Editoria: Estatísticas Sociais | Marilia Loschi | Arte: Simone Mello
13/11/2019 10h00 | Atualizado em 13/11/2019 10h36
Agência IBGE — As taxas de homicídio no país não se reduziram no período de 2012 a 2017. Pelo contrário, entre pessoas pretas ou pardas, essa taxa aumentou de 37,2 para 43,4 mortes para cada 100 mil habitantes, enquanto, para a população branca, o índice ficou estável entre 15,3 e 16. Essa diferença significa que pretos ou pardos tinham 2,7 vezes mais chances de serem vítimas de homicídio em 2017.
Os dados, divulgados hoje pelo IBGE, são do estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, e ajudam o país a acompanhar a meta de reduzir taxas de mortalidade relacionadas à violência, parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
As diferenças são ainda mais acentuadas na população jovem. A taxa de homicídios chega a 98,5 entre pessoas pretas ou pardas de 15 a 29 anos. Entre jovens brancos na mesma faixa etária, a taxa de homicídios é de 34 por 100 mil habitantes.
Os números ainda mostram que estudantes pretos ou pardos do 9° ano do ensino fundamental vivenciavam mais experiências violentas do que os brancos. Frequentar escolas situadas em áreas de risco de violência, ter sido agredido por algum adulto da família, envolvimento em briga com uso de arma de fogo ou de arma branca – todas essas variáveis estavam presentes mais intensamente no dia a dia de pretos ou pardos.
Segundo a analista do IBGE, Luanda Botelho, a combinação dessas duas formas de violência ajuda a traçar um panorama mais amplo das desigualdades. “Nós analisamos a violência mais extrema, através das taxas de homicídio, mas também a violência mais presente no cotidiano, do ambiente em que essa população está inserida”, explicou a pesquisadora.
E, no longo prazo, as situações de violência na vida dos jovens também têm reflexos. “Os estudos mostram que quem mais sofre com a violência na adolescência também está mais sujeito a doenças como depressão, a piores resultados acadêmicos e a se envolver em violência no futuro, por exemplo”, comentou Luanda.
O estudo recuperou dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), que revelou que, em 2015, 15,4% dos pretos ou pardos e 13,1% dos estudantes brancos do 9º ano do ensino fundamental não compareceram à escola por falta de segurança no trajeto casa-escola ou na escola, nos 30 dias anteriores à pesquisa. Mais da metade dos alunos pretos ou pardos (53,9%) estudavam em estabelecimentos localizados em área de risco em termos de violência, contra 45,7% dos brancos.
Apesar das desigualdades, índices de educação vêm melhorando
No entanto, os dados de educação vêm apresentando melhoras gradativas entre 2016 e 2018. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 9,8% para 9,1%, a proporção de pessoas de 25 anos ou mais com pelo menos o ensino médio completo aumentou de 37,3% para 40,3% e a proporção de pessoas que frequentam ou já concluíram o nível adequado para sua faixa etária aumentou para todos os grupos de idade nesse período.
Outro indicador que apresentou incremento na população preta ou parda, entre 2016 e 2018, foi a proporção de estudantes de 18 a 24 anos de idade cursando ensino superior, que passou de 50,5% para 55,6%. E, no contexto das políticas de ampliação e democratização do acesso ao ensino superior, a pesquisa mostra que, em 2018, estudantes pretos ou pardos passaram a compor maioria nas instituições de ensino superior da rede pública do país (50,3%).