A obsessão pelo liquidacionismo tem sido a tônica das defesas liberais radicais no Brasil. É a vertigem pelo suicídio, tão própria a um país que perdeu a capacidade de pensar pragmaticamente seus interesses, fora da burrice dos dogmas e servilismos de ocasião.
Na mesma semana em que os quatro maiores bancos privados do país divulgaram o maior lucro em 25 anos, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística revelou que a pobreza bate recorde e atinge 13,5 milhões de brasileiras e brasileiros, que estão vivendo com menos de R$ 145 por mês. Segundo analistas do IBGE, o retrato brasileiro só vai melhorar se houver melhora do mercado de trabalho e implantação de programas de redistribuição de renda. Mas o que vemos é o oposto disso. A parcela de empregados com vínculo formal de trabalho é a menor em sete anos. Ao mesmo tempo, o número de trabalhadores sem carteira assinada e de empregados por conta própria é o maior no mesmo período. A cobertura do Bolsa Família, por exemplo, também diminuiu.
As escolas econômicas liberais afirmam que cortes e diminuição do Estado resultam em disponibilidade de capital para o empreendedorismo privado. Portanto, cortes governamentais resultariam em crescimento econômico. Além disso causar terrível sofrimento humano, tornando indisponíveis serviços humanitários essenciais, especialmente aos mais pobres, não prova resultados importantes do ponto de vista de alavancar o desenvolvimento. O que aumenta, isto sim, é a concentração de renda. Os tais recursos que ficariam disponíveis pelo enfraquecimento dos governos acabam concentrados em gigantescas fortunas privadas e não são empregados no desenvolvimento. A crescente financeirização das economias vem persistindo em nos demonstrar isto em diversos países. Com uma brutal concentração de riquezas, 1% da população acumula quase 30% da renda do Brasil. É a maior concentração do tipo segundo a pesquisa Desigualdade Mundial 2018.
Outrossim, o estado é o verdadeiro indutor do desenvolvimento, criando as reais condições materiais, logísticas e de infraestrutura além de pressão regulatória para que o capital privado vire investimento real em uma sociedade. Nenhum país do mundo, aliás, desenvolveu-se sem um estado nacional forte. Não há sequer um único exemplo.
Sem estado indutor do desenvolvimento sempre haverá crescimento medíocre e assimétrico, com grande tragédia social quando chegam as crises cíclicas, pois o mesmo não é capaz nem de proteger as pessoas, nem de praticar políticas anticíclicas que revertam o problema. Atacar e destruir o estado brasileiro significa tão somente nos condenar a todas e todos ao subdesenvolvimento.
A obsessão pelo liquidacionismo tem sido a tônica das defesas liberais radicais no Brasil. É a vertigem pelo suicídio, tão própria a um país que perdeu a capacidade de pensar pragmaticamente seus interesses, fora da burrice dos dogmas e servilismos de ocasião.
*Leonardo Giordano é vereador em Niterói pelo PCdoB.