No ClimaTempo
Por que o céu escureceu em São Paulo?
por Josélia Pegorim
Atualizado 19/08/2019 às 21:37
Muitas pessoas se assustaram com a cor do céu desta segunda-feira, 19 de agosto, em diversos locais do estado de São Paulo. As estranhezas começaram pela manhã, mas no meio da tarde, parecia que o “mundo ia desabar” sobre a cidade de São Paulo, de tão escuro que o céu ficou.
Por que o céu ficou escuro ou com cor muito estranha no estado de São Paulo? A resposta está na combinação de fumaça e de muita umidade trazida por uma frente fria que chegou ao litoral paulista nesta segunda-feira.
Na região da cidade de São Paulo, o céu escureceu no meio da tarde por causa da densa camada de nuvens baixas e carregadas, em tons de cinza, e da densa névoa baixa que se formou e restringiu a visibilidade. Esta situação foi observada no leste do estado de São Paulo, onde estão a Grande São Paulo, o litoral e também no Vale do Ribeira e o Vale do Paraíba.
Pela manhã, antes destas nuvens escuras se formarem, foi possível ver o tom amarelado do céu por causa da fumaça misturada com a névoa. A fumaça deu alguma contribuição para dar aparência do céu mais escuro à tarde.
Na maioria das áreas do interior paulista, onde o aumento da umidade não foi tão intenso como no leste do estado, foi possível ver claramente o céu em tom amarelado, um cinza misturado com marrom indicando a presença da fumaça. O sol embaçado, literalmente enfumaçado, foi a maior prova da fumaça.
De onde vieram as nuvens carregadas?
A chegada da frente fria a São Paulo fez com que ventos marítimos voltassem a soprar sobre o estado. Isto fez com que a umidade aumentasse muito por todo o leste do estado, onde está a Grande São Paulo, formando as nuvens baixas e carregadas e uma densa névoa. Choveu fraco e garoou em diversas áreas da capital, mas algumas nuvens ficaram tão carregadas que até provocaram raios.
De onde veio a fumaça?
Em muitas áreas do interior paulista foi possível ver a redução da visibilidade no horizonte e a aparência do céu cinza-marrom ou amarelado-alaranjado por causa da fumaça que se espalhou por todo o estado de São Paulo.
A fumaça era de grandes focos de queimadas que há vários dias são observados sobre a Bolívia, em Rondônia, no Acre e no Paraguai. O vento das camadas mais elevadas da atmosfera (entre 1000 metros e 5000 metros de altitude) mudou de direção com a passagem da frente fria fazendo com que a fumaça fosse direcionada para o estado de São Paulo, mas também para a região sul de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.
No fim de semana, a direção do vento fez com que a fumaça fosse para o extremo sul do Brasil, atingindo principalmente o Rio Grande do Sul. Mas no domingo, 18, a mudança na direção do vento fez com que a fumaça já chegasse em grande quantidade ao Paraná. O céu do norte do Paraná ainda estava tomado por fumaça nesta segunda-feira.
Nas imagens do satélite Terra/MODIS operado pela NASA é possível ver a cama de fumaça concentrada no extremo sul do Brasil no dia 17/8/19, avançando em direção ao Mato Grosso do Sul e Paraná em 18/8/19 e já passando sobre São Paulo no dia 19/8/19. Repare que a camada de fumaça também se espalhou sobre parte de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
Fumaça e nuvens vistas pelos satélites meteorológicos
Nas imagens captadas pelo satélite Terra/MODIS operado pela NASA é possível ver a nebulosidade e a fumaça, que não se confundem. As nuvens são mais densas, com volume, espessas e mais brancas. Já a fumaça aparece como um véu uniforme, em geral fino, com transparência. Em algumas áreas é possível ver a camada de fumaça sobre nuvens.
No leste de São Paulo, onde o nível de umidade no ar era muito maior do que nas outras áreas pelo interior do estado, uma densa camada de nuvens se formou. No interior paulista é possível ver a camada de fumaça.
Os paulistas viram no céu e sentiram no ar o que a população de estados como Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, do sul do Pará e Maranhão sentem por semanas consecutivas durante o inverno, especialmente no fim da estação, quando as queimadas se intensificam e se alastram pelo país. Não chove, o ar fica muito seco e quase sem nuvens, mas não se vê o azul do céu, só o amarelado da fumaça e o sol escondido por ela.
Tudo isto é comum nesta época nestes estados antes de recomeçar a chover, mas em 2019, o número de focos de fogo no Brasil é o maior em 5 anos.