O ato contra a retirada do FAT do BNDES

Vice-presidente da AFBNDES, Arthur Koblitz abre o ato para um auditório superlotado no dia 19. Foto: AFBNDES

No site da AFBNDES (Associação de Funcionários do BNDES)

Quatro ex-presidentes do BNDES comparecem a ato convocado pela AFBNDES no Teatro do Banco

Manifestação contra a retirada dos recursos do FAT do funding do Banco, que superlotou o Teatro Arino Ramos Ferreira na última quarta-feira (19), expressou a força e a unidade do corpo funcional benedense. Agora é a hora do corpo a corpo em Brasília

Na última quarta-feira (19), véspera do aniversário de 67 anos do BNDES, criado em 1952 pelo presidente Getúlio Vargas, um ato promovido pela AFBNDES no Teatro Arino Ramos Ferreira expressou a força e a unidade do corpo funcional benedense em defesa da instituição. “Esse movimento é resultado da visita aos andares mais eficiente que a AFBNDES já fez. Parabéns a todos que estão aqui, defendendo o BNDES e o desenvolvimento brasileiro”, disse, emocionado, o vice-presidente da Associação, Arthur Koblitz.

A manifestação, convocada na sexta-feira anterior (portanto, antes da crise que levou à troca de comando do Banco), foi motivada pela proposta, presente no texto do relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), de retirada dos recursos constitucionais do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) do funding do BNDES para cobrir despesas com aposentadoria.

Cerca de 600 pessoas (no interior e no hall do teatro) participaram do ato, que contou com a presença de quatro ex-presidentes do BNDES: José Pio Borges (1998-1999), Luciano Coutinho (2007-2016), Paulo Rabello de Castro (2017-2018) e Dyogo Oliveira (2018). “Em toda a minha história de BNDES, nunca vi ato igual”, afirmou Sebastião Soares, vice-presidente do Clube de Engenharia, após a manifestação. Benedense da geração dos anos 1960, Sebastião exerceu várias funções executivas no Banco, incluindo o cargo de superintendente da Área de Planejamento.

Outros setes ex-presidentes enviaram mensagens de solidariedade à AFBNDES: André Franco Montoro Filho (1985-1987), Márcio Fortes (1987-1989), Luiz Carlos Mendonça de Barros (1995-1998), Andrea Calabi (1999-2000), Eleazar de Carvalho Filho (2002-2003), Carlos Lessa (2003-2004) e Demian Fiocca (2006-2007).

“Considerem minha assinatura no documento”, escreveu Márcio Fortes. “Também assino o documento em apoio ao movimento de vocês em defesa de uma instituição que ao longo de décadas cumpriu com eficiência e ética sua missão de apoiar o desenvolvimento do Brasil”, foi a mensagem de Mendonça de Barros. “Assino embaixo! Obrigado por esse movimento necessário e esclarecedor”, destacou Andrea Calabi. “Gostaria de estar presente, hoje, na sede do banco, e rever os colegas e profissionais que honram esta casa. Infelizmente, estou fora do Rio. Gostaria de transmitir esta mensagem de apoio a todos os funcionários do banco e à defesa da instituição”, escreveu Demian Fiocca.

Durante o ato, a AFBNDES tornou pública uma carta aberta em defesa do BNDES, do FAT e do desenvolvimento, que permanece sendo assinada por ex-presidentes do Banco, figuras públicas associadas ao BNDES, constituintes de 1988, intelectuais e economistas que apoiam a causa do desenvolvimento. Os ex-ministros Nelson Jobim e Ciro Gomes também se posicionaram em apoio ao movimento. A íntegra do documento, lido durante o ato pelo economista Marcelo Miterhof, está disponível na primeira página desta edição.

O evento teve transmissão ao vivo na página da Associação no Facebook, com quase 2.000 pessoas alcançadas, mais de 1.000 envolvimentos e números expressivos de compartilhamentos, comentários e curtidas. O próprio ex-presidente Mendonça de Barros acompanhou a manifestação pela nossa página: “Eu segui tudo pela internet. Obrigado pela referência. Estou à disposição de vcs”, escreveu após o ato. O vídeo ainda pode ser conferido na nossa Fanpage, mas uma edição está sendo preparada para ser inserida ainda esta semana no canal da AFBNDES no YouTube.

