Trecho de entrevista de Fernando Abrucio, chefe do Departamento de Gestão Pública da FGV EAESP, para a revista Conjuntura Econômica:
Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro
Como avalia que as forças partidárias estão se articulando?
Os partidos de centro que estão ajudando a reforma econômica a partir do ano que vem, ou talvez um pouco antes, vão se distanciar mais fortemente de Bolsonaro por conta das eleições municipais. Porque sabem que Bolsonaro não dividirá o poder. Rodrigo Maia sabe que seu candidato a prefeito no Rio de Janeiro não estará do lado de Bolsonaro, e este não o ajudará em nada. E isso se repetirá na Bahia, Pernambuco, Santa Catarina… Em São Paulo, o maior inimigo do Dória nas eleições já não é o PT, mas os bolsonaristas. Então o centro já está tentando se reorganizar para ter dois ou três candidatos contra Bolsonaro. A esquerda em boa medida está perdida, superando as eleições de 2018, mas tem um tempo para se reorganizar. Até mesmo porque a história de Lula foi confusa, e a Lava Jato foi impactada pelas divulgações do The Intercept Brasil. Isso abre a possibilidade para que o STF tome uma decisão mais favorável ao Lula nos próximos meses. Mas o PT ainda vai demorar um pouco mais para se reconstruir, em parte pelos seus próprios erros.
Além da tendência à organização de uma frente anti-Bolsonaro, há outro fator que influenciará a reorganização dos partidos, que ocorreria sob qualquer modelo de governo Bolsonaro, depois das eleições municipais. Isso devido a que esta será a primeira sem coligação em eleição proporcional, o que significa que haverá um número menor de partidos a eleger vereadores, e algo semelhante acontecerá em 2022. Então, ao abrir as urnas em 2020, cada partido avaliará seu poder de barganha e como se juntará aos demais.