Uma coisa interessante sobre os áudios que Sérgio Moro vazou ilegalmente para desestabilizar o governo Dilma é que ele trazia a realidade nua e crua. Nesses tempos de obscurantismo e pós-verdade, convenhamos, a verdade factual tem um peso revolucionário imenso.
Ou seja, Lula já entregava um cenário real muito diferente do teatrinho que comanda esse mantra da nova República “as instituições estão funcionando normalmente”. Muitos escolheram ignorar que o normalmente significa, na realpolitk histórica, com muita covardia.
Vale lembrar aqui esse clássico.
Agora, com o trem da história avançando mais um pouquinho, acho que já podemos não só considerar que Lula estava certo, mas também que a covardia é generalizada nas instituições.
O Itamaraty, ministério historicamente respeitado, amarga um grande vexame, um nepotismo vergonhoso, no mínimo, nos aspectos moral, intelectual e conjuntural. A indicação de Eduardo Bolsonaro como embaixador é uma afronta a Estado e, arrisco dizer, irá deixar insatisfeito até mesmo membros do núcleo duro do bolsonarismo.
As Forças Armadas – inegavelmente um poder moderador ao longo de toda República – foram humilhadas por uma dupla inusitada: um charlatão que mora nos EUA e um vereador do Rio de Janeiro que já empregou pessoas ligadas a milícias. Sem contar a fama de quadrilha mundial de tráfico de drogas que a mídia internacional não vai abafar.
Juízes e Juízas em todo Brasil assistem inertes o direito à um julgamento imparcial ser jogado às favas. No julgamento mais importante da história recente do país, que certamente determinou o rumo da nação, nosso judiciário não consegue ter respostas mínimas para uma denúncia de conluio entre juízes de todas as instâncias e procuradores do Ministério Público.
Estamos falando de Embaixadores e Embaixadoras; Juízas e Juízes e Generais das Forças Armadas. Funções de Estado, bem remuneradas e com alta visibilidade, e que não passaram pelo crivo direto da população, o voto.
Funcionárias e funcionários públicos que vivem do Estado mas não querer se dar ao trabalho nem mesmo de lutar para cumprir suas atribuições constitucionais mais básicas, colocadas em cláusulas pétreas na Constituição de 1988, para que a sanha da política oportunista não destruísse.
A estupidez parece tão generalizada, que assistimos cidadãos e cidadãs permitirem que seu trabalho, seu sustento financeiro e moral, seja humilhado a ponto de ameaçar a existência da própria instituição.
Se o Brasil não reagir, o autoritarismo fomentado pelo ódio à política engolirá as instituições, uma a uma, até sobrar uma ditadura.
E estaremos a um passo de se tornar, efetivamente, a República da Covardia.