Peço licença para trazer ao blog uma polêmica regional, de Pernambuco, estado onde o Cafezinho tem a honra de ter muitos leitores. Vou publicar abaixo duas matérias: 1) Uma resposta de Paulo Câmara a Ciro Gomes, ex-candidato a presidência da República, que fez algumas acusações ao governador quando esteve recentemente em Recife; 2) A réplica de Pedro Josephi, advogado pernambucano, militante trabalhista e vice-presidente da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini.
Primeiro, a reação de Paulo Câmara:
‘Não aceita a derrota eleitoral’, diz Paulo Câmara em resposta a Ciro Gomes
Por Rosália Rangel
Publicado em: 28/05/2019 20:22 Atualizado em: 28/05/2019 21:18
O governador Paulo Câmara (PSB) reagiu nesta terça-feira (28) às declarações do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), que disse, em entrevista exclusiva ao Diario de Pernambuco, ter sido “enganado” pelo socialista nas articulações para fechar alianças na campanha de 2018. Em nota enviada à redação, o governador afirma que “em relação à tentativa de Ciro Gomes, de nos responsabilizar pelo insucesso na construção de uma aliança que reforçasse a sua candidatura presidencial, fica claro que o ex-ministro não aceita sua derrota eleitoral e procura sempre se vitimizar, procurando apontar culpados”, destaca o gestor no texto.
Ainda na entrevista ao Diario, Ciro lembrou que Paulo Câmara teria prometido a ele apoio na disputa pela Presidência da República, quando, de acordo com o ex-presidenciável, o PSB já teria fechado aliança com o PT em troca da neutralidade na campanha presidencial. O pedetista lembrou também que Paulo Câmara o chamou “desnecessariamente” para uma conversa, em Brasília, para dizer que ia apoiá-lo, quando, segundo o pedetista, já havia fechado acordo com o PT para “sacrificar” a candidatura de Marília Arraes (PT) na disputa pelo governo do estado.
Na nota, Paulo Câmara esclarece a proposta política do PSB na eleição presidencial de 2018, assegurando ter sido sincero com o ex-ministro e o com PDT, “pois colocamos desde o início, que nossa prioridade em 2018 era construir uma ampla frente de esquerda em Pernambuco, incluindo partidos como o PCdoB e o PT. Isso é de conhecimento público. Também sempre fizemos questão de destacar ao próprio Ciro, durante as reuniões que realizamos, que, nacionalmente, o PSB estava dividido entre três candidaturas presidenciais e a neutralidade, que terminou prevalecendo”, frisou o governador, que também é vice-presidente nacional do PSB.
No ano passado, durante o período pré-eleitoral, Paulo Câmara chegou a receber Ciro Gomes duas vezes no Palácio do Campo das Princesas, nos meses de janeiro e junho. O socialista chegou a acenar para uma possível aliança, mas acabou fechado com o PT. O governador, que tentava a reeleição, subiu no palanque do então candidato petista à Presidência da República Fernando Haddad, podendo assim, usar o legado do ex-presidente Lula para fortalecer seu projeto de continuar no comando do estado. Ciro Gomes, por sua vez, passou a criticar durante a postura dos socialistas.
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Agora, a resposta de Pedro Josephi, publicado no blog do Jamildo, um importante blog político do estado:
Aliado de Ciro Gomes sai em sua defesa e critica Paulo Câmara
Publicado em 30/05/2019 às 10:45
Por Pedro Josephi, advogado e vice-presidente da Fundação Leonel Brizola em Pernambuco
Após o ex-ministro Ciro Gomes, vice-presidente nacional do PDT, afirmar que fora enganado pelo governador Paulo Câmara nas articulações para a campanha presidencial de 2018, o chefe do executivo estadual e vice-presidente nacional do PSB afirmou em nota que Ciro “não aceita a derrota eleitoral”.
Inquieto que sou, acho por bem, trazer alguns elementos para esta discussão. Primeiramente, nós do PDT aceitamos sim a derrota eleitoral não só nossa, mas do campo político progressista, tanto é que o próprio Ciro Gomes estabeleceu um prazo de 100 dias para poder rodar o país discutindo e criticando a evidente paralisia e balbúrdia (aproveitando o termo do Ministro da Educação) do governo Bolsonaro.
No entanto, aceitar a derrota não significa “naturalizar” ou acomodar-se com a complexa realidade que levou à presidência uma figura desprovida de atributos mínimos para o cargo. Isto posto, na Câmara Federal, o PDT fez todos os esforços para consolidar um bloco, inclusive, com o PSB, para fortalecer uma oposição propositiva, responsável e atenta a mensagem que o povo nos deu nas eleições presidenciais de 2018.
Acontece que não naturalizar esta derrota nos impõe um exercício de profunda reflexão, análise e humildade, inclusive, para perceber que a derrota não se deu por e em 2018. Pelo contrário, a derrota política, que se expressou eleitoralmente ano passado, começou com o apoio do PSB, a partir do núcleo duro de Pernambuco, ao PSDB de Aécio Neves na disputa presidencial de 2014 no segundo turno.
A derrota eleitoral de 2018, que não queremos naturalizar, passa também, sobretudo, pela ruptura institucional ocasionada pelo impeachment da ex-presidenta Dilma.
Como Ciro Gomes sempre diz “remédio para governo ruim não é golpe”, e sim povo mobilizado para escolher o seu futuro. Todavia, parece que Paulo Câmara esquece do seu papel fundamental no impeachment de Dilma, pois além da bancada federal do PSB ter dado os votos necessários pelo impedimento, o governador liberou os seus secretários estaduais, que eram deputados, para votarem a favor da saída da presidenta democraticamente eleita. Ruptura esta que prejudicou os interesses de Pernambuco, haja vista a falta de verbas e investimentos do governo federal no estado, como diversas vezes o próprio Paulo Câmara publicizou.
O governador, na nota, justifica ainda a manobra e o drible em Ciro por ter o PSB a prioridade na eleição estadual de Pernambuco, sufocando a então candidatura de Marília Arraes que despontava nas pesquisas e nas ruas. Ora, sacrificou-se uma articulação nacional que poderia ter freado os ímpetos conservadores e reacionários que hoje estão em volta da presidência da República por um projeto de manutenção e reprodução de poder no estado, afinal de contas já são 12 anos de PSB à frente de Pernambuco, com seus méritos e deméritos, saliento.
Portanto, quando o governador Paulo Câmara diz que Ciro não aceita a derrota eleitoral não nos incomoda, preferimos a inquietude e a humildade necessária para as reflexões do que a conformidade e ausência de autocrítica de quem foi decisivo para a conjuntura que levou Bolsonaro ao poder.