Trecho de entrevista de Paulo Teixeira, candidato à presidência do PT:
Para 2022, ele já projeta uma repetição do que aconteceu em 2018. A ideia é que o candidato seja Lula, mas, caso ele continue inelegível, a saída será utilizar novamente o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad. A iminente saída do ex-presidente da prisão para cumprir sua pena pela condenação do tríplex no regime semiaberto não tira a inelegibilidade de Lula.
A entrevista é de 22 de outubro, mas ainda é atual e merece estar registrada em nosso banco de dados.
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No UOL
Candidato pede mais transparência e “outro modelo democrático” no PT
Por Nathan Lopes
Do UOL, em São Paulo
22/10/2019 04h00
Um dos três candidatos já apresentados a presidente nacional do PT, o deputado federal Paulo Teixeira (SP) criticou o partido por não ter construído uma frente permanente da esquerda. Em entrevista ao UOL, ele também apontou que, se eleito, irá implementar uma agenda de modernização, buscando mais transparência.
Teixeira, 58, está em seu quarto mandato na Câmara. Em 2018, foi reeleito com pouco mais de 78 mil votos. Ele foi líder do partido na Casa em 2011.
A nova direção nacional do partido será eleita em 24 de novembro, no 7º Congresso Nacional do partido, por delegados. Além de Teixeira, também disputam o cargo a atual presidente, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), e Valter Pomar, ex-secretário de Relações Internacionais do PT. Outros nomes ainda poderão ser apresentados até a eleição. Gleisi tem o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal liderança do partido.
Transparência
Teixeira recebeu a reportagem do UOL em seu escritório político na capital paulista na segunda-feira (21). Para o parlamentar, o partido precisa de um “outro modelo democrático”. O PT, na visão de Teixeira, precisa estar mais perto de seus filiados e apoiadores. “Uma organização mais moderna, de lista de filiados na internet, com votações eletrônicas. Uma maneira mais democrática de organizar o partido”, disse.
O deputado também propõe que haja uma maior transparência na área financeira do partido. “Nós achamos que tem que ter uma transparência na gestão financeira do PT e mecanismos de integridade, mecanismos de controle”, diz, citando a importância do tema ao comentar os problemas enfrentados pelo PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, “todo enrolado nessa questão financeira”.
Teixeira acha que o PT deveria ter um comitê financeiro e que a questão não fique centrada apenas na figura do tesoureiro. “A crise não está no PT, mas nós nunca poderemos entrar em crises como essa”, comenta. “Acho que tem que ter um comitê financeiro preventivo”, pontuando que não existiriam problemas nas contas do partido. Dois ex-tesoureiros do PT, Delúbio Soares e João Vaccari Neto, chegaram a ser presos por ligação com esquemas de corrupção.
União da esquerda
Um outro ponto levantado por Teixeira é que o partido precisa tornar permanente uma frente pela esquerda. Para ele, na gestão de Gleisi, isso aconteceu pontualmente, mais perto da eleição do ano passado.
Dessa forma, ele acredita que o partido deve apoiar candidaturas de outros partidos.
Para Teixeira, a busca por essa frente de esquerda pode começar pelo apoio a candidaturas de outros partidos em capitais no ano que vem, como as de Manuela D’Ávila (PCdoB), em Porto Alegre, e a de Marcelo Freixo (PSOL), no Rio. Em São Paulo, porém, o candidato precisa ser petista na sua avaliação. “Aqui é um território em que o PT é mais forte”, avalia.
Para ele, se o PT quiser disputar em todas as capitais, vai “perder esse diálogo rico com a esquerda que nós construímos já no impeachment [da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016]”. “O momento das eleições municipais deve ser de aprofundamento dessa frente da esquerda, que deveria ser mais permanente.”
Esquerda contra Bolsonaro
O resultado do próximo pleito, na sua visão, tem que ser a vitória da esquerda, independentemente de o candidato ser do PT ou de um partido aliado, contra Bolsonaro. “Nós não deveríamos estreitar o nosso foco de visão para lançar candidato no Brasil inteiro em prejuízo de fazer essas alianças”, comenta. “Basta construir essa unidade [da esquerda] que vamos ganhar.”
Temos que fazer um mosaico nacional e, para isso, o PT precisa ter uma construção de uma frente de esquerda no Brasil
Paulo Teixeira, deputado federal (SP) e candidato a presidente do PT
Teixeira lembra que partidos como PSOL e PCdoB têm sido aliados em outra bandeira do partido, a do “Lula livre”. O candidato diz que esse tema é “fundamental” para o PT e que Lula pode ajudar no processo de unificação da esquerda. O PSB e o PDT também precisam fazer parte desse “mosaico”, segundo o deputado. “São parceiros nossos, inclusive no ‘Lula livre’.”
Lula (e Haddad) de novo
Para 2022, ele já projeta uma repetição do que aconteceu em 2018. A ideia é que o candidato seja Lula, mas, caso ele continue inelegível, a saída será utilizar novamente o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad. A iminente saída do ex-presidente da prisão para cumprir sua pena pela condenação do tríplex no regime semiaberto não tira a inelegibilidade de Lula.
“Eu acho que, na hipótese de o presidente não puder disputar, eu acho que o nome do Haddad é o nome mais imediato, mais natural”, avalia. Sobre outros nomes, como os dos governadores petistas Rui Costa, da Bahia, e Camilo Santana, do Ceará, ele diz: “Tem fila. E, na fila, o Haddad está na frente”.
Além de disputar a chefia do PT, Teixeira também tem o desejo de ser o candidato do partido para a Prefeitura de São Paulo. Outros nomes, como o do ex-ministro da Saúde e atual deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), também são apontados como possibilidade. “O mais importante agora é formar a frente de esquerda. Depois, ver quem vai ser o candidato”, diz o parlamentar.
Teixeira avalia que, desde o impeachment, o PT tem se movimentado para mudar. “A minha questão é a velocidade e a intensidade.” Sobre a gestão de Gleisi, por exemplo, o deputado critica sua colega por ter demorado para “criar um núcleo dirigente mais permanente”.
O deputado entende que sua concorrente na disputa tem um “apoio forte e importante” de Lula, mas aponta que sua candidatura “tem como objetivo fazer um grande debate político com vistas a mudar o PT”. “A gente precisa mudar o PT para ele cumprir um papel nesse processo [de união permanente das esquerdas]”, comenta.