A grande mobilização dos empregados ficou evidente pela quantidade de colegas (mais de 30) que solicitaram ingresso nas listas de transmissão que a entidade mantém no WhatsApp. Para participar, basta enviar mensagem para o número 21 96743-1955.

O ato também teve grande repercussão nos meios de comunicação, com matérias publicadas pela Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo, Valor Econômico, Correio Braziliense, Agência Brasil, Agência Reuters, Rede Brasil Atual, entre outros.

Várias entidades estiveram representadas no Teatro do BNDES, entre elas a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), Associação dos Funcionários do Ipea (AFipea), Associação Brasileira de Economistas pela Democracia, Conselho Deliberativo do FAT (Codefat), Associação dos Fabricantes de Bens de Capital (Abimaq) e Sindicato dos Bancários do Rio. A ABRAVA, Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento, também enviou sua solidariedade à AFBNDES.

O presidente da Associação, Thiago Mitidieri, não pôde comparecer ao evento, recuperando-se que está de um problema de saúde.

Corpo a corpo em Brasília para defender investimentos

Os ex-presidentes do BNDES defenderam que o corpo técnico se organize para convencer os deputados a desistir da mudança na destinação dos recursos do FAT com o argumento de que eles fomentam investimentos e geram empregos. “Isso tem que ser levado ao Congresso, dizer que a medida afeta a capacidade de investimento do Brasil, não do BNDES. O parlamentar não tem tempo para ler as notas técnicas do banco. Isso tem que ser dito cara a cara, explicado”, defendeu Dyogo Oliveira.

Paulo Rabello de Castro também criticou a proposta e disse que representantes dos funcionários precisam procurar o Congresso Nacional para mostrar o impacto da proposta nos investimentos do país. “Não adianta fazermos essa reunião aqui se não fizermos um corpo a corpo em Brasília”.

O vice-presidente da AFBNDES, Arthur Koblitz, viajou hoje para Brasília. A Associação está em contato com uma assessoria parlamentar para ajudar no processo de aproximação com parlamentares e representantes do governo. O presidente da comissão especial sobre a reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), convocou nova reunião para esta terça-feira (25). 78 deputados ainda estão inscritos para debater a proposta.

Enquete sobre a reforma da Previdência está aberta no site da Câmara dos Deputados (https://forms.camara.leg.br/ex/enquetes/2192459). Há cinco questionamentos em relação ao tema. Até sexta-feira passada, o resultado era o seguinte: discordo totalmente (58% dos votos); concordo totalmente (30%); discordo na maior parte (8%); concordo na maior parte (3%); estou indeciso (1%). Vote você também!

Impactos negativos do fim do repasse do FAT ao BNDES

Na abertura do ato, Arthur Koblitz disse que a proposta de mudança na destinação dos recursos do FAT é uma má ideia e apresentou alguns impactos negativos caso a medida seja aprovada na reforma da Previdência:

– Perda de fonte estável de recursos da ordem de R$ 200 bilhões em 10 anos;

– A medida inviabiliza R$ 410 bilhões em investimentos nos próximos 10 anos, em contexto de déficit de investimentos de R$ 450 bilhões/ano em infraestrutura;

– Menos 8 milhões de empregos gerados na economia em 10 anos, em uma conjuntura de 14 milhões de desempregados;

– Menor proteção ao trabalhador ativo em detrimento dos aposentados;

– A medida pressiona o orçamento público com o aumento das despesas de custeio (reduzindo a margem do Teto de Gastos para outras despesas sociais) e redução nos investimentos. Desde 2011, o BNDES pagou R$ 220 bilhões resultantes da aplicação de recursos, tributos e dividendos ao Tesouro;

– Fontes de mercado não são aderentes ao perfil das operações do BNDES.

