Os serviços e o mau momento da economia
Iedi — Estagnação no comércio varejista, declínio na indústria e forte recuo do setor de serviços, este foi o resultado do mês de junho de 2019, contribuindo para que todos os grandes setores na economia ficassem no negativo no segundo trimestre do ano em relação ao trimestre precedente, já descontados os efeitos sazonais.
O significado disso é o pior possível: grande potencial de declínio do PIB no 2º trim/19, o que levaria a economia a uma recessão técnica, caso o IBGE mantenha a o resultado de -0,2% do 1º trim/19 na série com ajuste. Assim, mesmo que o desempenho melhore na segunda metade do ano, o crescimento do PIB em 2019 tende a ser ainda menor do que apontam as atuais projeções.
Os dados divulgados hoje mostram que o faturamento real dos serviços, setor de maior peso no PIB nacional, caiu -1% em junho frente a maio, com ajuste sazonal, produzindo uma retração de -0,6% na comparação do 2º com o 1º trimestre de 2019. O quadro recessivo se completa com a indústria recuando -0,7% e o varejo -0,3% em seu conceito restrito e apenas +1,2% em seu conceito ampliado.
Para um setor que até poucos meses atrás ainda se encontrava em crise como era o caso dos serviços, o desempenho recente não apenas decepciona, mas também implica uma grave interrupção de tendência que, embora muito devagar, vinha apontando para dias melhores. É o que indica a sequência de variações trimestrais contra o mesmo período do ano anterior desde meados de 2018: +0,7% no 3º trim/18; +0,9% no 4º trim/18 e +1,1% no 1º trim/19, para depois registrar +0,1%, isto é, uma virtual estagnação no 2º trim/19.
A principal razão dessa evolução cabe ao resultado fortemente negativo do segmento de transportes (-3,7% no 2º trim/19), influenciado pelas perturbações causadas pela greve dos caminhoneiros em mai/18 e pela demanda reprimida em jun/18, que gerou uma base de comparação muito elevada para jun/19. Mas este segmento já vinha registrando perdas desde início de 2019 (-1,6% no 1º trim/19), refletindo a perda de dinamismo da economia como um todo e o quadro recessivo da indústria.
Com isso, como mostram as variações interanuais a seguir, os serviços de transportes foram o segmento com maior retrocesso no acumulado do primeiro semestre de 2019, mas não foi o único.
• Serviços total: -0,9% no 1º sem/18; +0,8% no 2º sem/18 e +0,6% no 1º sem/19;
• Serviços prestados às famílias: -2,0%; +2,3% e +4,8%, respectivamente;
• Serviços de informação, comunicação: -2,0%; +1,2% e +2,6%;
• Serviços prof., administrativos e complementares: -2,1%; -1,6% e -0,3%;
• Transportes, seus auxiliares e complementares: +0,7%; +1,6% e -2,7%;
• Outros serviços: +2,6%; +1,2% e +3,3%, respectivamente.
Outro ramo em queda na primeira metade de 2019 foi o de serviços profissionais, administrativos e complementares. Em seu conjunto, estas atividades estão no vermelho desde início de 2015 e ainda não dão sinais de recuperação. O máximo que tem ocorrido são perdas menos intensas, como agora em jan-jun/19 (-0,3%). Tal amenização se deveu muito à estabilidade no 2º trimestre (0%), mas seu componente de serviços mais qualificados, de natureza técnico-profissional, permaneceu negativo mesmo neste trimestre.
Os demais ramos conseguiram se sair melhor na primeira metade de 2019. Os casos mais consistentes couberam aos serviços prestados às famílias, cujo crescimento do faturamento real se acelerou de +2,3% para +4,8% do 2º sem/18 para o 1º sem/19, e outros serviços, que reúnem um conjunto diversificado de atividades. Neste último caso, seu resultado melhorou de +1,2% para +3,3% na mesma comparação.
Os serviços de informação e comunicação, que pesam bastante no setor como um todo, também conseguiram crescer mais nesta primeira metade de 2019 (+2,6%) do que no 2º sem/18 (+1,2%). Neste caso, porém, o resultado apenas do período abr-jun/19 sugere uma possível desaceleração (+1,9%).
Conforme os dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados hoje pelo IBGE para o mês de junho, o volume de serviços prestados apresentou retração de 1,0% frente a maio de 2019, na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo mês do ano anterior (junho/2018) aferiu-se queda de 3,6%. No acumulado de 12 meses registrou-se incremento de 0,7% e para o acumulado do ano registrou-se expansão de 0,6%.
Para a comparação com o mês imediatamente anterior, na série dessazonalizada, todos os cinco segmentos analisados registraram retração em relação ao mês imediatamente anterior, sendo eles: serviços de informação e comunicação (-2,6%), outros serviços (-2,3%), serviços de transportes, serviços auxiliares dos transportes e correios (-1,0%), serviços prestados às famílias (-0,2%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,1%). Já para o segmento das atividades turísticas registrou-se queda de 0,2% na comparação com o mês imediatamente anterior, com ajuste sazonal.
Na comparação com junho de 2018, dois dos cinco segmentos analisados registraram incrementos: serviços prestados às famílias (5,7%) e outros serviços (0,5%). Os demais segmentos apresentação decréscimos: transporte, serviços auxiliares dos transportes e correio (-10,9%), serviços de informação e comunicação (-1,2%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,8%). Já para o segmento de atividades turísticas o incremento registrado foi de 2,6%, ainda frente a junho de 2018.
Na análise para o acumulado do ano, três dos cinco segmentos analisados registraram expansões: serviços prestados às famílias (4,8%), outros serviços (3,3%) e serviços de informação e comunicação (2,6%). Os segmentos restantes apresentaram variações negativas: transportes, serviços, auxiliares dos transportes e correio (-2,7%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,3%). Para a mesma comparação, o segmento de atividades turísticas aferiu expansão de 3,1%.
Na análise por unidade federativa, no mês de junho de 2019, comparado ao mesmo mês do ano anterior, 7 dos 27 estados apresentaram incrementos: Amazonas (4,0%), Pernambuco (2,6%), Maranhão (2,4%), Ceará (1,8%), Mato Grosso do Sul (1,4%), Tocantins (1,3%) e Espírito Santo (1,0%). Para as outras unidades federativas registraram-se decréscimos, com as maiores observadas no: Acre (-11,8%), Piauí (-10,7%), Rio de Janeiro (-9,7%), Rondônia (-9,6%), Mato Grosso (-9,3%) e Distrito Federal (-9,3%).
Por fim, analisando o acumulado do ano, 10 dos 27 estados aferiram expansões, sendo as maiores: São Paulo (3,7%), Amazonas (3,5%), Maranhão (3,2%), Santa Catarina (3,1%), Pernambuco (1,5%) e Sergipe (1,4%). Para os demais estados houve retrações, sendo as mais expressivas no: Acre (-9,6%), Rondônia (-7,3%), Amapá (-6,8%), Piauí (-6,0%) e Rio de Janeiro (-5,3%).
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