Entrevista exclusiva para o Cafezinho
O novo presidente municipal do PT carioca, Tiago Santana, 38 anos, confirmou que o partido está determinado a apoiar a candidatura de Marcelo Freixo para a prefeitura do Rio de Janeiro, em 2020.
Na semana passada, Freixo deu entrevista ao DIA, na qual afirma que “o PT está comigo”.
Perguntado se era assim mesmo, Tiago Santana, não tergiversou: “Quando ele [Freixo] diz que o PT está com ele, é verdade”.
Segundo Santana, o PSOL é a principal força de esquerda hoje no Rio de Janeiro e por isso o PT “reconhece em Marcelo Freixo” a capacidade de liderar um processo para vencer as atuais forças conservadores que governam a cidade.
“Freixo é a figura que vai liderar essa frente”, resumiu.
Eu perguntei se a candidatura de Marcelo Freixo não representava um risco de conduzir a uma polarização excessiva, e se a comunidade de onde ele é originário, Vila Kennedy, na zona oeste do Rio, e que, segundo ele mesmo disse, votou em massa em Bolsonaro, estaria disposta a votar em Freixo.
Santana respondeu que identificava um processo de “desconstrução” de alguns preconceitos colados em Freixo, como alguém vinculado apenas à classe média e à zona sul, e que o PT iria ajudá-lo a se aproximar mais das periferias.
Ele admitiu, no entanto, que o antipetismo ajudou a cimentar a vitória da direita no Rio de Janeiro e no Brasil, e que o PT precisará adotar uma estratégia para se “reapresentar” ao povo.
O primeiro ponto dessa estratégia, explicou, é “reconhecer erros”.
Um desses erros, disse Santana, foi a ausência de comunicação com o povo, uma coisa que, admitiu, Bolsonaro está fazendo bastante.
Ele acha, contudo, que uma das razões pelas quais a presidente Dilma Rousseff deixou de se comunicar com o povo foram as contradições políticas de seu governo: “ela não tinha o que falar”.
Outro erro, segundo Santana, foi a “conciliação de classe”, que ele descreveu como a entrega de postos chaves do governo para figuras com pouco ou nenhum compromisso com os ideais do partido.
A causa que mais contribuiu para que o PT perdesse votos populares no Rio, segundo Santana, foram as denúncias de corrupção. Nas famílias das comunidades pobres do Rio há sempre um zelo extremo pela ética. “A primeira coisa que se ensina aos filhos é para não pegar nada de ninguém”.
Ele admitiu que a campanha municipal de 2016 foi “horrível”, porque observou “ódio puro” entre populares, e não apenas entre eleitores de classe média e da zona sul.
Santana admitiu que a imagem de Lula ficou arranhada pela prisão, mas acha que Lula volta como grande figura e que sua imagem está melhor hoje do que há um ou dois anos.
Eu comentei que, para setores mais intelectualizados da população, a prisão do ex-presidente lhe conferiu uma aura de heroi injustiçado, de mártir político, que acabou por fortalecer a imagem do ex-presidente, aqui e lá fora.
Para as pessoas mais simples, porém, respondeu Santana, as coisas são diferentes. A prisão é sinal de que houve “alguma coisa errada”, e por isso, a liberdade de Lula, e uma liberdade total, sem tornozeleira, sem prisão domiciliar, seria fundamental para reaproximar Lula das massas.
O que nós defendemos para Lula, explicou Santana, é um julgamento novo, com regras mais claras, e um juiz imparcial, “voltar a estaca zero”.
Perguntei-lhe se não achava que esse antipetismo não voltaria a influenciar o voto popular em 2020.
“A diferença é que eles agora estão governando”, respondeu Santana, referindo-se à direita conservadora.
“Hoje a divisão começa a tomar outra forma: de um lado estão os protegidos pelo Estado, de outro os que estão com a mira de uma arma na cabeça”, acrescentou.
Para Santana, o PT também pode ajudar Freixo oferecendo suas experiências em administração de municípios. Um exemplo seria Maricá, que instituiu transporte público gratuito para seus moradores.
“Podíamos criar um consórcio de transporte gratuito na zona oeste”, sugeriu o petista.
Hoje Santana mora no Maracanã, zona norte do Rio. A entrevista foi realizada na manhã da última quinta-feira, 26 de setembro de 2019, no Cavé, centro do Rio.