Uma reportagem na Folha de hoje denuncia o fracasso retumbante do sistema chileno de capitalização na previdência, implementado pela ditadura Pinochet, e que agora ameaça produzir uma explosão social no país.
Pelo sistema capitalização pura, cada trabalhador poupa para si mesmo.
Ocorre que, em função das mudanças drásticas no mercado de trabalho observada nos últimos anos, com aumento da informalização, que já corresponde a 33% no Chile e 45% no Brasil (percentual dado pela Folha), grande parte da população chilena deve ficar completamente alijada da previdência, ou seja, sem nenhuma aposentadoria.
Alfonso Swett, presidente da Confederação da Produção e do Comércio do Chile (CPC) prevê, por isso mesmo, uma “bomba social” no país, que já se começa a se notar em guerras de opinião nas redes sociais, mas que logo passará às ruas.
“O aumento da informalidade minou o sistema de capitalização no Chile e o transformou em uma bomba social porque o governo não ficou atento às transformações do mercado de trabalho, não adotou políticas públicas adequadas”, disse Swett durante o seminário no 8º Encontro Santander da América Latina, em Madri, na Espanha.
O executivo, que participa de um evento na Espanha, alertou o governo para este problema.
A reportagem observa que, no Chile, há 2,4 milhões de informais, contra 4,8 milhões de trabalhadores formais. A magnitude desse número no Brasil é totalmente diferente. Segundo o IBGE (que inclusive divulgou hoje o número de abril), para um total de 92 milhões de brasileiros ocupados, temos 40 milhões em condição informal. Se somarmos os desempregados, que já são 13,17 milhões, teremos 53,19 milhões de brasileiros em situação de risco de não terem aposentadoria, caso o sistema de capitalização almejado pelo governo Bolsonaro seja implementado.
Se somarmos os empregadores e trabalhadores por conta própria com CNPJ (muito dos quais também não pagam previdência), teremos um total de 61,4 milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade.
É óbvio que uma situação dessa promete terrível instabilidade econômica e política para o Brasil. Como é possível que algum investidor acredite num país que condenará mais de 60 milhões de pessoas a terem uma velhice sem renda?
Abaixo, a tabela original do IBGE que usei para fazer o quadrinho acima.