Uma multidão de intelectuais, professores, pesquisadores e cientistas se reunirá nesta quinta-feira na sede da ABI, no Rio de Janeiro, para um ato político em defesa do Censo e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Como sabemos, o Censo realizado pelo IBGE de dez em dez anos é a pesquisa mais completa sobre a sociedade brasileira realizada no país. Seus resultados contribuem para a avaliação e o monitoramento de inúmeras políticas públicas do governo federal, dos governos estaduais e das mais de 5 mil prefeituras espalha em todo o território nacional.
Contudo, sob o argumento do corte orçamentário, o governo federal pretende reduzir a quantidade de perguntas feitas pelo Censo 2020 o que impactará profundamente em nosso conhecimento científico. A ideia é reduzir o questionário de 112 perguntas para 78.
De acordo com a historiadora Lilia Schwarcz, da USP, “essa proposta foi feita sem consulta aos técnicos do IBGE e pode promover uma espécie de apagão estatístico no país”.
Raquel Rolnik, arquiteta e urbanista da USP e ex-relatora especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada, fez um importante alerta sobre a situação:
“Parte destas informações simplesmente desaparecerá do Censo 2020 em função da pressão que sofre o órgão por parte do Ministério da Economia para cortar custos. Um dos indicadores que desapareceu na proposta atual é o gasto mensal com o aluguel, justamente o que hoje vem crescendo assustadoramente e se constituiu nos últimos anos o componente que mais tem incidido na piora dos indicadores de moradia”, diz Rolnik.
Já um dos maiores especialistas em avaliação e monitoramento de políticas públicas no Brasil, o professor Paulo Jannuzzi explica que mudanças no Censo não podem ser feitas do dia para noite:
“O IBGE é uma instituição com plano de trabalho definido com muita antecedência. Mudanças de curto prazo podem custar milhões de reais em falhas no processo de planejamento e avaliação de políticas realizadas nos municípios. Esse é um aspecto central a destacar: o Censo é uma fonte insubstituível para o planejamento dos municípios. Alterá-lo a essa altura é desconsiderar um longo processo de discussão republicana, transparente e participativa”, sustenta Jannuzzi.
O ataque contra o IBGE se soma ao projeto de desqualificação da ciência e da pesquisa no Brasil. Alguns dias atrás o governo federal já havia desqualificado pesquisas feitas pela Fiocruz. “Não acredito nas pesquisas da Fiocruz”, teria afirmado o ministro da cidadania, Osmar Terra, na ocasião.
Entre os diversos nomes que estarão presentes no ato na ABI constam os ex-presidentes do IBGE como Roberto Olinto, Eduardo Nunes e Wasmália Bivar e o ex-presidente do IPEA, Marcio Pochmann.
A ABI fica na Rua Araújo Porto Alegre, 71, Centro do Rio.
Paulo
05/06/2019 - 19h50
Até o ano passado a única pesquisadora que havia me entrevistado na vida era do IBGE (Censo de 2000). E olha que já lá se vão 5 décadas, rs. O Censo é de importância vital para o planejamento das políticas públicas…