Uma coisa que, de alguma maneira, me deixa contrariado nesse momento de crise da Lava Jato é como diversos analistas políticos agem com total dissimulação com o escândalo dos vazamentos. Como se não soubessem que “a maior operação de corrupção da história” era assim, autoritária e ilegal, desde o início.
Não estou falando da população em geral. Essa, pra mim, foi igual espectador de mágica na visão do Cristopher Nolan no seu genial “O Grande Truque”: está procurando pelo segredo mas não vai achar, pois, na verdade, não quer saber.
[Vou deixar o trailer do filme aqui pois ele é bom demais! E tem no Netflix]
Falo da mídia brasileira, concessões públicas que deveriam, no mínimo, oferecer uma visão verossímil dos acontecimentos.
Contudo, se a mídia ignorou o tempo todo as evidências que a Lava Jato era uma operação ilegal e autoritária, os blogs progressista já alertavam antes mesmo do vazamento de áudios da presidência da República.
Em 2014, por exemplo, apenas com a leitura da realpolitk por trás da operação, o Tijolaço do Fernando Brito decretou que os procuradores haviam condenado a Lava Jato a morte.
Fernando Brito, Moro deu um tiro no pé?
Ou, ainda, em que finalmente vai acabar esta tal Operação Lava Jato, porque seus próprios investigadores parecem jogar contra sua sobrevivência jurídica no médio prazo e muito mais nos seus efeitos políticos imediatos.
Também em 2014, vejam bem há quase cinco anos, nosso editor Miguel do Rosário já alertava que a Lava Jato era um Golpe com base no relato de alguns advogados dos acusados, numa reportagem da Folha que não ganhou destaque na mídia.
Sergio Moro quer delação premiada, porque este é o instrumento do golpe. Para isso estão usando a mão pesada do Estado para constranger, intimidar, ameaçar.
Miguel do Rosário, porque a lava jato é golpe e não luta contra a corrupção
O texto mais incrível, pra mim, é do Rodrigo Vianna, do Escrevinhador, que em 2015 adiantou claramente que “Moro, procuradores e delegados” agiam como um “estado islâmico judicial”.
A esquerda precisou de alguns meses para enxergar que a Lava Jato cometia excessos. Nunca foi segredo para ninguém. Nem precisamos do episódio dos grampos para entender a temeridade das ações protofascistas da LJ.
Já a mídia tradicional blindou durante anos a operação, negando a população brasileira a oportunidade de entender as ilegalidades que a Lava Jato cometeu desde o início.
Consequentemente, ficou difícil enxergar o projeto de poder que existia por trás da promessa de combate a corrupção.
O Brasil colapsou economicamente. Sabemos que grande parte dessa crise pode ser creditada a instabilidade política aguda que enfrentamos desde 2014, justamente o ano que a Lava Jato passou a atuar.
A mídia fez vista grossa para uma investigação medieval e isso precisa, pelo menos, ficar guardado na história. Algum dia vamos passar essa história a limpo e vamos precisar aprender com os erros dela.