– “Lula preso para não ganhar as eleições de 2018” – esta é a tônica das principais matérias internacionais que repercutem a série de reportagens divulgadas ontem (9) pelo The Intercept Brazil, que trazem conteúdos dos diálogos entre o ex-juiz e agora ministro da justiça, Sergio Moro, e procuradores da operação Lava Jato. Os diálogos revelam que houve viés no processo acusatório, além de relação promíscua e indevida entre membros da justiça, com o claro objetivo de condenar políticos em geral, não somente Lula, sem provas.
– Bolsonaro surpreendeu semana passada com a divulgação da “ideia” de uma moeda única para Brasil e Argentina, logo após sua visita ao presidente Macri em Buenos Aires. Até o Banco Central brasileiro se apressou em emitir nota para dizer que não está em curso qualquer estudo ou projeto para uma “união monetária com a Argentina”. Talvez Bolsonaro estivesse ávido por demonstrar o benefício de sua visita a Macri, enquanto imprensa e opinião pública diziam justamente o contrário. O peso argentino se desvalorizou mais de 50% só no último ano e as ruas em torno da Casa Rosada em Buenos Aires se encheram para o protesto contra a visita do capitão brasileiro.
– Os EUA continuam colocando carga sobre o México, com relação ao tema das migrações. Estava anunciado para hoje, 10, uma aplicação de tarifas a produtos mexicanos (mais de 70% das exportações mexicanas são para os EUA), mas parece que a presença do chanceler mexicano Marcelo Ebrard em terras estadunidenses durante quase toda a semana passada fez efeito e as tarifas não serão aplicadas. Os americanos conseguiram que o México se comprometesse a “registrar e controlar as entradas na fronteira”, com a Guatemala, e “posicionar a Guarda Nacional em todo o território, em especial na fronteira sul”. Foi uma vitória de Trump, embora Obrador, presidente do México, tenha assegurado que seguirá trabalhando com políticas de humanização das relações na fronteira e acolhimento de migrantes que chegam sedentos, famintos e machucados dos países da América Central dos quais migram, mesmo que essas pessoas fossem deportadas em seguida. O número de deportações triplicou nos primeiros meses de 2019 no México. O país tem recebido 200% mais migrantes em 2019 do que no mesmo período de 2018. A militarização mexicana das fronteiras veio junto com a exigência do cumprimento, por parte dos EUA, de um plano construído entre México, El Salvador, Guatemala e Honduras, com apoio da Cepal, para fomentar o desenvolvimento e o investimento no sul do México e na América Central. Os americanos deveriam investir 4,8 bilhões de dólares no plano. No entanto, pelo menos por enquanto, está valendo a máxima de Trump de que os “mexicanos pagarão pelo muro na fronteira”. Um muro militar, mas um muro.
– Há um dado, do governo do México, de que mais de 40 mil crianças viajam sozinhas da América Central para chegar aos EUA.
– Boris Johnson parece ser mesmo o favorito a substituir T. May como primeiro ministro do Reino Unido. Durante o final de semana, em franca campanha, ele anunciou que não pagará à União Europeia os custos pela saída do Reino Unido do bloco. Calcula-se que estes custos são da ordem de 39 bilhões de libras ou 50 bilhões de dólares, referentes a obrigações pendentes do RU perante a UE e que deveriam ser pagos ao longo de anos. Johnson também garantiu que terá outra “atitude” nas negociações e que irá “mandar” nos negociadores britânicos, sugerindo que May deixava a tarefa a cargo de “servidores públicos imparciais”. Disse também que não aceitará regras europeias para o funcionamento da fronteira com a Irlanda do Norte. Enquanto isso, Bruxelas diz que não será discutido novo acordo. O que está valendo é o último fechado com May. (Dados da reportagem de William James e Michel Rose na Reuters).
– Já Jeremy Hunt, atual ministro britânico das relações exteriores, diz que a UE pode renegociar sim o acordo do Brexit e se apoia em declarações de Angela Merkel para tal afirmação. Hunt também é candidato a premiê do Reino Unido.
– Chineses e americanos conversaram no âmbito da reunião de ministros de Finanças do G20 que ocorreu no Japão no último final de semana. Foi a primeira reunião com altas autoridades desde o fracasso das recentes negociações comerciais, sabotadas por novas tarifações de Trump. Estavam na reunião o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, e o presidente do Banco Popular da China, Yi Gang. A cúpula do G20 será em Osaka, no Japão, este ano e os presidentes Trump e Xi Jinping poderão ter reunião bilateral, a depender das negociações do próximo período.
– Há um surto do vírus HIV (Aids) no sul do Paquistão. O que intriga as autoridades é que a maioria das infectadas são crianças. Cerca de 700 pessoas já tem o diagnóstico. Desconfia-se que se deva ao uso de seringas não esterilizadas. Até mesmo crianças de um ano, filhas de pais não infectados, estão sendo diagnosticadas com o vírus. Como a doença é mais comum em adultos, os retrovirais específicos para crianças existem em número limitado. O Paquistão é um dos países do mundo em que os tratamentos “ocidentais” como vacinas, por exemplo, ainda são vistos com muito preconceito. Segundo Shaiq Hussain, que escreveu a matéria da qual retirei esses dados e que está na FSP, só em 2019 seis vacinadores e seus guardas foram mortos a tiro no Paquistão após ser difundido o boato de que uma vacina de pólio (da gotinha) estava adoecendo crianças.
– As fronteiras entre Venezuela e Colômbia foram reabertas no estado venezuelano de Táchira. Estava fechado desde 22 de fevereiro, véspera do intento do golpe da “ajuda humanitária”.