Análise da pesquisa Fox News sobre as eleições de 2020 nos EUA

O próximo embaixador do Brasil nos Estados Unidos terá de lidar com uma das eleições mais polarizadas da história do país. As pesquisas hoje mostram expressiva liderança de candidatos democratas sobre Donald Trump.

Caso o embaixador brasileiro seja Eduardo Bolsonaro, o filho do presidente, Jair Bolsonaro, ambos, pai e filho, atrairão para o governo brasileiro uma profunda animosidade por parte de metade do eleitorado americano.

Segundo pesquisa divulgada há poucos dias (15 e 16) pela Fox News,  48% dos americanos rejeitam “fortemente” o governo de Donald Trump, percentual que sobe para 53% entre mulheres, 76% entre negros e 63% entre “não-brancos” (latinos e asiáticos).

O relatório completo da pesquisa está aqui (ou aqui). A pesquisa foi realizada entre os dias 11 e 13 de agosto.

O Cafezinho vai procurar, na medida do possível, acompanhar os debates e as pesquisas de intenção de voto naquele país.

Vou publicar abaixo, primeiro, alguns gráficos gerais; em seguida, publicamos gráficos do relatório estratificado.

Após alguns gráficos, eu acrescento, às vezes, comentários explicativos ou analíticos.

A pesquisa Fox traz números sobre as primárias do Partido Democrata, a serem realizadas em junho do ano que vem, e que escolherá o candidato do partido que enfrentará Donald Trump em 2020.  Qualquer eleitor americano, mesmo não filiado ao Partido Democrata, pode participar das primárias.

Apesar de Bernie Sanders ser o queridinho da esquerda mundial, suas chances de ser o apontado caíram muito, de 23% em março para apenas 10% hoje.

Hoje é Joe Biden o favorito de ser o candidato democrata escolhido, com 31%. Assistimos, porém, um crescimento muito expressivo de Elizabeth Warren,  que tinha 4% em março e hoje em 20%.

As duas tabelas acima mostram que o legado de Obama permanece muito sólido entre o eleitor democrata. Metade deles (48%) afirma que escolherá o próximo candidato do partido pensando em Obama, o que significa que a opinião do ex-presidente terá um peso decisivo no processo.

Até o momento, Joe Biden é o candidato que está herdando mais votos dos “obamistas”: entre os que responderam que o respeito ao legado de Obama é o que pesará mais nas primárias, 42% são eleitores de Joe Biden.

Essa é a tabela mais importante. A polarização da sociedade americana está muito expressa nesses números, porque mostra os números de Trump permanecendo os mesmos (38% a 39%) seja qual for o candidato democrata. E a a mesma coisa vale para os democratas, que também tem performances parecidas.

O gráfico acima é mais um a comprovar a força de Obama entre os eleitores americanos. Segundo a pesquisa, 93% dos eleitores das primárias do partido democrata (reiterando que qualquer um pode votar nelas, não apenas filiados ao partido democrata) tem opinião favorável ao ex-presidente Barack Obama, e apenas 6%, desfavorável. Obama é imbatível e, se quisesse ser ele o indicado para as primárias, seria difícil vencê-lo. Bernie Sander e Joe Biden tem rejeição baixa (12% a 14%), mas duas vezes superior a de Obama, e 10 pontos a menos de aprovação.

Agora vamos à parte mais interessante de nossa análise, que consiste em examinar os números estratificados do relatório da mesma pesquisa.

Clique nas tabelas para ampliar.

Tradução: você aprova (approve) ou desaprova (disapprove) o desempenho de Donald Trump como presidente? Se aprova ou desaprova: é um apoio forte  (strongly) ou apenas em parte (somewhat)?

Os números acima mostram as profundas clivagens sociais do eleitorado americano. Entre homens e mulheres, brancos e negros, educados e não-educados.

Vamos focar inicialmente apenas na resposta desaprova fortemente (strongly disapprove).

No total, 48% dos americanos desaprovam fortemente o trabalho de Trump como presidente. Entre homens, contudo, essa rejeição cai para 42% e sobe para 53% entre mulheres. Esse é um fator em comum com o eleitorado brasileiro: também no Brasil, o governo Bolsonaro é bem mais rejeitado entre mulheres do que entre homens.

Entretanto, a diferença mais profunda é de ordem racial. Entre brancos, 42% reprovam fortemente o trabalho de Donald Trump, número que salta para 76% entre negros.

Entre “não-brancos”, que inclui sobretudo latinos, asiáticos, 63% desaprovam fortemente o governo Trump.

Entre simpatizantes do partido democrata, 84% desaprovam fortemente o governo Trump, número que desaba para apenas 5% entre eleitores republicanos.

Entre os próprios eleitores de Trump, a maioria aprova o seu governo, e apenas 3% responderam que o desaprovam fortemente.

Nas áreas urbanas, 61% desaprovam fortemente Trump, números que caem muito nas áreas rurais ou suburbanas.

Trump é mais rejeitado entre liberais e eleitores com curso universitário. Segundo a pesquisa, entre brancos com diploma superior, 48% o rejeitam fortemente, contra 37% de brancos sem diploma com essa mesma opinião.

Abaixo, mais algumas tabelas importantes.

Entre eleitores afro-americanos, ou negros, Joe Biden teria 84% dos votos, contra apenas 2% de Donald Trump. Entre “não-brancos” (que inclui latinos e asiáticos), Biden teria 68% dos votos, contra 17% de Trump. Entre mulheres, Biden teria 54% X 34% Trump. Entre homens, o placar seria Biden 45% X 42% Trump. No entanto, entre homens brancos, o placar é de Biden 39% X 50% Trump.  Entre brancos com curso superior, Biden 51% X 40% Trump. Entre brancos sem curso superior, Biden 38% X 50% Trump. Entre liberais, Biden tem 84% dos votos; entre moderados, 52%; entre conservadores, 23% (e Trump 68%).

Na disputa entre Bernie X Trump, os números são bem parecidos. Bernie tem desempenho pior entre afro-americanos, porém marca mais pontos entre eleitores com menos de 45 anos, entre os quais tem 54% dos votos, contra 34% de Trump (Biden pontua 51% X 33% neste segmento).

A vantagem de Biden se dá em todos os segmentos. Entre afro-americanos, tem 37% da preferência. Seus números são piores entre jovens com menos de 45 anos, onde perde de Elizabeth Warren. Warren, por sua vez, precisa melhorar sua performance entre negros, onde pontuou somente 8%, muito abaixo de Biden e Bernie.

A maioria dos americanos está disposto a votar de maneira conservadora, mesmo sendo contra Trump, pensando em “restaurar o país e fazer a política americana voltar ao normal”.

Essa última tabela mostra como a identidade partidária é forte nos Estados Unidos. Entre os entrevistados da pesquisa, 51% se disseram favoráveis ao partido democrata, contra 45% que responderam negativamente.

Entre jovens com menos de 45 anos, 55% disseram ser favoráveis ao partido democrata. Entre negros, 85% disseram ser favoráveis ao partido democrata, sendo 54% que responderam que são “fortemente” favoráveis.

Entre brancos sem curso superior, porém, apenas 38% disseram ser favoráveis aos democratas, contra 56% que dissera não ser favoráveis. Entre homens brancos sem diploma superior, 64% responderam que não são favoráveis aos democratas.

Redação:
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