Segundo o vice-presidente da Associação, o tema BNDES tem sido tratado como se o Banco fosse uma idiossincrasia brasileira. “Mas vários países têm bancos de desenvolvimento. Vários países têm bancos de desenvolvimento do porte do BNDES. O exemplo mais dramático é o da Alemanha. Uma potência tecnológica e industrial que não dispensa ter um banco de desenvolvimento. Então, como vender para o povo brasileiro que a gente tem que abrir mão do BNDES? Ou tem que reduzir o seu tamanho?”, questionou.

Para Arthur o ato reuniu uma seleção excelente de ex-presidentes, que representam muito bem o conjunto de dirigentes que o BNDES já teve. “Vocês nos representam na diversidade e no compromisso com o Banco. Sabem da importância da instituição para o Brasil. A gente tem usado na Associação o termo patriótico para nos referir a essa cruzada. A gente se move não por uma questão meramente corporativa, mas por uma convicção de que o BNDES é fundamental para o país”.

Segundo Arthur, a passagem pelos corredores do Banco na terça-feira (18) foi ótima. “A gente debateu a nossa unidade e tivemos um diálogo bastante produtivo com alguns colegas. Nós estamos saindo mais fortalecidos de tudo isso. Se alguém quer falar de racha, está totalmente errado. Essa é uma Casa que sempre foi plural, sempre teve diversidade. E esse é um valor do benedense. Uma das riquezas do BNDES. O Banco soube crescer com o debate entre desenvolvimentistas e liberais. A gente tem que reencontrar esse diálogo, permitir que ele ocorra, e usar isso em proveito do desenvolvimento brasileiro”.

Para ex-presidentes do BNDES, acabar com repasses do FAT é abrir mão de projeto de país

Em sua fala, o ex-presidente Pio Borges mostrou-se mais alinhado com a equipe econômica em relação às devoluções de recursos ao Tesouro e à venda das carteiras da BNDESPar. “Mas os recursos do FAT são fundamentais e eu não poderia deixar de me solidarizar com todos aqui presentes na defesa do BNDES”, disse.

Luciano Coutinho, por sua vez, disse que a extinção dos repasses do FAT acaba com uma fonte de financiamento confiável e estável, “frustrando a possibilidade de um projeto de país”. Ele acrescentou que “a devolução de recursos para abater a dívida já foi até onde deveria ir” e que a venda de ações da carteira da BNDESPar deveria financiar investimentos em infraestrutura.

Para o ex-presidente, a iniciativa contra o Banco surge num momento em que, mais do que nunca, o Brasil “anseia por desenvolvimento econômico”. “Dispensar o papel de uma instituição como o BNDES e debilitar o principal esteio de seu funding significa frustrar a possibilidade de desenvolvimento do país”, acrescentou.

Coutinho afirmou não acreditar em outras alternativas para substituir o papel de fomento ao desenvolvimento a longo prazo desempenhado historicamente pelo BNDES. Segundo o ex-presidente, a recuperação da economia depende de um aumento consistente do investimento em infraestrutura, que hoje está entre 1% e 2% do PIB.

Para Rabello de Castro, nós brasileiros estamos nos brutalizando do ponto de vista intelectual. “Isso não é ideologia liberal, sequer neoliberal. Por que não dizem logo que querem acabar com o Banco? Por que, em vez de um novo presidente, não indicam um interventor, um liquidante?”. Segundo ele, um dos mitos em torno da instituição é o de que o BNDES “expulsa” o setor privado dos investimentos. “É um mito. Ele é hoje um associado do setor privado. O que expulsa o desenvolvimento é o baixo crédito para o setor produtivo”.

Último a discursar, Dyogo Oliveira ponderou que o objetivo da reforma da Previdência é reduzir a despesa do custeio, para abrir espaço para o crescimento do investimento. “Mas essa medida de retirar o funding do FAT do BNDES é justamente o oposto disso. Está se tirando a capacidade de financiar o investimento no Brasil”, afirmou. Para ele, é preciso deixar de lado a ideologia e começar a ter debates racionais, objetivos, baseados em números, a fim de tomar medidas com precisão.

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