Alguns internautas estranham as manchetes com boas notícias para Bolsonaro (e que são, portanto, negativas para a esquerda), porque entendem que um blog progressista deveria apenas trazer notícias boas para a… esquerda.
Mas eu não penso assim. Penso que uma das principais obrigações de um blog de esquerda, na atual conjuntura, é destruir as autoilusões que mantém o campo acorrentado a estratégias profundamente equivocadas. E a maneira mais honesta, franca e rápida de fazer isso é sendo honesto, franco e… rápido.
O fato é que depois de tantas derrotas, burradas e erros, acho simplesmente bizarro que a esquerda não procure mudar suas estratégias.
Uma dessas estratégias equivocadas, a meu ver, é essa cultura política do auto-engano, do “não vai ter golpe”, “Fora Temer”, “não vai prender”, “Lula é candidato”, “Haddad vai ficar em primeiro lugar no primeiro turno”, que, como vimos, não adianta nada.
Negar a realidade a golpes de frases de efeito não tem produzido nenhuma mudança efetiva dessa realidade.
Houve golpe, Temer não saiu, Lula está preso, Lula foi impedido, Haddad ficou num distantíssimo segundo lugar, Bolsonaro ganhou. E mais: a reforma da Previdência deve ser aprovada com tranquilidade na Câmara (embora já bastante aparada de seus excessos neoliberais). E não me surpreenderia também se o sistema digerir e normalizar até mesmo as falcatruas da Lava Jato reveladas pelo Intercept.
A nova onda é “Bolsonaro acabou”, o que me dá calafrios.
É capaz da esquerda ficar profetizando a “morte política” de Bolsonaro até 2022, e ele ser reeleito no primeiro turno…
Ter uma postura cética, e até mesmo ligeiramente pessimista, na atual conjuntura, me parece salutar, ou, no mínimo, compreensível. A história já provou que se autoiludir não nos deixa mais fortes; então vamos tentar diferente, vamos tentar olhar as coisas como elas são, sem mentir para nós mesmos. Quem sabe assim dá certo?
Vamos à verdade nua e crua: as últimas pesquisas trazem uma nova safra de más notícias para a esquerda, a qual não deve se deixar enganar pelo “esquerdismo” súbito dos editorialistas da Folha.
De um lado, a aprovação de Bolsonaro oscilou um ponto para cima na média geral do Datafolha, mas subiu fortemente em alguns segmentos estratégicos (sobretudo entre seus próprios eleitores).
De outro, o percentual de brasileiros que aplaudem a prisão de Lula se manteve rigorosamente o mesmo, desde abril do ano passado: 54%. Um ano e três meses de campanha de Lula Livre, as entrevistas do ex-presidente, e nem mesmo o escândalo da Vaza Jato, não mudaram o quadro em nada.
Vamos comentar o início da reportagem da Folha.
A narrativa da Folha é uma besteira inacreditável: “Brasil está rachado em três”. Ora, então qualquer país do mundo está “rachado em três”, já que todos os governos do mundo tem avaliações graduais, com parte da população achando bom, outra achando regular e uma terceira achando ruim.
A informação de que Bolsonaro tem “pior avaliação a esta altura de governo desde Fernando Collor” é pueril, porque não faz sentido nenhum comparar momentos históricos, políticos e econômicos completamente diferentes.
O que temos é o seguinte: a avaliação de “ótimo/bom” de Bolsonaro passou de 32% para 33%, ou seja, oscilou um ponto para cima.
Entre os eleitores de Bolsonaro, a sua avaliação positiva cresceu expressivamente, de 54% para 60%, e a negativa ficou estável em 9%.
O gráfico que mostra a reprovação crescendo em todas as regiões, por sua vez, traz uma informação parcial, porque mostra apenas as notas ruim/péssimo. E as notas ótimo/bom e regular, por região? Pelo menos a alteração em uma das regiões, o Nordeste, ficou dentro da margem de erro: 39% para 41%.
Para fazermos uma análise mais objetiva, temos que olhar a íntegra da pesquisa Datafolha, que acaba de ser divulgada no site do instituto; essa pesquisa deve ser comparada à de abril, cuja íntegra está aqui.
Vamos analisar também a última pesquisa que apura a opinião dos brasileiros sobre a prisão de Lula, também divulgada há pouco no site do Datafolha; essa pesquisa deve ser comparada com uma outra, feita em abril do ano passado, cuja íntegra está aqui.
Mas essas análises ficam para outros posts.