Vamos ir na contramão do entusiasmo da imprensa liberal, de um lado, e da mídia alternativa progressista, de outro, e procurar analisar os números da pesquisa Datafolha, revelados hoje, sob um olhar mais cético.
As comparações dos números de hoje, divulgados em reportagem da Folha, devem ser feitas com as pesquisas de julho e de abril.
De maneira geral, os números são ruins para Bolsonaro porque mostram que suas trapalhadas políticas estão contribuindo para fazer ruir a reputação do “mito” entre muita gente.
A aprovação (ótimo e bom) do presidente se deteriorou 4 pontos em relação à última pesquisa, feita no início de julho. Ele tinha aprovação de 33 pontos em abril, a qual subiu para 34 em julho, e agora caiu para 29 pontos.
Para quem gosta tanto de Donald Trump, vale lembrar que, segundo a última pesquisa Fox, realizada nos dias 11 a 13 de agosto, e analisada recentemente aqui no blog, Trump tinha apoio de 42% dos americanos, sendo 27% de “apoio muito forte”, e “15% de apoio relativo”, e Trump já enfrenta o desgaste de alguns anos de governo.
A rejeição a Bolsonaro, por sua vez, vem subindo continuamente, refletindo o que parece ser a obsessão principal do presidente, de manter o discurso de polarização: tinha 30% de rejeição (ruim ou péssimo) em abril, subiu para 33% em julho, e agora tem 38% dos brasileiros que o rejeitam.
Entretanto, e isso é o fator que ainda conta em favor do presidente, esses números são muito díspares entre as diferentes categorias sociais e regionais do país.
E o mais importante para Bolsonaro, ele ainda tem apoio de seus próprios eleitores: segundo o Datafolha, 57% dos que votaram em Bolsonaro no segundo turno ainda o consideram ótimo ou bom. Esse apoio registrou queda de 3 pontos, pois em julho, 60% de seus eleitores o achavam ótimo e bom. Mas em abril, o apoio a Bolsonaro entre seus eleitores havia sido de 54%.
Entre eleitores de Haddad no segundo turno, Bolsonaro é rejeitado por 69%, segundo o Datafolha divulgado hoje.
Em números absolutos, esses 57% de apoio entre os eleitores de Bolsonaro correspondem a aproximadamente 33 milhões de pessoas; ao passo que os 69% de eleitores de Haddad que o rejeitam hoje correspondem a 32 milhões de pessoas.
A aprovação a Bolsonaro continua mais forte entre brasileiros de renda média entre 5 e 10 salários (39% de aprovação), entre os quais se registrou uma oscilação de dois pontos para cima; em julho, Bolsonaro tinha 37% de aprovação neste segmento; em abril, 43%.
Para a aprovação por região, a Folha divulgou apenas alguns números. Por exemplo, a aprovação de Bolsonaro no Sul agora é de 37%, contra 42% em julho, e 39% em abril.
Um segmento importante onde Bolsonaro também vem perdendo apoio é entre os brasileiros com ensino superior, entre os quais hoje 43% acham ruim ou péssimo seu governo, contra 35% em abril e 36% em julho.
Conclusão: não se pode negar a deterioração política do governo Bolsonaro, diante do notório despreparo do presidente.
Entre brasileiros mais pobres e do Nordeste, a reprovação ao presidente está se aprofundando, o que é uma boa notícia para a oposição, que mantém suas fortalezas e começa a causar estragos, ainda que modestos, nos núcleos bolsonaristas mais resistentes, compostos pelo próprio eleitorado de Bolsonaro, por brasileiros de renda média e mais escolaridade, e por eleitores residentes no Sul e Sudeste.