Rejeição ao governo Bolsonaro já supera aprovação

Pesquisa do Atlas Político divulgada hoje (confira a íntegra aqui; o relatório anterior, de março, está aqui) traz algumas informações interessantes para balisarmos nossos debates.

Eu faria apenas uma observação. A pesquisa, ao menos no que tange ao que é divulgado, é de uma qualidade inferior porque não traz a segmentação por renda, região, idade, nada. O Cafezinho pediu à empresa os dados extratificados, e se os receber, divulgarei aqui imediatamente, neste mesmo post, com os devidos elogios aos responsáveis pelo levantamento.

Eu separei alguns gráficos e irei comentá-los. Vamos lá.

Como se pode ver, a linha vermelha (ruim/péssimo) cruzou a verde (ótimo e bom) e, portanto, Jair Bolsonaro já é – ao menos nesta pesquisa – um presidente com déficit de aprovação popular: o percentual dos que não gostam de seu governo subiu para 36%, ao passo que aqueles que gostam agora são apenas 28,6%.

É uma deterioração notavelmente acelerada para um governante em início de mandato, mas explica-se pelas trapalhadas retóricas do presidente e, sobretudo, pela piora das condições sócio-econômicas do país, com aumento do desemprego, repique inflacionário, asfixia do crédito, dentre outras mazelas.

Também acho importante analisar esse gráfico, que mostra a estabilidade da forte rejeição ao ex-presidente Lula. 56% dos brasileiros são a favor da sua prisão. A oscilação em relação à pesquisa anterior é pouco expressiva. Trata-se de um número parecido ao que vimos em pesquisa Datafolha de outubro de 2018, que tem a vantagem de oferecer uma segmentação por renda, região, idade.

Segundo o Datafolha (e podemos inferir, pela sondagem do Atlas Político, que os números referentes a Lula não mudaram muito), a rejeição a Lula é particularmente alta nas classes médias, no Sul, no Sudeste e nos grandes centros urbanos, ou seja, justamente, nos núcleos mais influentes na formação da opinião pública.

Entre pessoas com renda familiar entre 2 e 5 salários, segundo o Datafolha de outubro, 60% apoiavam a prisão do presidente, percentual que crescia para 75% para cidadãos com renda familiar entre 5 e 10 salários.

No Sul e Sudeste, o apoio à prisão de Lula é de 65% e 59%, respectivamente.

O gráfico acima mostra que existe uma lógica na eleição de Bolsonaro. Ele ainda é, de fato, um dos personagens com imagem mais positiva dentre os principais nomes políticos do país, perdendo apenas para Sergio Moro, que é seu ministro da Segurança Pública.

Lula, Haddad e Rodrigo Maia são os personagens, segundo essa pesquisa, com a pior imagem: os dois primeiros com 58%, e Rodrigo Maia, com 61% de imagem negativa.

O gráfico acima traz a variação. O caso mais curioso é de Ciro Gomes. Foi o personagem que experimentou o maior crescimento de sua imagem positiva, de 3,6%, em relação ao mês anterior. Aliás, foi o único que viu ganho significativo.

Errata: Havia publicado aqui que a imagem negativa de Ciro tinha crescido; ocorreu o oposto; a imagem negativa do ex-ministro caiu, de 58,9% em abril para 52,7% em maio. Foi a imagem negativa que mais caiu: ou seja, o gráfico é duplamente bom para Ciro. Sua imagem negativa foi a que mais caiu e a positiva, a que mais subiu.

Metade dos entrevistados (50%) disseram não ao impeachment de Bolsonaro, mas um número grande, perto de 40%, responderam que o congresso poderia decidir sim pelo impeachment.

A maioria dos brasileiros (54%) já é a favor da prisão do senador Flavio Bolsonaro, filho do presidente. Esse talvez seja o dado mais negativo para Bolsonaro, visto que ele se elegeu com uma retórica muito agressiva contra a corrupção.

Os dados sobre a reforma da previdência não são muito confortáveis para oposição, porque eles mostram que, entre os brasileiros  que se consideram “mais informados”, há maioria em favor da reforma.

Há também maioria bastante substantiva entre homens de apoio à reforma.

O gráfico acima é preocupante, porque os 43% que responderam apoiar o “contingenciamento” de verbas para educação é um percentual muito relevante. Em geral, a população não costuma aprovar esse tipo de coisa, o que mostra que o eleitorado de Bolsonaro permanece – em parte, ao menos – leal às decisões do presidente, mesmo aquelas impopulares.

 

Redação:
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.