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Blade Runner antecipou ataque aos direitos do trabalho

“BLADE RUNNER” ANTECIPOU O TEMPO DE ATAQUE SISTEMÁTICO AO DIREITO DO TRABALHO E DE PROMOÇÃO DA DESCARTABILIDADE HUMANA LABORAL Por Grijalbo Fernandes Coutinho (1) Sim, finalmente chegamos a 2019, o ano projetado na ficção científica “Blade Runner”(filme de 1982) para expor o cenário da desolação humana laboral, de maior concentração de riquezas e da destruição […]

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“BLADE RUNNER” ANTECIPOU O TEMPO DE ATAQUE SISTEMÁTICO AO DIREITO DO TRABALHO E DE PROMOÇÃO DA DESCARTABILIDADE HUMANA LABORAL

Por Grijalbo Fernandes Coutinho (1)

Sim, finalmente chegamos a 2019, o ano projetado na ficção científica “Blade Runner”(filme de 1982) para expor o cenário da desolação humana laboral, de maior concentração de riquezas e da destruição do meio ambiente vislumbrado naquela Los Angeles cosmopolitada pela miséria reinante em suas ruas apinhadas de migrantes salvando-se como podem.

1982 e 2019, definitivamente, anos marcantes, no cinema, na história e também nos dramas da humanidade, esta espécie perseguida ao longo dos séculos por acentuadas injustiças sociais.

A incrível película marca diversas gerações apaixonadas por cinema, ficção científica, trabalho, justiça, complexidades humanas e quase humanas. Trata-se de uma obra-prima capaz de exigir ou impulsionar reflexões sobre questões filosóficas, sociológicas, psicológicas, médicas, físicas, químicas, matemáticas, políticas, econômicas e sociais, ou seja, questões de caráter científico em diversas áreas do conhecimento, incluindo também a engenharia genética e o meio ambiente saudável, sem desprezar, ainda, o belo, em sua real definição filosófica kantiana, aquilo que sem conceito agrada, contido em suas exuberantes imagens e sons como verdadeira obra de arte fruto da genial e inesgotável criação humana.

Blade Runner é de uma riqueza impressionante, a ponto de não ser fácil decifrá-lo rapidamente ou precipitadamente como alguns cinéfilos o interpretam apenas sob o viés da cibernética revolucionária apta a criar robôs incrivelmente semelhantes aos humanos.

Por isso mesmo, não raro o filme consegue agradar mentes situadas em horizontes políticos opostos ou oceanicamente distantes na geografia das correntes de pensamento e de ações para transformar o mundo, preservá-lo ou torná-lo cada dia mais segregacionista.

É possível encontrar pessoas de esquerda e direita reverenciando “Blade Runner”, como ocorre, por exemplo, com o gesto de aficionados “malucos” em algumas cidades europeias, notadamente na Alemanha, os quais se reúnem nos finais de semana para a reprise do filme de forma rotineira.

Enfim, o espectador escolhe o viés objeto de sua atenção e nele tem a convicção de encontrar as respostas pretendidas, sejam elas críticas, conformistas ou ilusionistas.

Resgata-se aqui parte de ensaio escrito outrora sobre as mensagens e os encantos de “Blade Runner“, agora o fazendo em homenagem ao fantástico ator holandês Rutger Hauer, que interpretou no referido filme o personagem Roy. Era ele, na película, o aparente vilão. Foi o sujeito, contudo, que emprestou brilho inigualável a essa densa obra de arte do século XX, com todo respeito à atuação de Harrison Ford, visto inadvertidamente na qualidade de protagonista, ao interpretar o caçador de androides, na pele do “herói” burocrático Rick Deckard.

Em filmes do gênero, registre-se, o protagonista não é necessariamente o ator que dispõe do maior tempo de participação na tela, senão aquele que faz por merecer a partir do seu desempenho e do enredo, a exemplo de Rutger Hauer, responsável não apenas por desempenho artístico notável, como também, se soube depois, pela criação de diversas falas de seu personagem Roy.

Roy, inegavelmente, é o líder dos oprimidos da era cibernética, ao se rebelar contra o despotismo do processo produtivo flexível, terceirizado e precário, além de não aceitar a descartabilidade da mão de obra, não se conformar, portanto, com o destino reservado a todos aqueles que trabalham anos a fio e depois são descartados como produtos ou mercadoria, na figura do replicante tão humano quanto qualquer outro humano, em liderança, sentimentos, gestos e revoltas.

E não é que Roy, corrijo, Rutger Hauer, tal como o replicante que não se conformava com o seu destino e o de seus semelhantes, o mais inteligente, articulado, valente e belo dos “mais humanos” do que os humanos, decidiu morrer, na vida real, também no emblemático 2019, agora no mês de julho passado, como uma espécie de profecia quase macabra ou de mistura de ficção com a realidade.

“Blade Runner“ sempre foi mais realidade do que ficção científica, até na morte do seu mais destacado personagem.

Para Homenagear Rutger Hauer, que faleceu em julho de 2019, tal como o seu personagem Roy em “Blade Runner”,além da republicação de parte de ensaio anterior, no qual há desmedido esforço para demonstrar que a película mudou o cinema para sempre, ao antecipar vários aspectos das relações essencialmente contraditórias da denominada “pós-modernidade”, nada mais significativo do que também fazê-lo relembrando as últimas palavras de Roy, no momento de sua despedida: “Eu vi coisas que vocês, humanos, nem iriam acreditar. Naves de ataque pegando fogo na constelação de Oreon. Vi raios-C resplandecendo no escuro perto do Portão de Tanhäuser. Todos esses momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer”.

Descanse em paz, Roy Batty, digo, Rutger Hauer.

Esta é a introdução do artigo. Se quiser continuar a ler, clique aqui.

(1) Juiz do Trabalho desde 27 de abril de 1992, mestre e doutorando em Direito e Justiça pela FDUFMG.

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Comentários

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Lord Joseph Weed III

15/08/2019 - 23h05

Ótima análise sobre essa obra prima mas discordo sobre um ponto:
Se há alguém de direita que goste desse filme é porque não entendeu nada.
O mesmo vale para Matrix , Senhor dos Anéis e casos mais óbvios como V de Vingança.
Os fãs de Star Wars de direita são os melhores , se dividem entre os que juram que o Império é de esquerda e os que amam o Império e chamam a Princesa Leia de terrorista.
Tirando o terrível Tropas Estelares , não existe ficção científica de direita.
Mas hoje tentam reviosionar tudo , tem caras que juram que Raul Seixas e Renato Russo , dois anarquistas declarados , eram de direita.


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