Wadih faz a autocrítica do PT

De volta a seu pequeno e espartano escritório no centro do Rio, Wadih Damous continua exatamente a mesma pessoa que eu conheci há alguns anos, em meados de 2013: mau humorado, crítico, sincero.

Eleito presidente da OAB-RJ em 2006, Wadih Damous reelegeu-se em 2009, para o mesmo cargo, com 43 mil votos (67% do total). Este segundo mandato durou até 2013, quando articulou para que Felipe Santa Cruz – hoje presidente da OAB nacional – o sucedesse.

Em 2014, Wadih candidatou-se a deputado federal, e obteve 37 mil votos, o que lhe deu apenas uma primeira suplência. Faltaram-lhe poucas centenas de votos para se eleger.

Sua presença no parlamento, no entanto, era considerada estratégica para Lula e o PT, que precisavam de um jurista “linha dura” para enfrentar a onda policialesca que se alevantava, e que explodiria no calçadão da política, destruindo tudo, através dos excessos da Lava Jato, o impeachment, a prisão do ex-presidente.

O partido mexeu algumas peças e Fabiano Horta, um dos deputados eleitos em 2014, licenciou-se para assumir uma secretaria em Maricá, abrindo espaço para Damous exercer o mandato.

Em 2016, Horta sucederia Quaquá à frente da prefeitura da cidade, que fica no litoral do Rio e recebe por ano centenas de milhões de reais em royalties de petróleo.

Como deputado, Wadih Damous fez dobradinha com Paulo Pimenta e, mesmo antes de Pimenta se tornar líder oficial da legenda na Câmara, tornaram-se ambos os quadros mais importantes do PT na resistência à Lava Jato, a qual passou a ser vista como ela realmente era: uma força política reacionária, com um projeto de poder.

Entretanto, Lula e o PT demoraram tempo demais para encontrar um quadro como Wadih. Quando ele chegou à Câmara, já estava tudo perdido.

Com atuação quase totalmente focada em questões nacionais, sobretudo envolvendo a Lava Jato e o ex-presidente Lula, Wadih Damous não conseguiu se reeleger em 2018. Apesar de toda a visibilidade obtida como um dos advogados e parlamentares mais próximos do ex-presidente, Wadih recebeu apenas 31 mil votos nas últimas eleições, seis mil votos a menos que em 2014.

Damous me recebeu no final da tarde da última quinta-feira, 16 de agosto.

Falamos inicialmente da Vaza Jato, o conjunto de reportagens que trazem vazamentos de diálogos entre Sergio Moro e procuradores.

Perguntei se tinha ficado surpreso. Ele respondeu que mentiria se dissesse que não; o nível de descaramento o surpreendeu, mas que, na essência, já entendia há tempos que a Lava Jato era uma organização criminosa, e que foi forjada nos porões do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Provocado, fez uma dura autocrítica dos erros cometidos pelo PT em seus governos no campo da política jurídica.

Se Bolsonaro decidir escolher o próximo PGR (Procurador Geral da República) fora da lista tríplice, estará certo, disse Wadih.

A lista tríplice nasceu com Lula e vai morrer com o PT, lamentou, dizendo que tivera oportunidade de fazer essa crítica diretamente a Lula. Ninguém antes tinha respeitado essa lista, e ninguém mais a respeitou depois do PT. E, segundo Wadih, nem deveria respeitar mesmo, porque a indicação de uma associação corporativista não teria nada de democrático.

Wadih criticou o fato do PT ter se guiado pelo medo. O medo não é bom conselheiro; o medo acabou vencendo a esperança, lamentou.

Ele também fez duríssimas críticas ao PT do Rio de Janeiro, cuja presidência irá disputar nas próximas eleições, a serem realizadas no início de setembro.

O PT fluminense, disse o ex-deputado, é hoje um ator político irrelevante, e corre o risco de desaparecer totalmente.

O “PED” (Processo de Eleições Diretas para os cargos de direção do partido), trouxe para dentro da legenda os mesmos vícios das eleições gerais, denunciou o ex-deputado, afirmando que, desta vez, seu grupo irá posicionar observadores nos locais de votação, fazer filmagens, ou seja, realizar uma fiscalização rigorosa de todo o processo, tentando coibir a prática de compra de votos.

Mesmo com poucas chances, já que o grupo dominante, liderado pelo atual presidente Washington Quaquá, detêm o controle da máquina partidária, Wadih diz que está jogando para ganhar; e que, não ganhando, irá formar um grupo interno mais forte e mais ativo, com maior influência nos rumos do partido no estado.

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