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Paulo Gala: a indústria é o caminho!

O economista Paulo Gala explica, em seu blog, a importância da industrialização para o desenvolvimento econômico e social do Brasil. No blog do Paulo Gala O conhecimento não é um bem público, por isso educação não basta para o desenvolvimento econômico! 13/10/2019 Por Paulo Gala *escrito com Andre Roncaglia ‪O centro da economia mundial tem […]

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O economista Paulo Gala explica, em seu blog, a importância da industrialização para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.

No blog do Paulo Gala

O conhecimento não é um bem público, por isso educação não basta para o desenvolvimento econômico!

13/10/2019

Por Paulo Gala

*escrito com Andre Roncaglia

‪O centro da economia mundial tem alto conteúdo tecnológico proprietário em seus produtos, logo tem poder de monopólio considerável;a periferia não! será muito difícil para países da América Latina, África e Ásia chegarem ao centro. Alguns do Leste Asiático conseguiram. Desenvolvimento econômico é um processo de aprendizagem produtiva. Alguns países pobres são capazes de aprender ao longo do tempo, outros não. Essa aprendizagem leva a produção de bens e serviços com poder de monopólio e alto conteúdo tecnológico; que dificulta o avanço dos outros.‬ O conhecimento produtivo é o grande valor que um país tem, isso o torna rico. Esse conhecimento está nas empresas, marcas, tecnologias e patentes de propriedade de seu sistema produtivo. Isso nunca é transferido para os países emergentes, especialmente por multinacionais. Transferência tecnológica, conhecimento tácito e capacidades organizacionais: um dos obstáculos envolvidos no aprendizado tecnológico das nações diz respeito aos custos associados à assimilação das tecnologias transferidas de parceiros comerciais posicionados na fronteira tecnológica em seus respectivos setores. Amsden (2001, p. 29) redefiniu, à luz da experiência de “O resto”, que o desenvolvimento econômico pode ser redefinido como “um processo em que se passa de um conjunto de ativos baseados em produtos primários, explorados por mão-de-obra não especializada, para um conjunto de ativos baseados no conhecimento, explorados por mão-de-obra especializada. A transformação exige que se atraia capital tanto humano como físico da busca de renda, do comércio e da “agricultura” (definida em termos amplos) para as manufaturas, o coração do crescimento econômico moderno”. Os recursos tecnológicos que criam novos produtos e novas técnicas de produção constituem ativos “invisíveis” de uma empresa, como salientou Itami (1987). Esses ativos permitem que uma empresa venda abaixo dos custos dos concorrentes e acima de seus padrões de qualidade. Ademais, tais ativos são apropriáveis, intangíveis e, portanto, difíceis de copiar, gerando lucros anormais apoiados em rendas de monopólio conferidas aos seus proprietários. A existência de fortes barreiras à difusão de tecnologias por meio da imposição de patentes torna, portanto, falaciosa a ideia de que o conhecimento seja um bem público.

Adicionalmente, Amsden (2001, p. 5) nos relembra que, mesmo na ausência de patentes, a natureza da própria tecnologia dificulta a aquisição de conhecimento. As propriedades de uma dada tecnologia não podem ser totalmente documentadas, de forma que a otimização do processo e a especificação do produto permanecem uma “arte”, dependendo de habilidades gerenciais que são mais tácitas do que explícitas. Khan (2019) mostrou recentemente o quão intricado e arredio é o processo de assimilação de conhecimento tecnológico, o qual pode ser assimilado pelo indivíduo ou por coletividades. No primeiro caso, o conhecimento formal codificado (alfabetização, conhecimento matemático e científico) pode ser necessário para adquirir habilidades específicas tácitas, associadas à prática profissional. Nesta última categoria encontra-se o conhecimento do tipo não-codificado, que se manifesta no “know-how” embutido em rotinas inconscientes e muitas vezes complexas que são compreendidas e internalizadas através da aprendizagem na prática. No plano do conhecimento compartilhado, Khan sugere um tipo específico de “hiato de conhecimento” que inibe a transformação estrutural conducente à maior competitividade: as capacidades organizacionais.

É portanto ilusório acreditar que a mera escolarização da população será capaz de elevar a produtividade ao níveis requeridos pela competitividade nos mercados internacionais. A transformação estrutural em tempos de acelerada evolução tecnológica requer uma estratégia de aprendizagem tecnológica eficaz. Para tanto, é preciso identificar os hiatos de conhecimento relevantes e as políticas que podem ser implementadas de maneira correta para lidar com essas deficiências. Nas palavras do próprio autor: “Não se trata apenas de produzir trabalhadores com níveis de ensino secundário ou superior em volume certo para atender às demandas projetadas. Esses trabalhadores também precisam ter o conhecimento adequado para poder operar competitivamente as tecnologias existentes e emergentes. Mais importante ainda, empresas bem organizadas precisam surgir para empregar essas pessoas com níveis de produtividade altos o suficiente para alcançar competitividade. A eficiência organizacional também se baseia no conhecimento, mas é de um tipo diferente. Não é o conhecimento que um indivíduo possui, mas o conhecimento que um grande número de indivíduos possui sobre como cooperar e coordenar efetivamente entre si dentro de uma organização. Sem este último, os investimentos em conhecimentos e habilidades codificados podem obter baixos retornos. A ausência de qualquer elemento pode eliminar potenciais retornos aos investimentos em outros tipos de conhecimento. Em particular, na ausência de empresas capazes de empregar trabalhadores de forma produtiva, os investimentos em educação e habilidades só podem resultar no surgimento de um grande número de pessoas desempregadas com grau de instrução e de habilidades (Khan, 2019, p. 42– tradução nossa)”.

Portanto, organizações eficientes permitem aos indivíduos aproveitarem seu estoque de conhecimento formal e tácito de sorte a realizar plenamente seu potencial produtivo, bem como estes dois tipos de saber podem auxiliar na estruturação de organizações eficientes, capazes de aproveitar as externalidades e complementaridades estratégicas que caracterizam essas atividades. Trata-se de um tipo específico de “conhecimento coletivo”, distinto do conhecimento codificado e do know-how incorporado nos indivíduos. “Sem capacidades organizacionais apropriadas, os investimentos em outros tipos de conhecimento não conseguem obter retornos adequados” (Khan 2019, p. 42). Embora muitas empresas de países em desenvolvimento possam adquirir máquinas para muitas atividades básicas de produção e contem com razoável disponibilidade de trabalhadores qualificados, falta-lhes a capacidade de processar e operar articuladamente todos estes fatores para uma produção competitiva. Além de as tecnologias diferirem, sensíveis diferenças em termos de hierarquias sociais, padrões de trabalho coletivo, estruturas externas de governança e de controle tendem a variar sobremaneira.

Uma vez compreendida esta dimensão da assimilação tecnológica, torna-se ingênua a crença na efetividade da simples transposição emulativa de estruturas organizacionais formais de outros contextos sociotécnicos. A aprendizagem coletiva envolve todos os níveis operacionais das firmas e é necessária para adaptar as funções de rotinas específicas para se adequar aos contextos locais. Como se não fosse difícil o suficiente, Khan (2019, p. 44) adverte que este processo de aprendizagem se torna mais complexo com produtos de maior sofisticação tecnológica, porque processos técnicos, de controle de qualidade e organizacionais mais complicados provavelmente estão envolvidos para obter resultados eficientes. O resultado é, por conseguinte, uma aprendizagem organizacional coletiva mais complexa, elaborada e gradual.

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