Há tempo queria escrever este artigo, esta espécie de reflexão pessoal que na nova realidade política nacional, esperava que acontecesse como alternativa de luta democrática, diante do imenso abismo que fragmentou o Brasil, durante, e após as eleições presidenciais de 2018. E nos fragmenta até hoje.
O berço trabalhista que me trouxe a compreender as lutas sociais brasileiras, passando pela tragédia do golpe de 1964, atravessando o exílio, construindo partidos para uma nova esperança, a obtenção da Lei de Anistia em nosso país, e buscando sempre a redemocratização, paulatinamente através das eleições de governadores em 1982, as Diretas Já, e presenciando a infinita ânsia do povo brasileiro por liberdade e democracia, posso dizer sem nenhum medo de errar, que hoje devemos nos desprender de velhos tabus semânticos, do verticalismo dogmático, que em certos momentos da história política da libertação de nosso povo, separou nossas posições progressistas, nos dividiu e, de certa forma, permitiu emergir das entranhas da classe dominante, o estabelecimento de uma ditadura militar, de uma massiva política antipovo e antitrabalhadores, colocando assim o Brasil no colo abusivo da direita conservadora. E que de novo, nos coloca hoje.
O objetivo de nossa luta pelo nacional-desenvolvimentismo, pregado pelo trabalhismo, é o primeiro passo para, como dizia Darcy Ribeiro, empreendermos o caminho para o socialismo.
Após minha saída do Partido Democrático Trabalhista (PDT), do qual sou fundador e signatário da Carta de Lisboa, e minha incorporação ao Partido Pátria Livre(PPL), por uma questão íntima de coerência, pelo apoio que este deu ao governador Rollemberg, traidor da história de meu pai, o presidente João Goulart, morto no exílio, sinto-me hoje honrado de poder integrar o quase centenário Partido Comunista do Brasil(PCdoB) e preparar-me para mais uma jornada de luta e resistência ao entreguismo de nossa pátria.
Nos 55 anos que nos distanciam do golpe de Estado de 1964, as bravatas da direita usadas naquele então e repetidas hoje, inclusive de formas não republicanas, em direção àqueles que, como nós, defendem a justa relação entre capital e trabalho, direitos humanos, igualdade de oportunidades para todos os brasileiros, reforma agraria, reforma urbana, reforma bancaria, as nossas estatais estratégicas, educação integral e gratuita para todos, distribuição de renda através do salário mínimo, e se posicionam contra qualquer tipo de injustiça, somos nós, os que, depreciativamente, tildados de “comunistas vermelhos”, haveremos juntos de derrotar o nazifascismo.
Pois bem, não por ser herdeiro político e sim apenas por ser descendente de Jango, que diante da realidade desta democracia autoritária, quero afirmar que o autêntico trabalhismo hoje é representado no PCdoB. Quando nos incorporarmos ao partido não o fizemos somente com pessoas, incorporamos também nossos ideais.
Na IV reunião do Comitê Central, realizada entre os dias 16 e 18 de agosto, foram incorporadas, através da Resolução 007, aprovada por unanimidade pelo plenário, as lutas do governo João Goulart, as lutas da legalidade e educação de Leonel Brizola, e principalmente, as lutas sociais da era Vargas.
Diz o trecho da resolução:
“Essa base comum, que inclui a Carta Testamento de Getúlio Vargas, a Campanha da Legalidade sob a liderança de Leonel Brizola e o governo João Goulart, fez brotar, no momento em que o Brasil vive uma grave ameaça, uma visão tática confluente: sem abrir mão da intransigente defesa da soberania nacional e dos direitos dos trabalhadores, é preciso agregar um leque amplo de forças para empreender a resistência democrática, isolando a extrema-direita, barrando a sua progressão e abrindo caminho para liquidar suas pretensões de se perpetuar no poder.”
Ficam desta maneira, incorporadas também na atuação do PCdoB toda a história e as lutas trabalhistas e somam-se a estas forças de atuação política do partido a estratégia de por todos meios disponíveis, eleitorais e políticos, fazermos frente a esta situação de extremo entreguismo da direita colonial, que representa o governo Bolsonaro e seus apoiadores.
No desafio político, que nos é imposto e no revigoramento que nossas almas clamam, agrega o partido, o trabalhismo que é luta, o trabalhismo que é esperança, o trabalhismo das Reformas de Base de Jango, que é hoje o caminho brasileiro ao socialismo.
O trabalhismo hoje no PC do B, é para resistir, é para travar a luta sem claudicar, ao lado sempre, das aspirações legítimas de libertação de nosso povo.
*João Vicente Goulart é diretor do Instituto João Goulart-IJG.