Segundo informa a Folha de hoje, o diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, divulgou carta a funcionários em que afirma que o advogado de Jair Bolsonaro, consultado pela Globo antes da veiculação da reportagem sobre o porteiro, sonegou a informação sobre os áudios, que provariam que Elcio Queiroz havia chamado a casa 65, de Ronie Lessa, e não a casa 58, de Bolsonaro.
Não sabemos, contudo, se a informação de Kamel é completa. Talvez o advogado de Bolsonaro não tivesse conhecimento sobre os áudios, apesar de seu cliente sim, já tê-los em seu poder. Talvez o advogado não tenha conseguido contatar o presidente antes da publicação da reportagem, para pedir autorização para divulgá-los à Globo. Ou talvez tenha sido um gesto deliberado, estratégico, do presidente, de permitir que a Globo desse a informação acerca do depoimento do porteiro, apenas para que a reportagem fosse contestada pelo próprio Bolsonaro, e seu filho, desmoralizando a emissora.
Reitere-se que o próprio Bolsonaro, assim que tomou ciência do depoimento do porteiro, mandou copiar os áudios da portaria do condomínio. A informação é do próprio Bolsonaro.
Em entrevista à Record, o presidente conta ainda que foi informado pelo governador Wilson Witzel sobre o depoimento do porteiro.
Diante desses elementos, está mais ou menos claro que os Bolsonaro fizeram uma jogada ensaiada. Eles sabiam que existia o depoimento do porteiro, e já aguardavam um possível vazamento da informação. Não sabiam, porém, quem iria vazá-la.
Quando a Globo a vaza no Jornal Nacional, os Bolsonaro já estavam preparados: o presidente correu para suas redes sociais, para fazer uma “live”, uma transmissão ao vivo, e o seu filho, Carlos Bolsonaro, no dia seguinte, correu para a portaria do condomínio, onde ele faz um vídeo tocando o áudio da chamada da portaria para a casa 65.
Pela reação agressiva de Bolsonaro contra a Globo, incluindo ameaças de não-renovação da concessão da emissora, a hipótese de que o presidente sonegou deliberadamente a informação sobre áudio ganha peso.
Está aí um elemento interessante na análise da conjuntura política. A guerra de posições entre Bolsonaro e Globo é, eminentemente, uma guerra de poder. Ambos representam interesses econômicos semelhantes, mas as guerras domésticas, como se sabe, são sempre as mais sangrentas.