valor estimado) para US$11,9 bilhões (nova estimativa), elevação de US$4,0 bilhões, enquanto as despesas de lucros reinvestidos foram revisadas de US$15,3 bilhões (valor estimado) para US$23,1 bilhões (nova estimativa), elevação de US$7,8 bilhões.

Em função dessa revisão nos lucros de investimentos diretos, o déficit em transações correntes dos nove primeiros meses do ano elevou-se de US$34,1 bilhões (valor estimado) para US$37,8 bilhões (nova estimativa), revisão de US$3,7 bilhões.

Os fluxos de IDP e de IDE foram revisados nos mesmos montantes das revisões das despesas e das receitas, respectivamente, de lucros reinvestidos. Dessa forma, o IDP foi revisado de US$47,5 bilhões (valor estimado) para US$55,3 bilhões (nova estimativa), elevação de US$7,8 bilhões, enquanto o IDE foi revisado de US$12,6 bilhões (valor estimado) para US$16,6 bilhões (nova estimativa), elevação de US$4,0 bilhões.
3.2 Posição de IDP

Na Posição de Investimento Internacional (PII), o estoque de IDP para 2018 foi revisado, com a estimativa da modalidade Participação no Capital substituída pelo resultado obtido no Censo. A posição total, antes estimada em US$762,0 bilhões, passou a US$737,9 bilhões.

Esta e outras estatísticas mais detalhadas de investimento direto estão disponíveis no Relatório de Investimento Direto, que compreende fluxos (principal e renda) e posições de ativos e passivos de investimento direto para o ano de 2018.

3.3 Resumo da revisão do balanço de pagamentos de 2018 e 2019 (janeiro a setembro)

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