Os protestos contra os cortes na educação sacudiram o tabuleiro político. Seu sucesso foi reconhecido até mesmo por expoentes da direita como o MBL e o Antagonista – com todo o respeito à palavra “expoentes”.
Jair Bolsonaro preferiu seguir viagem na sua louca nave que desbrava um universo paralelo a cada dia. Depois de chamar os manifestantes que encheram as ruas do país de idiotas úteis, o presidente disse que só viu “faixa de Lula Livre, mais nada”. Os toscos comentários foram proferidos a partir de Dallas, nos EUA, onde Bolsonaro recebeu um prêmio deveras duvidoso e, depois das bordoadas do prefeito de Nova York, fragorosamente esvaziado.
Se Bolsonaro estivesse no Brasil e resolvesse sair às ruas para uma averiguação – disfarçado, é claro – talvez percebesse que a liberdade de Lula esteve longe de ser a pauta central dos protestos. O foco foi mesmo a educação – e como é lindo ver a educação no foco do país, mesmo que seja em um momento defensivo.
A quantidade de estudantes que compareceu aos atos foi notável. Desde pré-adolescentes com seus uniformes do colégio até universitários com seus jalecos, todos unidos em uma balbúrdia só, restou evidente que o governo Bolsonaro começa a ser visto pelos jovens como o que de fato é: um inimigo mortal da educação.
Nada mais didático do que um governo de extrema-direita. Parece paradoxal, mas a ascensão de Bolsonaro ao poder pode ser o marco inicial da derrocada da onda conservadora.
O paradoxo é, afinal, apenas aparente. Ao assumir o poder central, o conservadorismo passou de pedra a vidraça. Suas visões de mundo estão sendo testadas pela afiada espada da realidade.
Como suas respostas para as demandas da sociedade transitam entre a nulidade e o agravamento dos problemas, a tendência é que um contingente de jovens cada vez maior posicione-se na oposição aos desmandos do executivo. Consequentemente, esses jovens tendem a cerrar fileiras no lado oposto da carcomida ideologia que agarra-se a um passado que nunca existiu, tremendo de medo das inevitáveis mudanças que são a tônica da existência. TFP e Senhoras de Santana revival é démodé demais.
Uma nova geração de alunos do Olavo que despontava tragicamente no horizonte pode, a partir do irremediável desastre que atende pelo nome de governo Bolsonaro, dar lugar a uma politização da juventude forjada nas ruas, nos debates e nas lutas.
Mesmo que seja apenas a materialização da terceira lei de Newton, não deixa de ser irônico que um governo de extrema-direita seja o responsável por fazer ressurgir um ambiente revolucionário e ativista na juventude brasileira.
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Outra ironia interessante é a suspeita do Ministério Público de que Flávio Bolsonaro comprou e vendeu diversos imóveis para lavar dinheiro – a valorização de alguns imóveis negociados supera, e muito, a valorização média dos imóveis na região. Os Bolsonaro saíram de seu papel marginal na política nacional diretamente para o núcleo do poder surfando na onda da criminalização da política e do antipetismo. A difundida crença de que os filhos de Lula possuem jatos, Ferraris, ilhas, a Friboi e o escambau é um bom retrato da insanidade ideológica que tomou conta do país. Eis a ironia: a fama é dos filhos de Lula, mas é o filho de Jair Bolsonaro quem deve explicações sobre os indícios de crimes apresentados pelo MP. Aguardemos as correntes de Whatsapp sobre os esquemas do Flavinho.