No DW
Opinião: Mudança sem revolução na UE
Os partidos populares mínguam. Verdes e liberais crescem, assim como os populistas de direita. O Parlamento Europeu fica mais colorido – ou mais fragmentado. E a UE segue cumprindo seu destino, opina Bernd Riegert.
Cidadãos sorridentes portam duas bandeiras da União Europeia
A “eleição do destino”, para a qual sobretudo os grandes partidos centristas conclamaram, está decidida. Uma maioria de três quartos das eleitoras e eleitores da União Europeia segue dando seus votos em partidos pró-europeus.
A tomada de poder do Parlamento Europeu pelos populistas de direita permanece uma promessa irrealista em que só o cabeça dos negadores direitistas, o ministro do Interior e vice-premiê italiano Matteo Salvini, acreditou. O modelo liberal de democracia da UE venceu, por enquanto, embora com acentos regionais bastante preocupantes.
Na França, os populistas de direita foram pela segunda vez a facção mais forte numa eleição europeia. Na Itália triunfa Salvini. Na Hungria há muito os ultradireitistas são o partido estatal. Na Polônia eles recuaram um pouco, mas se mantêm como principal força política.
Pior do que previsto, por motivos diversos, foi o desempenho da direita antieuropeia na Alemanha, Áustria, Dinamarca, Holanda e Espanha. No todo, o avanço ultradireitista no Parlamento Europeu se manteve dentro dos limites do suportável. Como os nacionalistas não vão conseguir se organizar em uma bancada, eles poderão atrapalhar o trabalho do órgão, mas não impedir.
Decisiva foi a opção europeia em favor das plataformas ambientalista e climática. Uma onda verde atravessou partes da UE, propiciando um incremento inesperado aos políticos verdes. Muito provavelmente sua bancada será maior do que a dos populistas de direita encabeçados por Salvini – um enorme sucesso.
Ao que tudo indica, manifestações pelo clima e escolares em greve mobilizaram numerosas eleitoras e eleitores de menos de 30 anos de idade – contudo só em partes da Europa ocidental, em especial na Alemanha, França, Luxemburgo e Finlândia. No Leste e Sul europeus, política ambientalista à la Greta Thunberg, a ativista sueca de 16 anos, não tem qualquer peso.
O destino também bateu forte à porta das legendas estabelecidas de centro, os assim chamados partidos populares. Ambos os blocos, tanto democratas-cristãos como social-democratas, minguaram na mesma medida em que, do outro lado, cresceram os verdes e liberais. Agora não há mais como organizar maiorias no Parlamento Europeu a partir das abaladas grandes legendas: vai se precisar dos liberais, e talvez também dos verdes.
Esse fato se fará sentir já na cúpula extraordinária da UE, nesta terça-feira (28/05), em que os chefes de Estado e governo exporão suas mais importantes decisões de pessoal. Não funciona mais a forma simples em que o principal candidato do maior grupo, ou seja, dos democratas-cristãos, torna-se presidente da poderosa Comissão Europeia. As cartas estão ruins para o chefe da aliança conservadora Partido Popular Europeu (PPE), o alemão Manfred Weber.
Do ponto de vista da Alemanha, chama especial atenção o destino dos social-democratas: eles perdem popularidade e, pela primeira vez no país, caem abaixo dos verdes. Na Europa, contudo, há também a tendência contrária: na Espanha, Itália e Holanda os social-democratas foram bem, significando que a facção não precisa mais sofrer sob o jugo dos democratas-cristãos.
A lista das especificidades nacionais é longa. Na Grécia, o governo populista de esquerda se precipita numa crise Na Áustria vence o chanceler federal conservador, embora esteja confrontado com uma moção de desconfiança. Na Polônia a oposição burguesa desperta novamente.
A “eleição do destino” está decidida. O resultado global é: continuar pela Europa, mas com um parlamento fragmentado. Muito mais eleitoras e eleitores do que se esperava responderam ao apelo. Uma participação de 50% pode não ser nada de que uma democracia possa se orgulhar, mas, afinal de contas, foi a mais alta em mais de 20 anos. O incremento foi sustentado por uma mobilização acima da média nos grandes membros Alemanha, França, Espanha e Polônia.
Até mesmo no Reino Unido, onde essa votação era totalmente supérflua, devido à iminência do Brexit, a participação cresceu, em vez de cair para zero. O eleitorado queria extravasar mais uma vez sua frustração, porém enviou para Estrasburgo um número espantoso de liberais pró-europeus.
Portanto a União Europeia permanece aquilo que sempre foi: uma multidão colorida, difícil de entender, que no fim precisa tecer acordos. Esse é o seu destino.